Baixa vacinação é uma das principais causas da ocorrência dessa infecção respiratória, que pode ser mais grave em bebês pequenos
Os surtos de casos de coqueluche em vários países chamou a atenção das autoridades de saúde pública. No Brasil, os casos vêm aumentando, inclusive entre as crianças. A principal forma de prevenção ainda é a vacinação dos bebês, gestantes e profissionais da saúde.
Conhecida como “tosse comprida”, a coqueluche é uma infecção respiratória contagiosa, que oferece risco direto a crianças pequenas, principalmente bebês recém-nascidos. Embora nas últimas décadas a vacinação tenha reduzido sua incidência, a coqueluche voltou a chamar a atenção da saúde global. Isso porque, desde o ano passado, pelo menos 17 países na Europa registraram surtos da doença. Só nos três primeiros meses deste ano foram mais de 32 mil casos no continente, sendo a maioria entre crianças menores de um ano.
No Brasil, o aumento dos casos se concentra principalmente nas regiões sudeste e sul. Em São Paulo, por exemplo, foram 139 registros desde janeiro até o início de junho. Isso representa um aumento de mais de 700% em relação ao ano passado. Ao mesmo tempo, no Paraná, o aumento foi de 500%, segundo a secretaria de saúde do estado. Por isso, autoridades da saúde pública alertam para a importância da vacinação das crianças e gestantes.
“A coqueluche é uma doença altamente contagiosa. As crianças podem contrair ao entrar em contato próximo com alguém que esteja infectado, especialmente se não estiverem vacinadas”, explica a médica Marcela Rodrigues.
Causada pela bactéria Bordetella pertussis, a transmissão acontece a partir do contato direto de uma pessoa doente com uma pessoa não vacinada, principalmente pelas gotículas expelidas por tosse ou espirros. Outro fator secundário é a contaminação por objetos já infectados, principalmente copos e talheres. “Para as crianças, o risco é particularmente alto em ambientes fechados como escolas, creches e em casa”, afirma Rodrigues. A doença fica incubada entre cinco a dez dias até aparecerem os primeiros sintomas.
O sintoma mais evidente da coqueluche é a tosse intensa e incontrolável, especialmente em crianças. “Esses episódios de tosse podem ser tão severos que levam a vômitos e à exaustão”, diz a médica. São duas as intensidades de sintomas:
Sintomas leves
Sintomas avançados
Fonte: Ministério da Saúde
De acordo com a médica Marcela Rodrigues, medidas para evitar a transmissão incluem higiene das mãos, ambiente limpo e “etiqueta respiratória”. Isto é, cobrir a boca e o nariz com um lenço ou com a parte interna do cotovelo ao tossir e espirrar.
Mas, o fator mais importante é procurar a vacina Pentavalente ou Penta, que é o imunizante contra a coqueluche. Ela faz parte do esquema vacinal básico das crianças, sendo aplicada em bebês de dois, quatro e seis meses. As três doses, portanto, completam a imunização. Contudo, a partir de um ano de idade, é necessário aplicar a dose de reforço, contida na vacina DTP. Essas vacinas também protegem contra difteria, tétano e hepatite B. As doses estão disponíveis nos postos de saúde do SUS e nas clínicas particulares, custando, em média, R$ 230.
Mulheres grávidas ou puérperas também precisam manter a vacinação atualizada como estratégia de proteção para o recém-nascido. A indicação do Ministério da Saúde é a vacina dTpa adulto para gestantes entre a 20ª e a 34ª semanas, ou após 45 dias do parto.
Embora a coqueluche acometa principalmente bebês, uma pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco apontou que, segundo estudos internacionais, 25% dos casos de tosse persistente em adolescentes e adultos estão associados à coqueluche. Além disso, muitos casos acabam sendo sub-notificados, o que leva as crianças menores a correr mais risco.
“Chegar ao diagnóstico de coqueluche em adolescentes, por exemplo, é mais demorado porque não é comum a ocorrência da doença nesta fase. Assim, outras hipóteses são pesquisadas pelos profissionais. Por isso é importante manter as vacinas em dia”, alerta Rodrigues.
Para garantir uma imunização mais eficiente, a médica enfatiza que pessoas de todas as idades precisam fazer a dose de reforço dez anos após a última aplicação da vacina, geralmente feita entre 9 e 10 anos de idade. Porém, “se o esquema vacinal estiver incompleto, é necessário urgente uma dose de dTpa em qualquer idade e a dT (dupla bacteriana adulto), para totalizar três doses de vacina”.
Em junho, o Ministério da Saúde divulgou uma nota técnica com recomendações emergenciais para que profissionais da saúde e assistência social investiguem os casos confirmados e ampliem a cobertura vacinal para a população. Também é importante imunizar os próprios profissionais da saúde, parteiras tradicionais e profissionais de cuidados intensivos neonatal, além de familiares e pessoas que trabalham em creches e berçários.
Essa medida visa gerar o chamado “efeito casulo”, ou seja, criar uma rede de proteção contra a doença entre todos aqueles que têm contato direto com crianças menores de quatro anos. “Como os recém-nascidos são mais suscetíveis a complicações graves e até fatais da coqueluche, pois não podem receber a vacina antes dos dois meses de idade, isso os deixa desprotegidos”, diz Rodrigues. Então, “o efeito casulo gera uma barreira de imunidade, que reduz significativamente a chance de exposição do bebê ao vírus”.