‘No Colo’ convida bebês a viverem experiência artística no museu

Idealizadas pela consultora em arte e educação, Diana Tubenchlak, atividades promovem inclusão de famílias com crianças no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo

Camilla Hoshino Publicado em 12.11.2019
Foto de uma mulher em pé no museu segurando um bebê. Ambas estão olhando para um quadro cheio de texturas, formas e cores que está pendurado na parede.
OUVIR

Resumo

Idealizado pela consultora em arte e educação Diana Tubenchlak o projeto “No Colo” convida famílias com bebês de até 18 meses a viverem uma experiência artística no museu. Acessibilidade, mediação e ação criadora são elementos chave nesse processo.

Quem associa passeios culturais com bebês a chororô, distração, fraldas sujas e desconforto está convidado a conhecer o projeto “No Colo”, que tem recebido crianças de até 18 meses e suas famílias em atividades, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. “Por aqui temos visto olhos que brilham, mãos que descobrem, sorrisos, muita concentração, cara de curiosidade, ouvidos atentos e muita, muita harmonia coletiva e sintonia”, descreve a idealizadora do projeto e consultora em arte e educação, Diana Tubenchlak.

Ela explica que um dos pressupostos que orienta as ações do programa é a relação entre crianças, mães, pais e cuidadores, que têm a possibilidade de mediar as produções artísticas expostas e também aquelas que podem ser realizadas pelos próprios bebês. E para que esse diálogo tátil e visual aconteça, objetos como visores, tecidos, tintas, vestuários e outros estímulos são deixados à disposição das famílias, a partir de uma proposta diferente a cada encontro.

“É preciso entender que os bebês se comunicam com o mundo por meio de vários sentidos”, diz.

Image

Istock

Famílias mediando a interação entre bebês e obras de arte

Por isso a multissensorialidade como outro pressuposto que busca expandir as percepções sensoriais dos participantes. Ao final das oficinas, as famílias podem detalhar e compartilhar suas impressões sobre o que foi sentido. “Convidamos bebês e suas famílias a viverem uma experiência artística”, destaca Diana.

Ação criadora

Experimentar a ação e descobrir pela participação: o dinamismo diante das exposições estimulado por Diana Tubenchlak ecoa de certa maneira as vozes do movimento neoconcreto na arte brasileira, uma ruptura que marcou os anos 1950 e buscou interromper a distância entre espectadores e obras de arte.

Mais uma inspiração para os encontros do programa “No Colo”, que incentiva a participação corporal, chamando o público para a ação criadora, assentada na crença de que as instituições culturais são espaços de potência pedagógica, capazes de proporcionar autonomia e descobertas.

Imagine só: refletir sobre os modos de viver e ocupar o litoral brasileiro diante de textos, pinturas, fotografias, móveis e canções. Em “Aprendendo com Dorival Caymmi – civilização praieira”, além dos materiais que compunham a exposição em cartaz, os bebês tiveram a oportunidade de fazer um percurso por elementos vindos da praia – areias, conchas e pedras. Enquanto isso, os adultos foram convidados a produzir “garrafinhas do mar”, que foram entregues às crianças.

Um dos fatores que garante essa movimentação, de acordo com Diana, é a acessibilidade, isto é, a garantia de aparelhos culturais preparados para acolher as famílias, desde a adaptação de espaços para estacionar carrinhos, trocadores, mas também, a formação de uma equipe de profissionais sensibilizados com os desafios da maternidade e da paternidade. “

Quando mulheres se sentem confortáveis para amamentar nesses locais, por exemplo, elas voltam ao instituto e se inscrevem em outras atividades oferecidas”, afirma.

Acessibilidade nos museus

De acordo com dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 2010, 93% da população brasileira nunca viu uma exposição de arte e 70% nunca entrou num museu. “E quem são as pessoas excluídas dos equipamentos culturais?”, indaga Diana. Essa resposta levou o Núcleo de Cultura e Participação do Instituto Tomie Ohtake, a criar, em 2015, um programa de acessibilidade, com o objetivo de promover ações para democratizar o acesso às ofertas culturais.

Um museu para todos, sem exceção. A ideia incentiva, cada vez mais, a inclusão de públicos que não eram frequentadores do instituto: pessoas com diversos tipos de deficiência (auditiva, visual, intelectual, neuromotora e múltiplas), pessoas em situação de vulnerabilidade social, como idosos, jovens em medida socioeducativa, pessoas abrigadas, mulheres vítimas de violência doméstica e também famílias com filhos pequenos. Neste contexto nasceu as ações do programa No Colo, implementadas a partir de 2016.

Diana Tubenchlak conta mais sobre as vivências com as famílias no artigo “Bebês nas exposições de arte: encontros, experiências e compartilhamentos”, parte da publicação Mediações acessíveis: ciclo de encontros sobre acessibilidade em espaços de educação e cultura, produzida pelo Instituto Tomie Ohtake. O material discute, entre outros temas, estratégias de ampliação, diversificação e engajamento de públicos por parte dos museus, que vêm sofrendo transformação em relação ao seu perfil e papel na sociedade.

Image

divulgação Instituto Tomie Ohtake

Image

divulgação Instituto Tomie Ohtake

Image

divulgação Instituto Tomie Ohtake

Image

divulgação Instituto Tomie Ohtake

Image

divulgação Instituto Tomie Ohtake

Image

divulgação Instituto Tomie Ohtake

Image

divulgação Instituto Tomie Ohtake

Image

divulgação Instituto Tomie Ohtake

Image

divulgação Instituto Tomie Ohtake

Image

divulgação Instituto Tomie Ohtake

Image

divulgação Instituto Tomie Ohtake

Image

divulgação Instituto Tomie Ohtake

Image

divulgação Instituto Tomie Ohtake

Image

divulgação Instituto Tomie Ohtake

Image

divulgação Instituto Tomie Ohtake

Arte para bebês

Mas, o pontapé que inspirou Diana a mergulhar nos diálogos multissensoriais com os pequenos aconteceu anos antes, em 2007, quando a artista dinamarquesa Anna Marie Holm desenvolveu, no Brasil, o trabalho “Baby art: os primeiros passos com a arte”, se tornando um marco para pensar sobre o potencial da arte na primeira infância, com crianças de zero a três anos.

Criadora do conceito “arte para bebês”, ela sugere que bebês sejam artistas e experimentem texturas, formas, cores e sentimentos através da descoberta dos sentidos. Aqui, o importante é tanto a experiência do bebê, quanto o material físico, fruto dessa experiência.

“Os pequenos nos convidam a experimentar.
Eles têm a arte dentro de si.
Eles criam arte.
Eles nos dizem algo.
Algo que perdemos.
Algo atraente e sedutor.
Algo que reconhecemos.
E que não podemos explicar.
Tudo é muito maior.
Para as crianças pequenas existe uma conexão direta entre vida e obra.
Essas são coisas inseparáveis.”

(Trecho do livro “Baby-Art: os primeiros passos com a arte”, de Anna Marie Holm)

“No Colo” e o início da experiência cultural

Para que iniciativas dessa natureza possam reverberar, Diana Tubenchlak acredita que seja essencial a construção de pontes entre escolas e instituições culturais. “Arrisco dizer que a escola pode e deve ser uma promotora da vida cultural dos estudantes, seja por meio de visitas aos museus com as turmas, ações que convidem famílias, estudantes e professores a frequentarem esses locais ou pela formação continuada dos profissionais da Educação Infantil.”

Essa perspectiva é discutida pela educadora em “Um pé em cada canoa: professores de artes entre museus e escolas”, dissertação de mestrado em Artes Visuais, pela Unesp – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

Partindo da premissa de que a Educação Infantil é indissociável da arte, o projeto “No Colo” também desenvolve ações pensando na inserção de bebês até 18 meses em espaços de arte e cultura a partir da formação de professores de creches e escolas, educadores e outras pessoas interessadas pelo tema.  É o caso do curso “Arte para (ou com) crianças pequenas – Compartilhamento de experiências do No Colo”, que pensa como transportar a proposta pedagógica realizada dentro do museu para os ambientes cotidianos destes profissionais.

Diante dos retornos que Diana tem recebido tanto por parte das famílias, que se sentem confortáveis e encorajadas a levar os bebês ao museu, quanto por parte de professores e suas novas ações inspiradas em No Colo, o famoso imperativo “filho, para de fazer arte”, associado aos perigos e traquinagens dos pequenos, vai ganhando novos olhares. Ao contrário, incentivar, experimentar, brincar e produzir são palavras que passam a estimular outro “fazer arte”, fortalecendo essa experiência tão importante para a infância, num diálogo cheio de sensações e surpresas.

Comunicar erro
Comentários 1 Comentários Mostrar comentários
REPORTAGENS RELACIONADAS