O que você precisa saber sobre o aumento de casos de coqueluche?

Baixa vacinação é uma das principais causas da ocorrência dessa infecção respiratória, que pode ser mais grave em bebês pequenos

Célia Fernanda Lima Publicado em 24.06.2024 Atualizado em 04.07.2024
imagem para matéria sobre coqueluche mostra uma menina branca de cabelos lisos e castanhos tossindo com a mão cobrindo a boca
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Resumo

Os surtos de casos de coqueluche em vários países chamou a atenção das autoridades de saúde pública. No Brasil, os casos vêm aumentando, inclusive entre as crianças. A principal forma de prevenção ainda é a vacinação dos bebês, gestantes e profissionais da saúde.

Conhecida como “tosse comprida”, a coqueluche é uma infecção respiratória contagiosa, que oferece risco direto a crianças pequenas, principalmente bebês recém-nascidos. Embora nas últimas décadas a vacinação tenha reduzido sua incidência, a coqueluche voltou a chamar a atenção da saúde global. Isso porque, desde o ano passado, pelo menos 17 países na Europa registraram surtos da doença. Só nos três primeiros meses deste ano foram mais de 32 mil casos no continente, sendo a maioria entre crianças menores de um ano.

No Brasil, o aumento dos casos se concentra principalmente nas regiões sudeste e sul. Em São Paulo, por exemplo, foram 139 registros desde janeiro até o início de junho. Isso representa um aumento de mais de 700% em relação ao ano passado. Ao mesmo tempo, no Paraná, o aumento foi de 500%, segundo a secretaria de saúde do estado. Por isso, autoridades da saúde pública alertam para a importância da vacinação das crianças e gestantes.

“A coqueluche é uma doença altamente contagiosa. As crianças podem contrair ao entrar em contato próximo com alguém que esteja infectado, especialmente se não estiverem vacinadas”, explica a médica Marcela Rodrigues.

Veja as principais informações sobre a doença e sua prevenção

Como a coqueluche é transmitida?

Causada pela bactéria Bordetella pertussis, a transmissão acontece a partir do contato direto de uma pessoa doente com uma pessoa não vacinada, principalmente pelas gotículas expelidas por tosse ou espirros. Outro fator secundário é a contaminação por objetos já infectados, principalmente copos e talheres. “Para as crianças, o risco é particularmente alto em ambientes fechados como escolas, creches e em casa”, afirma Rodrigues. A doença fica incubada entre cinco a dez dias até aparecerem os primeiros sintomas.

Quais os principais sinais de coqueluche?

O sintoma mais evidente da coqueluche é a tosse intensa e incontrolável, especialmente em crianças. “Esses episódios de tosse podem ser tão severos que levam a vômitos e à exaustão”, diz a médica. São duas as intensidades de sintomas:

Sintomas leves

  • Mal-estar geral
  • Coriza
  • Tosse seca
  • Febre baixa

Sintomas avançados

  • Tosse severa e descontrolada
  • Vômito ou cansaço extremo
  • Comprometimento na respiração

Fonte: Ministério da Saúde

Como prevenir?

De acordo com a médica Marcela Rodrigues, medidas para evitar a transmissão incluem higiene das mãos, ambiente limpo e “etiqueta respiratória”. Isto é, cobrir a boca e o nariz com um lenço ou com a parte interna do cotovelo ao tossir e espirrar.

Mas, o fator mais importante é procurar a vacina Pentavalente ou Penta, que é o imunizante contra a coqueluche. Ela faz parte do esquema vacinal básico das crianças, sendo aplicada em bebês de dois, quatro e seis meses. As três doses, portanto, completam a imunização. Contudo, a partir de um ano de idade, é necessário aplicar a dose de reforço, contida na vacina DTP. Essas vacinas também protegem contra difteria, tétano e hepatite B. As doses estão disponíveis nos postos de saúde do SUS e nas clínicas particulares, custando, em média, R$ 230.

Mulheres grávidas ou puérperas também precisam manter a vacinação atualizada como estratégia de proteção para o recém-nascido. A indicação do Ministério da Saúde é a vacina dTpa adulto para gestantes entre a 20ª e a 34ª semanas, ou após 45 dias do parto.

Adolescentes podem ter coqueluche? 

Embora a coqueluche acometa principalmente bebês, uma pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco apontou que, segundo estudos internacionais, 25% dos casos de tosse persistente em adolescentes e adultos estão associados à coqueluche. Além disso, muitos casos acabam sendo sub-notificados, o que leva as crianças menores a correr mais risco. 

“Chegar ao diagnóstico de coqueluche em adolescentes, por exemplo, é mais demorado porque não é comum a ocorrência da doença nesta fase. Assim, outras hipóteses são pesquisadas pelos profissionais. Por isso é importante manter as vacinas em dia”, alerta Rodrigues. 

Para garantir uma imunização mais eficiente, a médica enfatiza que pessoas de todas as idades precisam fazer a dose de reforço dez anos após a última aplicação da vacina, geralmente feita entre 9 e 10 anos de idade. Porém, “se o esquema vacinal estiver incompleto, é necessário urgente uma dose de dTpa em qualquer idade e a dT (dupla bacteriana adulto), para totalizar três doses de vacina”.

O que está sendo feito?

Em junho, o Ministério da Saúde divulgou uma nota técnica com recomendações emergenciais para que profissionais da saúde e assistência social investiguem os casos confirmados e ampliem a cobertura vacinal para a população. Também é importante imunizar os próprios profissionais da saúde, parteiras tradicionais e profissionais de cuidados intensivos neonatal, além de familiares e pessoas que trabalham em creches e berçários.

Essa medida visa gerar o chamado “efeito casulo”, ou seja, criar uma rede de proteção contra a doença entre todos aqueles que têm contato direto com crianças menores de quatro anos. “Como os recém-nascidos são mais suscetíveis a complicações graves e até fatais da coqueluche, pois não podem receber a vacina antes dos dois meses de idade, isso os deixa desprotegidos”, diz Rodrigues. Então, “o efeito casulo gera uma barreira de imunidade, que reduz significativamente a chance de exposição do bebê ao vírus”.

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