Quais as principais vacinas para crianças maiores de dez anos?

Muitas famílias acreditam que o cuidado com a vacinação se resume à primeira infância, mas a imunização continua sendo fundamental para crianças mais velhas

Cintia Ferreira Publicado em 03.02.2025
Imagem de capa para matéria sobre vacinação para crianças maiores de dez anos mostra uma menina adolescente branca, de cabelos longos castanhos mostrando o braço com um curativo de vacina.
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Resumo

Caderneta de vacinação não é coisa apenas de bebês e crianças pequenas. Saiba quais as vacinas necessárias após os 10 anos e como identificar se o calendário vacinal está em dia.

Embora muitas pessoas associem as vacinas à primeira infância, crianças mais velhas também precisam de imunização. Prova disso é a atual busca ativa da prefeitura de São Paulo por meninos e meninas de 10 a 14 anos para atualizar a vacinação contra a dengue neste período de retorno às aulas. Mas, a questão principal de manter as vacinas em dia após a pré-adolescência é a queda da chamada “memória imunológica”, que acontece ao longo dos anos. “À medida que as crianças crescem, elas continuam expostas a diferentes doenças, algumas das quais podem ser prevenidas por vacinas”, explica a imunologista e pneumologista Larissa Cau Carlet.

“Após os 10 anos, é normal que a imunidade conferida por algumas vacinas diminua com o tempo.”

A médica esclarece que a vacina é eficiente justamente porque cria essa memória imunológica. Porém, ela não dura para sempre e, por isso, a necessidade de reforçar. Um exemplo é a proteção contra o tétano, difteria e coqueluche, que precisa de doses de reforço em idades específicas.

Diagnóstico em adolescentes podem ser mais difíceis

Sem atualização, existe o risco de alta da doença, como ocorreu recentemente com a coqueluche. Até novembro de 2024, o Ministério da Saúde notificou 3.253 casos da doença, o que levou a ser o ano com mais ocorrências desde 2014.

A jornalista Mariana Barros viveu esse conflito com o filho de 15 anos. Ela conta que passou por três ou quatro médicos até descobrir que ele estava com coqueluche. “A gente chegava e imitava como era a tosse, que é a principal característica da doença. Mesmo assim, foi bem difícil conseguir o diagnóstico”, diz.

Apesar de vacinado quando bebê, o adolescente passou pela queda na imunização. Mariana acredita que muitos profissionais têm dificuldade de lidar com essa faixa etária, já que o adolescente está numa espécie de limbo: não é nem adulto, nem criança. “Seria bom se o governo pudesse recolocar essa vacina para os pré-adolescentes e adolescentes no calendário do SUS”, defende a mãe.

Atualmente, a vacina tríplice bacteriana, que protege do tétano, difteria e coqueluche, está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para as crianças menores de cinco anos. Isso porque são o grupo de risco para casos mais graves da doença. Depois, as pessoas recebem a vacina contra tétano e difteria a cada 10 anos, mas sem a imunização contra a coqueluche.

A justificativa oficial para essa prática é que a imunização completa, quando criança, permite que casos de coqueluche não sejam tão graves. Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) tenha recomendações a respeito do calendário de imunizações, cada país tem liberdade para montar seu próprio cronograma.

Quais as vacinas que as crianças com dez anos ou mais devem tomar?

Diante desse cenário, é comum que as famílias fiquem em dúvida sobre quais vacinas ainda são necessárias após os dez anos de idade. A imunologista Larissa Cau Carlet explica o que é recomendado, atualmente, pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI):

  • Reforço da dT (difteria e tétano) ou DTPa (difteria, tétano e coqueluche);
  • Vacina contra HPV (para meninas e meninos de 9 a 19 anos, dependendo do esquema);
  • Vacina meningocócica ACWY ou B, dependendo da região ou recomendação médica;
  • Vacina contra Hepatite A e B (caso o esquema não tenha sido completo na infância);
  • Vacina contra gripe (Influenza) anualmente;
  • Vacinas contra COVID-19;
  • Vacinas tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola, varicela) e tríplice viral (sarampo, caxumba, rubéola);
  • Algumas vacinas adicionais podem ser indicadas para crianças e adolescentes com condições específicas de saúde em situações de surtos regionais.

Atenção à caderneta de saúde

Após os 10 anos, a criança recebe outra caderneta de vacinação, agora com orientações e cuidados sobre as mudanças para a adolescência. A imunologista ressalta a necessidade da família continuar acompanhando este novo documento, de acordo com o calendário do PNI. Além disso, em caso de dúvidas, basta uma visita ao posto de saúde do SUS ou a um centro de vacinação particular.

Caso a caderneta esteja incompleta ou perdida, o médico ou o posto de saúde podem orientar sobre as vacinas recomendadas de acordo com a faixa etária. “Geralmente, não é necessário realizar testes laboratoriais para avaliar a imunidade e a vacinação pendente é simplesmente atualizada”, explica Larissa.

Imagem mostra duas cadernetas de vacinação para adolescentes.
Após os 10 anos, é hora de trocar a caderneta de saúde da criança para a de adolescente. Também disponível nos postos de saúde, o material contém informações sobre desenvolvimento saudável, puberdade e acompanhamento de vacinas.

Como identificar se está faltando algum imunizante?

Mesmo com as consultas e vacinas em dia, as famílias devem observar os sinais que podem indicar algum problema relacionado a uma baixa na imunização. “Quando há uma queda da imunidade, com sinais de infecções de repetição, é preciso ir a um imunologista”, sugere a imunologista.

Dependendo do tipo de falha imunológica e riscos de infecções envolvidas, pode ser necessário um reforço vacinal “ou até mesmo a aplicação de outros tipos de vacina, não comuns à população geral, como antipneumocócicas e antivaricela-zoster”, explica.

“É importante lembrar que a vacinação é uma das ferramentas mais eficazes para proteger a saúde individual e coletiva”, alerta Larissa. Portanto, manter o calendário vacinal atualizado ajuda a prevenir doenças graves e reduz a circulação de vírus e bactérias na comunidade.

Outro ponto é que as vacinas valem para todas as fases da vida, incluindo adolescência, idade adulta e, especialmente, a população idosa, que sofre uma queda natural da imunidade. Por isso, sempre que houver dúvidas, as famílias devem procurar orientação médica ou um posto de saúde. “A vacinação é um ato de amor e cuidado”, resume a imunologista.

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