Oscar 2024: o mundo fantástico e sombrio de ‘O menino e a garça’

Vencedor do Oscar de melhor animação explora a vida do diretor japonês e traz lições da própria existência a partir do luto e das conexões com as pessoas

Célia Fernanda Lima Larissa Fernandes Publicado em 11.03.2024
Imagem de uma cena do filme 'o menino e a garça' mostar um menino branco de cabelos curtos usando uma camisa clara e com arco e flecha nas mãos ao lado de uma garã cinza e azul.
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Resumo

Com os sucessos “A viagem de Chihiro" e "Meu amigo Totoro", o diretor japonês Hayao Miyazaki e sua forma de contar histórias complexas de maneira delicada venceu o Oscar com a animação “O menino e a garça”.

Com um passeio pelas fases do luto vivido por Mahito, 12, “O menino e a garça” (Studio Ghibli) levou o Oscar 2024 de melhor animação, na cerimônia deste domingo (10), em Los Angeles. A história do protagonista que perde a mãe após um incêndio, no contexto do Japão durante a Segunda Guerra Mundial, também venceu o Globo de Ouro e o Bafta de Cinema mês passado.

Além da morte, Mahito vai enfrentar os desafios após mudar de casa, de Tóquio para o campo. Ele ainda precisa se adaptar a uma nova composição familiar, com uma tia casada e grávida de seu pai. Assim, ele começa a desbravar um mundo fantástico e colorido, que assusta e encanta na mesma medida. Tudo guiado por uma garça cinza falante, que é metade animal, metade humana. A princípio pouco amigável, a garça aos poucos vai se tornar uma grande companheira.

“Crie um mundo onde prevaleça a generosidade, a paz e a beleza”

Com “O menino e a garça”, o diretor Hayao Miyazaki renova sua forma de contar histórias delicadas, com temas universais e personagens cativantes. Miyazaki é responsável por sucessos como “A viagem de Chihiro“, vencedor do Oscar 2003, e “Meu amigo Totoro”. As produções em 2D são feitas tradicionalmente pelo Studio Ghibli, do Japão. Para ele, “a verdadeira ferramenta de um animador é um lápis”. “O menino e a garça” está disponível em alguns cinemas brasileiros, e tem classificação indicativa de 12 anos.

As referências que inspiraram ‘O menino e a garça’

Dez anos após anunciar a aposentadoria, o diretor Hayao Miyazaki lança “O menino e a garça” com a proposta de revisitar o passado e suas conexões. A afirmação veio do fundador do Studio Ghibli, Toshio Suzuki, em entrevista ao The Hollywood Reporter. “A história é basicamente introspectiva. Mas Miyazaki é muito bom em criar equilíbrio. Assim, quando começa a ficar sombrio, ele soube trazer algo brilhante. Ficou muito claro que queria contar a história de sua vida”, disse. Segundo críticas, o filme revela a relação do diretor com a figura materna, a velhice e o luto, porque leva a um caminho de despedida dele como artista.

Além disso, o longa tem referências de outras produções do Studio Ghibli, que costuma colocar seus protagonistas diante de grandes desafios de sobrevivência. Na história de Chihiro, por exemplo, a menina precisa desfazer o feitiço que assombrou seus pais e voltar à vida normal. Já em “Princesa Mononoke”, o príncipe Ashitaka luta entre deuses da floresta e humanos de uma vila de mineiros que exploram a natureza. “Eu gosto de romper padrões. Histórias lógicas sacrificam a criatividade”, contou o próprio Miyazaki, em uma das raras entrevistas que concedeu nos últimos anos.

Outra referência que a imprensa apontou foi com a obra “Como você vive?”, do autor japonês Genzaburo Yoshino, e título original da animação. Ele é diretamente referenciado na cena em que o protagonista olha o livro deixado pela mãe. Embora não seja uma adaptação, a narrativa literária conduz a essência do filme, com mensagens profundas sobre a amizade, o bem viver entre as pessoas e a conexão dos sentimentos.

“⁠Se o destino deste mundo é ser uma bela joia ou uma abominação, isso depende de você”

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