5 livros para falar sobre educação midiática com as crianças

Em tempos de notícias falsas e excesso de telas, defender a educação midiática e literária é ensinar crianças a entenderem melhor o mundo e suas leituras

Januaria Cristina Alves Publicado em 30.10.2024
Imagem de capa para matéria sobre educação midiática mostra uma mulher branca, de roupa vermelha e cabelos presos, sentada no sofá, segurando um livro e entre duas crianças ao lado.
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Resumo

Reconhecer o que é de verdade e ler os textos e contextos de um mundo acelerado são essenciais para educar crianças conscientes. Para isso, a escritora e educomunicadora Januária Cristina Alves compartilha com o Lunetas cinco opções de leitura sobre educação midiática.

Como educar as crianças para viver e entender um mundo inundado de desinformação? Um mundo no qual as fronteiras entre a mentira e a verdade são tênues e é difícil reconhecer imagens, áudios e mensagens até das pessoas mais próximas. Como educá-las, então, para que façam “perguntas inquietas” a respeito do que acontece ao seu redor? Ou para que sejam céticas (e não cínicas!) diante da primeira informação que acessam na internet? E, ainda, que sigam curiosas e empoderadas para fazer suas escolhas ao longo da vida?

Com certeza não temos uma resposta única, mas um conjunto de instrumentos que podem auxiliar na formação desse leitor consciente e crítico. Assim, ele será capaz de encontrar alternativas inteligentes para resolver os problemas do seu tempo. Para mim, dois deles são essenciais nessa empreitada: a educação literária e a educação midiática.

Como dizia o mestre Paulo Freire, a leitura do mundo é “a competência das competências” e esse exercício pode ser realizado cotidianamente, por meio da leitura literária de todos os gêneros e da leitura de notícias ou de conteúdos informativos.

“A formação cuidadosa do raciocínio crítico é a melhor maneira de vacinar a próxima geração contra a informação manipuladora e superficial, seja em textos ou telas.” – Mayanne Wolf, neurocientista americana

Wolf diz que “numa cultura que premia a imediatez, a facilidade e a eficiência, o longo tempo e o esforço que se exigem para desenvolver todos os aspectos do pensamento crítico fazem dele uma entidade combatida”. Ela reforça, em seu livro “O cérebro no mundo digital” (Ed. Contexto), a importância da leitura em um mundo inundado por telas.

Desse modo, é preciso educar nossas crianças para a leitura do mundo em que vivem, e para que sejam capazes de ler os textos, subtextos e contextos. Para que questionem o que eles revelam e o que escondem. O desinteresse pelas notícias por parte dessa nova geração aponta, dentre outras coisas, uma desconexão com a realidade em detrimento das fantasias rápidas e rasteiras propiciadas pelos vídeos curtos. A educação midiática e a literária podem, nesse sentido, ser instrumentos preciosos para que se conectem verdadeiramente com experiências concretas. Ou seja, aquelas que os farão crescer e amadurecer para serem protagonistas do seu tempo.

Para começar, que tal ler alguns livros inspiradores?

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1. “Perguntas Inquietas”, Beatriz Martin Vidal (Editora Pulo do Gato)

O título deste livro – que pode ser lido por crianças de todas as idades, assim como pode ter ou não a mediação de um adulto – faz jus ao seu conteúdo. Isso porque traz perguntas inquietantes, que desacomodam e fazem pensar. Partindo de contos de fadas conhecidos, a autora nos convoca a questionar coisas óbvias, mas que talvez nunca tenham passado pela nossa cabeça. Em Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, surge a pergunta “O que terá aprendido no tempo em que esteve lá dentro, nas profundezas do grande, grande, lobo feroz?”. Assim, para formar leitores críticos e conscientes, é preciso ensinar-lhes, desde sempre, a fazer perguntas.

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“Ugh! Um relato do Pleistoceno”, Rafael Yockteng e Jairo Buitrago (Solisluna Editora/ Selo Emília)

Talvez “Urg!” nos conte a verdadeira história de como nasceram as narrativas. Por isso, este livro de imagens, que enche os olhos com as cenas impactantes do também autor Rafael Yockteng, retrata uma tribo nômade em busca de uma caverna para fugir do inverno rigoroso durante a época do Pleistoceno. Ao longo do caminho, observamos uma jovem mulher que presta atenção a tudo o que acontece. É ela que, ao chegar na caverna, vê naquelas paredes o lugar ideal para registrar o que viu e viveu. A obra nos faz pensar que pode ter sido assim nossa primeira experiência de ler e entender o mundo!

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3. “O rei e o homenzinho”, K.G. Subramanyan (Baião)

Um livro para as infâncias. Com certeza esta é uma boa definição para essa fábula sobre a embriaguez do poder das mídias. Além disso, mostra como é fácil perder o senso e o sentido quando se olha apenas para o próprio umbigo. A história de um rei que queria chamar mais atenção do que as belezas da natureza, em contraponto a um “homenzinho” que, ao invés de falar dele mesmo, falava sobre outras coisas. Dessa maneira, ele provoca uma reflexão tão urgente quanto necessária sobre o valor das experiências vividas em oposição àquelas assistidas. Tão atual que dispensa maiores explicações.

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4. “Esquadrão Curioso: Caçadores de fake news”, Marcelo Duarte e Caco Bressane (Panda Books)

Uma das poucas obras infantis que abordam diretamente o tema das fake news. Esse livro de Marcelo Duarte, o mesmo autor do famoso “Guia dos Curiosos”, e com ilustrações de Caco Bressane, conta as aventuras de uma turma de crianças que resolvem criar o Esquadrão Curioso. Tudo para desvendar as notícias falsas que circulam nas redes sociais. Além disso, a turma extrapola as páginas do livro, pois aparece também em um podcast de acesso gratuito. Uma opção criativa para trabalhar a educação midiática em casa e na escola.

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5. “Papo reto e papo curvo”, de João Luiz Guimarães e Rosinha (Editora do Brasil)

Inteligente e divertida, essa obra é sobre “a notícia e o livro”, como ela é fugidia e ele, permanente. Em tempos de fake news, que se propagam como o vento mas tem deixado marcas concretas por onde passam, “Papo reto e papo curvo” é um delicioso convite para descobrir o duplo sentido de muitos termos relacionados à notícia. Na forma de texto e imagens, provoca uma reflexão, a partir desse jogo metafórico, sobre a função da notícia na Era da (Des)Informação. Entre o fluido e o perene é importante conversar com as crianças o valor dos conteúdos que nos ajudam a tomar decisões mais conscientes.

*Januária Cristina Alves é mestre em Comunicação Social pela ECA/USP, jornalista, educomunicadora, autora de mais de 50 livros infantojuvenis, duas vezes vencedora do Prêmio Jabuti de Literatura Brasileira, co-autora do livro “Como não ser enganado pelas fake news” e autora de “#XôFakeNews – Uma história de verdades e mentiras”. É colunista do Nexo Jornal e membro da Mil Alliance, a Aliança Global para Parcerias em Alfabetização Midiática e Informacional da Unesco.

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