Paulo Gustavo vira estrela em livro dedicado aos filhos

Em forma de homenagem, autor do livro se propôs a criar uma história que ajudasse Gael e Romeu entenderem onde o pai está

Laís Barros Martins Publicado em 04.08.2021
Capa do livro “Nosso pai é uma estrela”, Omar Rosário. Há uma ilustração de Paulo Gustavo usando chapéu sobre uma estrela amarela.
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Resumo

Movido pela identificação com o que Paulo Gustavo representava para a comunidade LGBTQIA+, autor cria uma história infantil para ajudar a contar aos filhos do ator com Thales Bretas por que não encontram mais o pai em canto algum da casa.

Gael e Romeu têm dois pais. Quando um deles desaparece, os meninos o procuram por todos os cômodos da casa: “na sala, na cozinha, embaixo da cama, na piscina, na sacada, no banheiro, na escada”. Mas o pai não está em lugar nenhum.

Essa é a história inventada por Omar Rosário no livro “Nosso pai é uma estrela” (Invisível), dedicado aos filhos de Paulo Gustavo e Thales Bretas, que ajuda a contar para as crianças que, não, o pai não sumiu. Ele agora é uma estrela que “brilha lá no céu”, de onde seguirá amando e cuidando deles, sempre.

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Reprodução Instagram

Gael e Romeu, filhos de Paulo Gustavo e Thales Bretas, recebem o livro “Nosso pai é uma estrela” em stories divulgado na rede social do médico. Na publicação, o viúvo do ator agradeceu o presente: “Muito fofo o livro que Gael e Romeu ganharam do Omar Rosário. Obrigado pelo carinho, eles amaram”, escreveu.

Fã da crítica “inteligentemente engraçada e pela via do absurdo” que havia nos personagens interpretados pelo ator e humorista, Omar sente a perda da referência que Paulo Gustavo representava também para a comunidade LGBTQIA+: “O fato de ele assumir abertamente uma relação homoafetiva bem-sucedida e ter os dois filhos mais fofos do universo, toca em mim de uma forma mais pessoal”.

É esse um dos motivos por que o artista visual procura combater a ideia de padrão em suas narrativas, “seja padrão comportamental, padrão familiar, padrão sexual, ou qualquer outro”, apresentando às crianças as diferenças que existem no mundo, incluindo as diferentes configurações familiares a partir da literatura infantil.

“Quanto antes mostrarmos com naturalidade a diversidade para as crianças, maior a chance de eliminar o preconceito, o racismo e a homofobia”

Para destacar aquilo que está à margem, Omar opta por objetos rejeitados, sem utilidade, encontrados no lixo e em bazares de reuso como suporte para suas criações, que misturam pintura, fotografia e literatura. “Há referências do marginal, do estranho, do periférico, do excluído, como um reflexo do nosso contexto político, religioso e sociocultural”, afirma.

À frente da editora que fundou, com foco em livros ilustrados que tratam de assuntos que normalmente são reprimidos, como a codependência nas relações, a busca pela identidade e a importância de respeitar as diferenças, Omar compartilha o sentimento de tristeza que predominou durante o processo de escrita e concepção desse projeto. “Doía. Não era bom. Mas eu imaginava como deveria ser confuso para Romeu e Gael conviver com a falta do Paulo – daquela voz, daquele carinho, daquela presença. Se para mim era horrível, imaginei para eles. E foi por isso que eu criei o livro. Para tentar ajudar nesse momento, e para retribuir um pouco todo o bem que o trabalho do Paulo me fez, e faz”.

Capa do livro “Nosso pai é uma estrela”, Omar Rosário. Há uma ilustração de Paulo Gustavo usando chapéu sobre uma estrela amarela.

“Nosso pai é uma estrela”, Omar Rosário (Invisível) Esse livro foi feito para presentear Romeu e Gael, filhos de Paulo Gustavo e Thales Bretas. É dedicado a eles e também à Déa Lucia Amaral, mãe do ator, e à irmã, Juliana Amaral, bem como “a todas as pessoas que sentirão eternas saudades do fenômeno Paulo Gustavo”.

Apesar do livro falar sobre morte, há leveza nas cores e em simbologias amorosas, “como acho que o Paulo trataria o assunto também”, acredita Omar. Por meio da obra, Gael e Romeu poderão acessar uma forma concreta de lembrarem que as memórias do pai, uma das vítimas da covid-19 em nosso país, ainda estão presentes em detalhes do dia a dia.

Num primeiro momento, o livro não seria comercializado. Mas, diante do interesse das pessoas em comprá-lo, Omar teve a ideia de criar um financiamento coletivo, “para beneficiar também outras crianças, não apenas Romeu e Gael”, diz. Após conversas com a família do humorista, a organização Remanso Fraterno foi escolhida para receber o lucro obtido com a campanha.

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