Mais parques, praças e o direito de brincar para todas as crianças

Cidades que priorizam a infância devem promover reformas e adaptações para garantir o brincar livre em lugares de lazer

Célia Fernanda Lima Publicado em 29.05.2025
Imagem mostra duas crianças brincando em um parquinho
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Resumo

Olhar para os direitos das crianças é também garantir mais espaços públicos adaptados para que todas possam brincar livres e com segurança em seus bairros e cidades.

Ouvir as crianças e considerar o direito de brincar foi o primeiro passo para repensar os espaços públicos de dois bairros: Sumaré, em Sobral (CE), e Jardim Novo Horizonte, em Jundiaí (SP). O chão cinza, um canteiro mal cuidado e um fluxo intenso de carros se transformaram na Praça da Primeira Infância, com brinquedos, calçadas mais amplas, bem sinalizadas e cheias de cores. Além de crianças se movimentando com mais segurança a caminho da escola de educação infantil do município cearense. O mesmo aconteceu com as reformas de praças e parquinhos no interior paulista. Esses lugares ganharam mobiliário adaptado para crianças cadeirantes, com Transtorno do Espectro Autista e área para bebês.

“O ideal seria que crianças e adolescentes tivessem mais oportunidades para brincar livre, ter independência e responsabilidade”, diz Maria Isabel Barros, especialista em infância e natureza do Instituto Alana. Além de contribuir com o desenvolvimento saudável desses grupos, espaços públicos de lazer bem cuidados e acessíveis garantem mais conexão com a comunidade.

“Cidades pensadas para as crianças tendem a ser melhores para todos”

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Mikaelly Arruda / Prefeitura de Sobral

Em Sobral (CE), um espaço de grande circulação de veículos perto de uma escola se transformou na Praça Primeira Infância. As intervenções do Movimento Urban95 permitiram as crianças brincarem com segurança.

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Fotógrafos PMJ / Prefeitura de Jundiaí

A cidade de Jundiaí (SP) também ganha mais espaços ao ar livre para crianças e famílias, como o Parque Naturalizado de Novo Horizonte.

Ter um espaço de lazer: do sonho ao documentário

Ver os brinquedos quebrados no parquinho da Praça do Campo Limpo, distrito da zona sul de São Paulo, inquietou Thiago Vinícius. “É uma violência ver a única área de lazer do bairro destruída”, diz. Membro da associação de moradores da Agência Solano Trindade, que fomenta a arte e a economia das periferias, ele mobilizou outras pessoas e agentes públicos para reformar o local.

Essa articulação foi documentada no curta-metragem “Brincar é direito”. A produção acompanhou a comunidade durante um ano, registrando desde o sonho do Thiago até a praça ficar pronta. Durante as filmagens, o diretor Raphael Erichsen percebeu como é necessário proporcionar ambientes seguros para as crianças brincarem fora de casa.

“As cidades não foram feitas para as crianças porque muitos espaços que seriam para lazer estão abandonados e os que existem acabam virando lugares privados”

Produzido pelo estúdio Impossível e pelo laboratório de comunicação Up Lab, o documentário está disponível no YouTube. Além do filme, o movimento envolve campanha nas redes sociais, petição on-line, cartilha e material informativo para que as ações possam ser multiplicadas em outros espaços. “A principal vocação é conseguir, através dessa história, inspirar as pessoas e o poder público a reproduzir essa atitude e criar mais ambientes de brincar livre para as crianças”, diz Raphael Erichsen, diretor do filme. A petição reivindica mais planos municipais que contemplem a Lei Nacional do Direito ao Brincar e o Marco Legal da Primeira Infância e já soma mais de mil assinaturas.

Brincar é lei e todos podem pensar cidades melhores para as crianças

Refletir sobre a importância de espaços públicos para o desenvolvimento seguro de crianças e adolescentes tem apoio em duas leis. A primeira é a Lei da Parentalidade Positiva, que prevê o direito ao brincar como prevenção à violência contra crianças e a garantia de ambientes seguros para a brincadeira. A outra é o Marco Legal da Primeira Infância, que reforça o brincar e o lazer como políticas públicas prioritárias para União, estados e municípios.

Segundo Maria Isabel Barros, as comunidades podem se organizar para melhorar a qualidade de vida das famílias e o bem-estar de suas crianças. Rodas de conversa, abaixo-assinados e mobilizações com moradores, escolas, lideranças comunitárias e organizações do território são algumas possibilidades. “É importante ter registros (fotos, vídeos ou mapas) que mostrem os desafios e os desejos dos moradores em relação aos espaços públicos. Com esse material em mãos, é possível procurar o poder público local para propor melhorias, apresentando sugestões com base em boas práticas”, diz. Outras ações envolvem:

  • Priorizar deslocamentos a pé e com segurança, com calçadas largas, sombreamento e travessias seguras;
  • Criar espaços verdes e de brincar próximos às casas, creches e escolas;
  • Reduzir a velocidade dos veículos em áreas com presença infantil;
  • Valorizar a escuta das crianças nos processos de planejamento urbano;
  • Integrar natureza, arte e cultura nos espaços públicos, estimulando o brincar livre e a conexão com o território.

Semana Mundial do Brincar

Em mais de 40 países, a Semana Mundial do Brincar acontece durante todo o mês de maio, com atividades voltadas para crianças e famílias, com foco na garantia do direito de brincar. No Brasil, a iniciativa é da Aliança pela Infância, que há 16 anos promove o evento em mais de 60 cidades. No Espaço Alana, no Jardim Pantanal, zona leste de São Paulo, por exemplo, a programação é gratuita e conta com brincadeiras, painéis educativos para professores, leituras e apresentações artísticas. A realização é do Instituto Alana com apoio da Divisão Pedagógica (DIPED) da Diretoria Regional de Educação de São Miguel Paulista.

16ª Semana Mundial do Brincar – “Proteger o encantamento das infâncias”
Até 30 de maio, das 14h às 17h
No Espaço Alana – Rua Erva do Sereno, 642, Jardim Pantanal, São Paulo.

  • 29 de maio (quinta-feira), das 14h às 17h
    Espaço sensorial e lúdico: “Brincando com os sentidos”, com o coletivo “A Tribo Recreativa”.
  • 30 de maio (sexta-feira), das 14h às 17h
    Apresentação de dança (breaking), com o arte-educador Wender Fernandes
    Show de rap com o cantor Allan Hermínio, o Pretinho Black
    Jogo de rima com o rapper e freestyler Victor Massaki

*Os dois projetos que abrem essa reportagem foram uma parceria entre as respectivas prefeituras com a Rede Urban95, iniciativa da Fundação Van Leer sobre planejamento urbano mais seguro, humano e inclusivo para crianças.

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