‘Cajuína’: pelo direito de levar os filhos em eventos acadêmicos

Quer levar seu bebê ou criança pequena em um evento acadêmico? O Observatório Cajuína luta por inclusão da maternidade na ciência e te ajuda a fazer isso

Da redação Publicado em 08.10.2019
Foto de uma sala com várias pessoas sentadas na cadeira. No chão da sala, uma mulher sentada com as pernas cruzadas e uma criança sentada no chão com a cabeça em sua perna
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Resumo

O Observatório Cajuína luta contra dados que são a realidade de muitas mulheres brasileiras, o abandono da carreira profissional após a maternidade. Para isso, elas formaram um coletivo que ajuda mães a incluírem os filhos em eventos científicos. Saiba mais.

O Observatório Cajuína – Mulheres, ciência e comportamento é um coletivo de mulheres (algumas mães e outras não) criado com o intuito de refletir sobre sobre a experiência de ser mulher. “Bando de psicólogas, analistas do comportamento. que se conheceram na labuta. Os filhos foram chegando, e a exclusão… até que se reencontraram nessa solidão, se juntaram com outras que formaram uma rede de apoio”, assim se define o grupo. Elas lutam pelo direito de pesquisadoras levarem seus filhos (bebês ou não) em eventos científicos, como simpósios, congressos, apresentações de mestrado, bancas de TCC, entre outros.

Como funciona o Observatório Cajuína?

Se você se encaixa nesse perfil ou conhece mulheres que passam ou já passaram pela situação, entenda como funciona. Basta escrever para o projeto, informando o nome do evento em questão e o contato da comissão organizadora do mesmo. A partir daí, é possível reivindicar, junto à comissão, uma estrutura compatível com a participação de crianças. Assim, o Cajuína atua diretamente com as instituições de ensino para garantir que a pauta da inclusão das mães e das crianças seja contemplada.

A solicitação pode ser de qualquer lugar do Brasil, de qualquer área da pesquisa, incluindo também eventos internacionais. Dentre os requerimentos das mães, está o aumento da tolerância e também questões práticas como trocadores de fralda nos banheiros e salas de amamentação. Além disso, elas também atentam para a sensibilidade necessária diante daquilo que chamam de “imprevisibilidade gerada pela presença de uma criança”, problematizando o fato de que a nossa cultura normalizou a exclusão dos pequenos.

Confira os principais pontos listados

Estruturas mínimas

  • Aceitação de bebês e crianças em sala de aula;
  • Sala para ordenha e amamentação (de preferência, um espaço frequentado apenas por mulheres);
  • Trocador acolchoado;
  • Livre acesso aos locais do evento, sem custo adicional, para um acompanhante que seja da família do bebê ou funcionário (a) da família;
  • Garantia de livre amamentação em todos os locais do evento;
  • Diretrizes claras antes do evento de qual será a estrutura disponível.

Estruturas ideais

  • Espaço kids com tapetes de EVA e presença de monitores;
  • Acesso à cozinha do local para uso de microondas;
  • Acesso à pia limpa para higienização do equipamento de ordenha e dos utensílios do bebê;
  • Acesso a frigobar ou refrigerador para armazenamento de leite materno ou de comida do bebê;
  • Que o hotel do evento possua quartos com berço para que pais possam se hospedar no mesmo local ou que existam parcerias com hotéis próximos que tenham berços disponíveis;
  • Que o hotel do evento tenha quartos com frigobar ou que existam parcerias com hotéis próximos que possuam.

Uma das ações do grupo é uma carta aberta à comunidade científica, onde elas expõem a situação de muitas mulheres que se veem divididas entre dois papéis, e que muitas vezes se afastam da academia em função da intolerância e  impossibilidades que atravessam essa jornada dupla.

“Existem mães solo, existem mães sem rede de apoio, existem crianças que não conseguem ficar com outras pessoas por muito tempo pelos mais variados motivos. Portanto, excluir crianças significa excluir mulheres”, diz o manifesto.

Maternidade e a área acadêmica

Em um estudo realizado pela bióloga Fernanda Staniscuaski e ainda inédito em publicação, ela analisa o impacto da maternidade na produção de mães da área acadêmica. A pesquisa aponta que cerca de 81% das mães afiram que ter um filho afeta negativamente a carreira. Os dados do estudo foram apresentados em 2018 em um evento da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe).

Para evitar que o medo da exposição as impeça de se manifestar, é garantido o sigilo das mulheres. Além do site onde publicam textos sobre o assunto e artigos de opinião, o Cajuína está no Facebook e no Instagram, canais onde compartilham iniciativas bem-sucedidas da inclusão de crianças na ciência, e também mapeiam empresas e organizações que se propõem a oferecer espaços acolhedores para mães, bebês e crianças.

O nome do projeto faz alusão à música “Cajuína”, de Caetano Veloso, mais especificamente ao refrão “existirmos: a que será que se destina?”. A ideia é justamente esta, pensar coletivamente sobre a implicação de ter um corpo de mulher em uma sociedade que ainda relega a ela lugares de exclusão e silenciamento.

“Perdi muitas palestras, assisti outras pela metade, e passei bastante tempo indo e vindo do meu hotel para dar conta desses dois papéis de mãe e profissional, não foi nada fácil e muito desgastante”, conta a psicóloga Tatiany Porto ao Cajuína. Assista abaixo à fala da psicóloga Vanessa Oliveira, em que ela comenta sobre o sentimento de exclusão vivenciado pelas mulheres após se tornarem mães.

“De todas as angústias com as quais me deparei ao me tornar mãe, a perda da autonomia foi das mais perturbadoras”

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