O que o caso de Shantal mostra sobre violência obstétrica?

Influenciadora amplia discussão sobre violência obstétrica e desrespeito à autonomia da mulher no trabalho de parto

Da redação Publicado em 11.01.2022
Na foto, uma mulher cobre o rosto com as mãos, deitada em uma cama de hospital. A imagem está em preto e branco e possui intervenções de rabiscos nas cores laranja e vermelho.
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Resumo

Vítima de violência obstétrica, a influenciadora Shantal Verdelho amplia a discussão sobre o tema após denunciar o ginecologista Renato Khalil.

Com áudios e vídeos vazados em dezembro, o relato de violência obstétrica sofrido por Shantal Verdelho, influenciadora digital e empresária, repercutiu ao longo do mês. Ela conta sobre agressões físicas e verbais cometidas pelo ginecologista Renato Khalil, além de quebra de sigilo médico por ter exposto sua intimidade durante o procedimento e ter revelado o sexo da criança sem sua autorização.

Reconhecida em 2014 pela OMS (Organização Mundial da Saúde), a violência obstétrica (VO) engloba uma série de fatores, como abusos verbais e físicos, proibir a presença de acompanhante, procedimentos médicos não consentidos, violação de privacidade, recusa em administrar analgésicos, imposição de cesarianas sem autonomia de escolha, negligência médica, entre outros. A VO também está atrelada a falhas estruturais de clínicas, hospitais e do sistema de saúde como um todo, podendo fazer da experiência do parto um momento traumático para a mulher ou o bebê. 

Segundo a biomédica Tatiana Henriques, em artigo para o Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro, a prevalência de violência obstétrica tem variado entre 18,3% a 44,3%, mas ainda há “falta de consenso em relação ao termo utilizado, dificuldade de mensuração, poucas evidências sobre as consequências da violência obstétrica na saúde materno-infantil e, por fim, falta de políticas públicas para coibir esses atos”.

Mãe de dois, Shantal realizou uma cesariana no parto do primeiro filho, Filippo, e optou pelo parto normal e humanizado para Domenica, nascida em setembro de 2021. Em um trabalho de parto que durou 48 horas, das quais 12 foram passadas no hospital, Shantal revela que as últimas duas horas tiveram uma “mudança de clima”, com o médico e/ou equipe tentando obrigá-la a consumir medicamentos arriscados devido à cesariana prévia, fazer manobra de Kristeller (aplicação de pressão no útero contraindicada), realizar episiotomia (procedimento não recomendado que consiste em uma incisão no períneo), e tentar abrir a vagina da paciente, a chamando de “teimosa” por não acatar o procedimento. Também entra em debate a necessidade da autonomia no parto, pois Khalil sugeria a episiotomia diretamente para Mateus, marido e acompanhante de Shantal no parto, a ignorando como se a decisão não fosse unicamente dela.

“Quando a gente viu o vídeo foi que caiu a ficha mesmo. Só que vendo todos os relatos que foram aparecendo depois, de histórias iguais ou piores, eu vi que o buraco era mais embaixo”

Como denunciar violência obstétrica?

É necessário reunir todos os documentos que remetem ao parto, como prontuário médico, cartão da gestante, plano de parto, exames, contratos e recibos, caso o procedimento seja realizado na rede privada. Depois, é recomendado que a vítima redija um relato do ocorrido, detalhando o que sofreu e como a violência a impactou, seja no período de gestação, no parto ou pós-parto.

A denúncia pode ser feita no próprio hospital, clínica ou maternidade em que a vítima foi atendida. Também na secretaria de saúde responsável pelo estabelecimento (municipal, estadual ou distrital) e nos conselhos de classe – Conselho Regional de Medicina (CRM) para médicos ou Conselho Regional de Enfermagem (COREN) para enfermeiros ou técnicos de enfermagem. É possível também ligar para o Disque 180 ou Disque 136. Caso o atendimento seja feito por plano privado de saúde, está disponível o 0800-701-9656, da Agência Nacional de Saúde Suplementar.

O caso de Shantal foi denunciado e levado a inquérito para apurar os possíveis crimes: dano psicológico da vítima, divulgação de imagens de nudez e crime de injúria. O caso segue pendente de conclusão das investigações pelo Ministério Público.

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