Ensinar uma criança a comer nem sempre é uma tarefa simples, mas transformar a comida em brinquedo pode não ser a melhor saída
Embora os jogos possam criar bons momentos em família e contribuir para a criança sentir-se parte do processo da comida, a especialista Mayra Abbondanza acredita que há um limite.
Ensinar uma criança a comer nem sempre é uma tarefa simples. Para superar esse desafio, famílias tentam de tudo, inclusive transformar – de forma muito criativa e divertida, sem dúvida – a comida em brinquedos. Mas será que essa solução é realmente boa para a introdução alimentar e a formação do hábito alimentar da criança?
Mayra Abbondanza, consultora em alimentação infantil, faz um contraponto à estratégia: “quando o adulto faz e entrega a escultura pronta, é algo criado a partir do olhar do adulto, não da criança”. Para ela, o hábito alimentar da criança se desenvolve a partir de seu “empoderamento e envolvimento no processo da alimentação, a partir do vínculo com o adulto, e de uma linguagem lúdica”, não do oposto.
“Os pais querem decidir o quanto e o quê a criança vai comer, e as crianças decidem onde e quando. Mas isso não cabe às crianças (decidir).
“A criança olha o prato e fala ‘não quero’, mas ela não sabe o que é, não é algo que ela entende”
A consultora sugere, muito mais do que entregar algo pronto, o melhor caminho para educar crianças a comer de maneira saudável e equilibrada é criar oportunidades para envolvê-las e incluí-las no momento e no ato de comer diariamente.
“Acho legal a criança sentar com a mãe e com o pai e participar da decisão da compra, do menu, e também de ajudar a por a mesa e tirar a mesa. Acho bacana quando a criança é convidada a montar o prato, dessa forma, ela está participando”, afirma Mayra.
Jogos e brincadeiras com esse mesmo propósito, envolver no momento de comer, também podem ajudar. Mas isso é diferente de usar os alimentos como brinquedos.
Uma das dicas de Mayra, por exemplo, é usar ímãs na geladeira com vários tipos de alimentos – e à altura dos olhos das crianças- para que elas mesmas possam montar os pratos com os alimentos que querem comer.
Há também o desafio do prato: a cada ingrediente que a criança coloca no prato ela ganha uma carta. Ao final do jogo, ganha quem tiver mais cartas. O jogo pode conter regras como bônus para quem comer algo novo, ajudar a tirar a mesa, comer mais.
“Você tira o foco do ‘tem que comer’ e cria um jogo”
Embora os jogos possam criar bons momentos em família e contribuir para a criança sentir-se parte do processo da comida, a especialista acredita que há um limite tênue.
“A hora de brincar, pode até ser com comida, mas não vive versa. Comer não é brincar. Tem que tomar muito cuidado com a brincadeira paralela não tirar o foco da hora da alimentação. Ela pode existir para dar leveza, mas há um limite”, disse.
A leveza da relação com a comida e com o momento de comer também é muito importante. “O que percebo nas famílias é que: se os pais tem uma relação bacana com a alimentação, a criança também tem”.
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