Como lidar com as cólicas dos bebês?

Em momentos de crise, é preciso acolher os bebês, mas também apoiar as famílias

Camilla Hoshino Publicado em 26.10.2020
Cólicas dos bebês: um bebê chorando de maneira muito forte
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Resumo

O período de cólicas é comum a grande parte dos bebês e tem relação com a formação ainda imatura do sistema gastrointestinal. Nesse período, não apenas os bebês precisam de acolhimento mas também as mães e pais para poder confortá-los.

Quem já passou por cólicas menstruais ou renais talvez consiga imaginar a dor da cólica em um bebê, que sofre com contrações no pé da barriga. A diferença é que os pequenos não conseguem traduzir em palavras o que sentem, então, começam a corar as bochechas, retraem o corpo, se jogam para trás e desabam em choro. Pode ser que esse quadro se prolongue por bastante tempo, virando um momento dramático também para as famílias, que buscam caminhos para confortá-los.

“Como pais de primeira viagem, não sabíamos como acalmá-la e isso era angustiante. O choro forte, nitidamente de dor, que não cessava por minutos e até horas, nos deixava com uma sensação de impotência”, relata Paula Muraro, mãe de Elena, três meses. As cólicas da filha começaram com um mês e meio de idade, mais intensas no fim do dia. Depois de buscar muita informação, com auxílio do pediatra, a família percebeu que não havia receitas prontas, mas que colo, carinho e paciência eram a melhor combinação para aliviar os momentos de dor.  

Muitos pais relatam que é no fim da tarde que os bebês começam a chorar sem motivo aparente. Este é um momento conhecido como “hora da bruxa” – e tem mais a ver com demandas emocionais do bebê do que com sintomas físicos, como cólicas ou fome. 

Pediatras explicam que é comum, no fim de um longo dia de cuidados com os pequenos, as mães se sentirem esgotadas fisicamente e transmitirem, sem querer, essa descarga de estresse e cansaço aos bebês.

Esse sentimento de angústia diante das contrações dos filhos é bem conhecido por grande parte das famílias. Luiz Renato Valério, intensivista pediátrico do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR), explica que embora o perfil da dieta e a microbiota de cada bebê sejam fatores importantes para determinar a presença e a variação de intensidade da cólica, é comum que a maioria deles passe por essas crises nos primeiros três meses de vida, até adquirirem maturidade digestiva. 

“Mesmo que seja saudável e tenha boa formação, a criança nasce sem experiência digestiva, pois o líquido amniótico não exigia essa função do organismo”

Leite materno
Por conter grande quantidade de proteínas, carboidratos e gorduras, o leite materno impacta o sistema gastrointestinal ainda imaturo. Apesar disso, é o alimento mais elaborado para atender as exigências nutricionais do recém-nascido, por isso é indispensável. Mas a posição da mamada, de acordo com Luiz Renato Valério, pode influenciar na acumulação de gases, caso o bebê esteja com as vias aéreas obstruídas e engula ar junto com o leite. “Se a bolha de ar não se traduzir em arroto, ela vai chegar ao estômago e provocar bolhas intestinais que, em contato com os movimentos peristálticos, formam as cólicas”, descreve.  

O médico sugere que crianças saudáveis que recebem aleitamento materno suficiente e mamam na posição adequada têm menos chances de sofrer com cólicas intensas e duradouras. No caso de bebês que não têm acesso ao leite materno por algum motivo ou com choro persistente, a sugestão dele é consultar um profissional para avaliação individual. O uso de qualquer complemento alimentar ou medicamentos como antiespasmódicos, probióticos e analgésicos, devem ocorrer apenas se indicados e supervisionados pelo pediatra. 

Calor e contato

Se não existe resposta universal para acalmar as cólicas dos bebês, cada família vai encontrando o melhor jeitinho para acolher os filhos nesse período. Valério dá algumas dicas que podem ajudar nos momentos de crise. Uma delas é fazer um contato que provoque calor: pode ser de barriga para baixo, em atrito com a própria barriga da mãe ou com uma bolsinha de água morna – nesse caso, sempre cuidar para não encostá-la direto na pele do bebê por riscos de queimadura. 

Para Paula e Elena, por exemplo, o sling passou a ser um grande aliado nas horas de choro. “Ali, ela fica quentinha e bem próxima ao nosso corpo, sentindo-se protegida, além da posição ajudar muito”, diz. Nas crises mais intensas, a mãe alia o sling ao ruído branco e ao “tetê”, para suprir a necessidade de sucção durante a dor.   

Como parte importante do desconforto das crianças vem dos gases produzidos, a eliminação deles pode trazer alívio. Por isso, outra dica de Valério é massagear o abdômen do bebê com óleo de amêndoas em movimentos circulares ou fazer o movimento da “bicicletinha”, deitando a criança na posição normal e mexendo os pés dela em forma de pedaladas. 

“Dentro do possível, a família deve buscar um ambiente sereno, com luz menos intensa e se acalmar, já que a aflição dos pais pode atrapalhar emocionalmente os pequenos”, avisa o pediatra. Apesar disso, ele recorda que esse é um momento natural do desenvolvimento dos bebês, comum para todas as famílias recém-nascidas.   

Choro do bebê: é cólica?

“Muita gente traduz como cólica aquilo que eu gosto de chamar de choro existencial”

Maíra Duarte é terapeuta Ayurveda, doula e educadora perinatal. Mãe do Miguel, 14, Benjamin, 11 e Luna, 2,  ela relata que já colocou muito choro na conta das cólicas, mas que foi percebendo, com o tempo, que a adaptação extrauterina gera um excesso de estímulos para os bebês. “Temos que lembrar que eles estão passando por uma fase delicada de transição, pois chegar ao mundo é experimentar tudo pela primeira vez”, diz. Muitos toques, vozes, luzes, cheiros e gosto do leite materno: os cinco sentidos estão trabalhando a todo o vapor. 

Ao mesmo tempo, ela lembra que, principalmente para as mulheres, o período é de oscilações hormonais e sentimentais, portanto, de muita vulnerabilidade. Além disso, para as famílias com recém-nascidos, ficam evidentes as pressões causadas pela nova rotina, pelas opiniões e julgamentos alheios. Por ser muito dependente desse corpo, é natural que os pequenos sejam sensíveis às emoções da mãe. “Quantas vezes vi minha filha chorar o choro que eu não pude chorar?”. Esse olhar de interpretação do momento, segundo Maíra, ajuda as famílias a se conectarem com os filhos com calma, delicadeza e também se acolherem, abandonando sentimentos de culpa.  

“O choro faz parte da vida e, assim como o riso, é uma manifestação de extravasamento”

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