Parques naturalizados: o brincar livre em uma cidade mais verde

A proposta de trazer mais verde para as cidades aumenta os espaços de convívio e oferece mais opções para as crianças brincarem em meio à natureza

Da redação Publicado em 03.11.2021
Na foto, duas crianças brincam entre troncos de árvores. A imagem possui uma intervenção de moldura na cor rosa.
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Resumo

Além de incentivar o brincar livre durante a infância, a convivência entre as famílias e o vínculo com a natureza, os parques naturalizados ampliam a rede de áreas verdes urbanas e reduzem a desigualdade de acesso a equipamentos de lazer de qualidade.

Substituir o cinza predominante em grandes cidades por áreas mais verdes é uma das estratégias que temos não só para garantir a qualidade do ar que respiramos, mas também para ajudar a regular o clima do nosso planeta.

Para trazer qualidade de vida aos moradores e lidar com a emergência climática, cidades começam a apostar em soluções para que a natureza ocupe mais espaços, públicos e privados. Os parques naturalizados são uma dessas apostas: ao aproveitarem a topografia, os ecossistemas originais e os recursos naturais disponíveis no território (troncos, folhas, sementes, galhos, pedras, água, terra), favorecem a naturalização dos espaços de lazer, o brincar livre das crianças, a convivência entre as famílias e o vínculo com a natureza.

Os brinquedos, mobiliários e instalações são pensados a partir de elementos naturais, encorajando experiências sensoriais e motoras mais desafiadoras, que estimulam a criatividade de crianças com e sem deficiência, de todas as idades, gêneros, classes sociais e etnias. A disposição dos materiais e estruturas nos parques naturalizados são dinâmicas, podem ser mudadas de lugar e ressignificadas, levando em conta as necessidades das crianças e deixando-as livres para inventarem suas próprias brincadeiras.

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José Leon

Microparque em Fortaleza (CE)

Os parques naturalizados são áreas multifuncionais, que podem ser implantadas de forma simples e barata, ampliando a rede de áreas verdes urbanas, trazendo às grandes cidades mais espaços de convívio ao ar livre e diminuindo a desigualdade de acesso a equipamentos de lazer de qualidade. 

Para conectar as pessoas e aumentar seu engajamento na preservação, planejar esses lugares requer o envolvimento de quem vai usá-los. Eles podem ser criados em espaços como escolas, condomínios, praças, parques, clubes e em terrenos antes abandonados, em um sistema híbrido de compromisso entre a comunidade e a prefeitura.

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Lila Barbosa

Jardim das brincadeiras do SESC Interlagos (São Paulo - SP)

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Gustavo Faria

Jardim das brincadeiras do SESC Interlagos

Pesquisas apontam que os parques naturalizados representam uma estratégia de sucesso frente ao desafio de oferecer espaços acessíveis às crianças onde seja possível encontrar outras crianças, brincar de forma independente e passar tempo do lado de fora”, comenta a engenheira florestal Bebel Barros, pesquisadora do programa Criança e Natureza. Ela destaca que “esses espaços podem ser reconhecidos como soluções baseadas na natureza, pois proporcionam benefícios ambientais, sociais, econômicos, e ajudam a construir a resiliência e a enfrentar as crises ambientais que estão postas.”

Onde estão os parques naturalizados?

Após a experiência do projeto piloto Fortaleza Mais Verde, voltado à recuperação de espaços degradados e expansão de áreas verdes em Fortaleza (CE), que resultou nos microparques naturalizados José Leon e Seu Zequinha, a prefeitura pretende levar a iniciativa para 40 novas áreas, já mapeadas.

“A construção desses dois microparques ampliou nossa visão para locais abandonados, cheios de lixo que, com criatividade, intervenções rápidas e a baixo custo, podem ganhar uma função”, diz Mariana Gomes, arquiteta e planejadora urbana da prefeitura de Fortaleza.

“Os parques foram montados com a participação ativa das pessoas que irão utilizá-los, em especial das crianças. Elas mostravam que brinquedos fazer e como seguir a partir do que criavam, de como se movimentavam e como usavam os elementos que já estavam ali”, conta Guilherme Blauth, consultor de brincadeiras e espaços naturais que prestou assessoria e treinamento para as equipes da prefeitura.

Outras prefeituras ligadas à Rede Urban95, uma iniciativa da Fundação Bernard Van Leer com apoio do Instituto Cidades Sustentáveis, como Niterói (RJ), Jundiaí (SP) e Caruaru (PE), também devem instalar parques naturalizados em breve, demonstrando o interesse por iniciativas que conjuguem a “renaturalização” de seus territórios com benefícios para as infâncias.

Criança e Natureza O programa Criança e Natureza é uma iniciativa do Instituto Alana para conectar todas as crianças com a natureza, para a saúde e o bem-estar da infância e do planeta.

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