Coletivo DiCampana em parceria com o Lunetas captou os sentimentos de famílias e educadoras das escolas na volta às aulas
Qual sentimento impera no primeiro dia de aula de uma escola de Educação Infantil? E de Ensino Fundamental? Quais são as expectativas e como se preparam educadores e famílias? O Coletivo DiCampana visitou escolas em São Paulo para sentir como é o primeiro dia de aula.
Fevereiro chegou e com ele uma coisa em comum acontece para muitas crianças brasileiras que vivem em centros urbanos: as férias escolares acabam e inicia-se um novo ano letivo. Já abordamos aqui no Lunetas algumas das questões que envolvem a experiência e essa época do ano, e agora queremos entender as emoções do primeiro dia de aula.
É o período que os pais se assustam com os valores das listas de material escolar, é quando os gestores reveem o projeto político pedagógico das escolas e também quando os pequenos ficam mais vulneráveis a infecções pelo contato com outras crianças em ambientes fechados.
Agora, a proposta é falar sobre os sentimentos que envolvem este começo de ciclo. Mas, desta vez, em imagens. Em parceria com o Coletivo de fotografia DiCampana, visitamos três escolas públicas na cidade de São Paulo para sentir as emoções de todos os atores envolvidos neste primeiro dia: as famílias, as crianças e os colaboradores das escolas.
A escola, que atende crianças do primeiro ao quinto ano, ficou conhecida em 2014 por organizar o Dia de Quem Cuida de Mim para substituir o Dia dos Pais e das Mães. Conhecida por valorizar competências como empatia e tolerância, a instituição preparou um café da manhã para acolher as famílias no primeiro. Inserida no PEI (Programa de Ensino Integral do Estado de São Paulo) a escola contam com jornada de estudos de até nove horas e meia.
A estudante Kawany Nataly Soares, de 10 anos, está no 5º ano e disse ter aprovado a ideia do café. “Eles estão querendo saber se os pais estão gostando da escola. Eu esperava algo mais simples, não esperava que a escola estivesse assim tão arrumada, mudaram bastante coisa”, conta surpresa.
Adriana Quimera de Oliveira já é uma mãe veterana. Tem uma filha no segundo ano e um filho que saiu ano passado. “Vim conhecer a nova a professora para entender se ela vai dar continuidade ao trabalho do ano passado”, explicou. Ela também ficou feliz com a ideia do café da manhã no primeiro dia de aula e disse ter se sentido acolhida.
Outra ação para deixar as famílias ainda mais à vontade foi um relaxamento guiado. Era só chegar e fazer. A diretora da escola explica que a ideia da equipe foi de propiciar uma energia positiva para que os pais se sintam seguros em deixar os filhos na escola em período integral. “A primeira impressão é a que fica. Não é simples deixar o filho aqui o dia todo, é preciso confiança”, disse. As imagens são do fotojornalista José Cícero da Silva.
“Mamãe, estou sentindo meu coração explodir e não consigo entender o que é”. Foi assim que o pequeno Matias, de três anos, descreveu o que estava sentindo em conhecer sua nova escola. A mãe, Magda Figueiredo, respondeu: “Isso se chama felicidade, aproveite seu dia, brinque bastante e divirta-se”. Ela conta que conversou muito com seu filho sobre as mudanças que ele viveria.
Localizada no bairro do Limão, zona norte da cidade de São Paulo, a Emei Nelson Mandela atende crianças de quatro a seis anos e é uma referência de sucesso para a educação pública, com projetos premiados no combate ao racismo e pela inclusão. Este ano, as classes foram criteriosamente nomeadas com nomes de mulheres negras brasileiras que foram importantes para a história do Brasil.
A coordenadora pedagógica Marina Bastos afirma que o primeiro dia de aula é uma preparação que leva muitos dias. “Tudo é pensado para este acolhimento. Todas as pessoas envolvidas têm que acolher umas às outras: as crianças acolhem as professoras, as professoras acolhem as crianças, a gestão acolhe as famílias e as famílias também nos acolhem. Quando as famílias se sentem acolhidas e seguras, elas também transmitem essa segurança para as crianças e quando chega o primeiro dia, esta relação se torna muito mais tranquila. A confiança entre as pessoas envolvidas é primordial neste começo”, descreve. As imagens são do fotojornalista Léu Britto.
Historicamente, a Infante Emef Dom Henrique é conhecida por receber muitas crianças imigrantes de diversos países, sobretudo bolivianas – 23% de um total de 562 estudantes são de outro país, sendo que 90% destas são da Bolívia; há também uma minoria de países como Angola, Nigéria e China.
Claudio Neto, diretor da escola pontua isso como um desafio para o primeiro dia de aula. “Além da ansiedade normal de qualquer criança, a gente enfrenta também mais essa peculiaridade adicional, de receber crianças que chegam de países distantes. Uma escola nova, um país novo, uma cultura muito distinta”.
Quando um estrangeiro chega na escola é recebido por uma comissão de alunos que fica responsável por ajudá-lo a se familiarizar com os espaços e com as regras da instituição. O imigrante também é convidado a contar mais sobre seu país e suas vivências.
Em 2017, a instituição recebeu o convite da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para participar de um programa mundial de escolas associadas. Todas as escolas ligadas à Unesco compartilham um calendário de atividades comuns relacionadas aos direitos humanos. No caso da EMEF Infante Dom Henrique, essa preocupação está declarada já nas suas paredes, tomadas por lambes com frases de resistência.
O primeiro dia tem uma organização diferenciada. Os pais entram na sala com os alunos e as professoras se apresentam. “Essa dinâmica vai fazendo com a que a criança comece a se adaptar, mas a adaptação total mesmo vai acontecer em umas duas semanas. Tem também o conhecimento dos espaços da escola, enfim, é uma experiência de conhecer novos mundos”, explica a assistente de direção Erica Dias. As imagens são do fotojornalista Gsé Silva.
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