Comida que vira brinquedo: será que é bom para a criança?

Ensinar uma criança a comer nem sempre é uma tarefa simples, mas transformar a comida em brinquedo pode não ser a melhor saída

Da redação Publicado em 25.05.2016
Cercada por árvores, uma menina segura duas cenouras em cima da cabeça, fingindo que são chifres. Duas crianças dão risada, uma de cada lado

Resumo

Embora os jogos possam criar bons momentos em família e contribuir para a criança sentir-se parte do processo da comida, a especialista Mayra Abbondanza acredita que há um limite.

Ensinar uma criança a comer nem sempre é uma tarefa simples. Para superar esse desafio, famílias tentam de tudo, inclusive transformar – de forma muito criativa e divertida, sem dúvida – a comida em brinquedos. Mas será que essa solução é realmente boa para a introdução alimentar e a formação do hábito alimentar da criança?

Mayra Abbondanza, consultora em alimentação infantil, faz um contraponto à estratégia: “quando o adulto faz e entrega a escultura pronta, é algo criado a partir do olhar do adulto, não da criança”. Para ela, o hábito alimentar da criança se desenvolve a partir de seu “empoderamento e envolvimento no processo da alimentação, a partir do vínculo com o adulto, e de uma linguagem lúdica”, não do oposto.

“Os pais querem decidir o quanto e o quê a criança vai comer, e as crianças decidem onde e quando. Mas isso não cabe às crianças (decidir).

“A criança olha o prato e fala ‘não quero’, mas ela não sabe o que é, não é algo que ela entende”

A consultora sugere, muito mais do que entregar algo pronto, o melhor caminho para educar crianças a comer de maneira saudável e equilibrada é criar oportunidades para envolvê-las e incluí-las no momento e no ato de comer diariamente.

“Acho legal a criança sentar com a mãe e com o pai e participar da decisão da compra, do menu, e também de ajudar a por a mesa e tirar a mesa. Acho bacana quando a criança é convidada a montar o prato, dessa forma, ela está participando”, afirma Mayra.

E os jogos e brincadeiras?

Jogos e brincadeiras com esse mesmo propósito, envolver no momento de comer, também podem ajudar. Mas isso é diferente de usar os alimentos como brinquedos.

Uma das dicas de Mayra, por exemplo, é usar ímãs na geladeira com vários tipos de alimentos – e à altura dos olhos das crianças- para que elas mesmas possam montar os pratos com os alimentos que querem comer.

Há também o desafio do prato: a cada ingrediente que a criança coloca no prato ela ganha uma carta. Ao final do jogo, ganha quem tiver mais cartas. O jogo pode conter regras como bônus para quem comer algo novo, ajudar a tirar a mesa, comer mais.

“Você tira o foco do ‘tem que comer’ e cria um jogo”

Brincadeira na hora da comida, qual o limite?

Embora os jogos possam criar bons momentos em família e contribuir para a criança sentir-se parte do processo da comida, a especialista acredita que há um limite tênue.

“A hora de brincar, pode até ser com comida, mas não vive versa. Comer não é brincar. Tem que tomar muito cuidado com a brincadeira paralela não tirar o foco da hora da alimentação. Ela pode existir para dar leveza, mas há um limite”, disse.

A leveza da relação com a comida e com o momento de comer também é muito importante. “O que percebo nas famílias é que: se os pais tem uma relação bacana com a alimentação, a criança também tem”.

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