Suplemento alimentar infantil: em que casos é recomendado?

Fazer os filhos comerem bem é um desafio e, muitas vezes, entram em cena as vitaminas e minerais. Mas, até que ponto a suplementação é necessária?

Cintia Ferreira Publicado em 20.01.2021
Suplemento alimentar infantil: foto de uma bebê asiática, que veste rosa está com uma banana descascada na mão.
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Resumo

Não é nada fácil fazer os filhos comerem bem e, em muitos casos, entra em cena a suplementação alimentar. Mas será que os suplementos valem para todas as crianças? Como os pais podem promover uma boa alimentação em casa? Saiba mais nessa reportagem.

“Comer, comer, é o melhor para poder crescer”. Não à toa, a alimentação das crianças está entre as maiores preocupações dos pais. No início, o desafio é a amamentação. Depois, a introdução alimentar e todas as suas nuances. Aí, surge uma palavrinha na consulta de rotina ao pediatra: suplemento alimentar infantil.

O mais comum deles, o sulfato ferroso, faz parte da vida de quase toda criança na primeira infância. Mas, afinal, que suplementos alimentares são necessários nessa fase? E como dar conta de promover uma alimentação infantil saudável, rica e variada? 

Não há uma resposta simples para essas perguntas, mas que tal começarmos do início?

Os primeiros anos de vida

Eles nascem tão pequenininhos, que não dá para acreditar que, já no primeiro ano de vida, vão triplicar de peso e crescer cerca de 25 centímetros. Para este pequeno organismo funcionar em um ritmo acelerado é necessário que o bebê esteja recebendo todos os nutrientes adequados. 

“O mais importante é promover o aleitamento materno, pelo menos até os seis meses de vida. Além de prevenir a deficiência de vitaminas relacionadas ao crescimento, promove ganho de peso adequado e auxilia no processo de imunidade e desenvolvimento cerebral”, explica a nutricionista infantil, Luciana Carvalho. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda aleitamento exclusivo até os seis meses e complementar até dois anos ou mais. 

Quando entra em cena a introdução alimentar, os desafios aumentam. “A primeira infância é a fase na qual ocorre a formação do paladar das crianças. Ou seja, é quando devemos estimular o consumo de alimentos saudáveis e variados, visto que tais preferências alimentares persistem por toda vida”, detalha a especialista. Uma alimentação adequada promove o crescimento saudável, mas não só isso. “Vários estudos indicam que uma nutrição bem realizada reduz o risco de desenvolver obesidade e doenças cardiovasculares na fase adulta”, afirma.

F de ferro, F de força

Nessa dança de nutrientes, um dos mais importantes para o desenvolvimento infantil é o ferro. Ele é essencial na produção da hemoglobina, que leva oxigênio para as células do corpo. Auxilia ainda no desenvolvimento do sistema nervoso central e no combate à anemia ferropriva. Essa anemia é decorrente da privação ou deficiência de ferro, levando à uma diminuição da produção, tamanho e teor de hemoglobina.

“A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda a suplementação preventiva de ferro desde os três meses de vida – para os bebês nascidos acima de 37 semanas – indo até os dois anos de idade para aqueles que usam menos de 500ml de fórmula infantil por dia e que estão em aleitamento exclusivo ou não”, explica a nutricionista. Em bebês prematuros ou com baixo peso a suplementação já começa com 30 dias de vida. 

Mesmo em casos nos quais o aleitamento materno é feito de modo adequado, os pediatras costumam recomendar a inclusão do sulfato ferroso, justamente para prevenir esse tipo de anemia. Mas cada caso é um caso e somente o especialista pode indicar se o suplemento alimentar infantil é necessário ou não e até quando deve continuar. 

O ferro como suplemento alimentar infantil

A Carlise Kronbauer Vieira, de Porto Alegre, mãe da Natália, 5, conta que a filha nunca tomou suplementação de ferro. “Nunca tivemos dificuldade em manter uma nutrição adequada para ela, que sempre comeu de tudo e só agora começa a passar pela seletividade alimentar”, conta Carlise. 

No caso de Beatriz Domingos Machado, de São Paulo, mãe da Antonella, 2, a administração do ferro no cardápio foi mais complicada.  “Após um episódio de infecção gastrointestinal, a Antonella teve anemia. Com isso, foi preciso suplementar uma quantidade maior de ferro, além de colocar mais opções de alimentação ricas nesse nutriente”, conta.

“A introdução do sulfato ferroso foi justamente na época que se iniciaram as cólicas da bebê. Foi muito difícil, pois ela tinha fortes crises de choro”, detalha. Após orientação pediátrica e algumas adaptações, tudo correu bem. “Além disso, como costume mineiro (sou de Minas), sempre procuramos preparar as refeições em panela de ferro”, conta. 

D de disponível

Na continha da suplementação, um outro elemento importante é a vitamina D, que ajuda na absorção de cálcio e fósforo, atuando para fortalecer os ossos e no processo de crescimento. Auxilia também o sistema imunológico, metabólico, cardiovascular e muscular. O maior fornecedor desse tipo de nutriente é o sol. Por isso, e principalmente em um momento no qual as pessoas estão ficando cada vez mais em casa, pode ser necessária a suplementação.

A Sociedade Brasileira de Pediatria indica a suplementação desse nutriente desde a primeira semana de vida. “Mas antes da indicação de suplemento alimentar infantil, é importante avaliar a qualidade da alimentação e os exames bioquímicos para fazermos a suplementação de maneira adequada e eficiente”, explica a nutricionista. 

Lição de casa: comer bem

Hoje, na casa da Carlise, a maior dificuldade tem sido a seletividade alimentar da filha. “Embora a Natália adore comer frutas, não tome refrigerantes, nem coma alimentos com glúten (pois eu tenho intolerância ao glúten), há dias em que ela só quer comer feijão, ou só purê de batata, ou só macarrão. Apesar disso, minha filha está saudável, com tamanho e peso ideal para a idade”, conta. 

A Beatriz compartilha dessa angústia com a “exigência” maior da filha Antonella. “Sempre procurei colocar nas refeições todas as proporções de alimentos necessárias ao desenvolvimento. No início, a aceitação foi boa. Mas agora ela está no período de seletividade alimentar, escolhendo o que é mais agradável ao paladar e isso, às vezes, atrapalha no planejamento diário alimentar”, observa. 

Necessitando da suplementação ou não, os pais devem ter em mente que promover uma alimentação saudável tem que fazer parte do planejamento familiar. Isso vale para todas as famílias.

“A alimentação saudável pode e deve ser acessível a todos”

Da feira à mesa

“Dicas que sempre dou às mães: além de comprar no fim da feira, prefira sempre os alimentos da estação. Frutas, verduras e legumes da época são as melhores opções. São mais baratos, nutritivos e contêm menos agrotóxicos. Alimentos como ovo, sardinha, vegetais verde-escuro e leguminosas, como feijão e lentilha, são alternativas acessíveis e riquíssimas em vitaminas, especialmente ferro”, detalha a nutricionista Luciana Carvalho.


Em entrevista ao Lunetas, a nutricionista e apresentadora de TV, Gabriela Kapim, traz reflexões sobre a importância das escolhas alimentares como um investimento a longo prazo para a saúde das crianças, além de fornecer dicas para uma alimentação diversa, nutricionalmente rica e barata.

“A absorção dos nutrientes é mais eficaz pelo consumo dos alimentos do que quando há necessidade de medicação para suplementar, por exemplo. Priorizar a alimentação para obter boas fontes de vitaminas é fundamental. Vale lembrar que é importante consultar um especialista antes de pensar em usar por conta própria essas suplementações”, completa a nutricionista. 

Em resumo, é importante que os pais deem bastante atenção para a alimentação dos filhos, pois no arroz com feijão de todo dia não está só o crescimento, mas também um futuro melhor – e mais gostoso. 

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