4 projetos audiovisuais para combater o abuso sexual infantil

MĂșsica, filme e minidoc propĂ”em caminhos sensĂ­veis e educativos para enfrentar casos de abuso sexual na infĂąncia

Célia Fernanda Lima Publicado em 14.05.2024
imagem mostra a cantora elisa gatti, uma mulher branca, de cabelos lisos, sobre um palco e ao fundo um coral de crianças, ilustrando açÔes do maio laranja e projetos contra o abuso sexual infantil
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Resumo

Projetos audiovisuais focam no combate ao abuso sexual durante a infĂąncia. SĂŁo mĂșsicas, filmes e sĂ©ries que buscam chamar a atenção para o crime que atinge atĂ© 500 mil crianças por ano no paĂ­s.

A cada ano, 500 mil crianças e adolescentes são vítimas de abuso e exploração sexual. Diante desse cenårio, artistas, pesquisadores e ativistas tentam ampliar as vozes de adultos que sofreram abusos e de profissionais que orientam como agir, denunciar e prevenir novos casos. Esses projetos audiovisuais, além de conscientizarem, podem trazer um viés educativo para a proteção das crianças.

De acordo com o MinistĂ©rio dos Direitos Humanos e Cidadania, o Disque 100 recebeu mais de 17 mil denĂșncias de violaçÔes sexuais contra crianças e adolescentes sĂł no primeiro semestre do ano passado. Em todo o paĂ­s, a campanha Maio Laranja desenvolve açÔes para conscientizar as pessoas e combater o abuso e a exploração sexual infantil.

Confira quatro projetos de combate ao abuso sexual infantil

1. “Carinho nĂŁo pode ser segredo”

Com a canção “Carinho nĂŁo pode ser segredo”, a artista Elisa Gatti, mais conhecida nas redes sociais como “MĂŁe musical”, mostra que “toda criança tem que aprender que o seu corpinho Ă© muito precioso”, mas que com “algumas partes a gente tem que ser ainda mais atento e mais cuidadoso”.

“Hoje, tenho a sorte de estar com um megafone na mĂŁo e minha missĂŁo Ă© tocar em temas que podem construir um mundo mais acolhedor para as crianças”, diz Elisa. Ela pretende expandir o projeto com outros influenciadores do universo da parentalidade para dar visibilidade ao tema e transformar a sociedade.

No YouTube, a mĂșsica ganhou videoclipe com a participação de um coral de 60 crianças da ONG Nação ValquĂ­rias, que acolhe e orienta meninas e mulheres em vulnerabilidade social em SĂŁo JosĂ© do Rio Preto (SP).

Além disso, um minidocumentårio traz o depoimento de mulheres que foram vítimas de abuso na infùncia e que explicam a importùncia de conscientizar não só as crianças, mas todos os adultos responsåveis pela proteção de meninos e meninas.

Por fim, a canção se transformou em um livro infantil, para ser lido por crianças, educadores e famĂ­lias. Publicado pela editora Tudo!, “Carinho nĂŁo pode ser segredo” tem ilustraçÔes de Rita Silva e prefĂĄcio assinado por Luciana Temer, diretora do Instituto Liberta, organização de enfrentamento Ă  violĂȘncia sexual contra crianças. As orientaçÔes sobre como abordar o tema com as crianças sĂŁo da psicĂłloga infantil, Marcela Ondei. “Mas ele Ă© tambĂ©m um livro para cantar”, diz Elisa. Assim, um QR Code direciona o leitor para plataformas musicais. “Meu sonho Ă© que ele invada as escolas e chegue ao maior nĂșmero de pessoas possĂ­vel.”

2. “InfĂąncias despedaçadas”

Em 2022, a artista plĂĄstica Elisa Bracher, fundadora do Instituto Acaia, projeto social de SĂŁo Paulo com escola em tempo integral e ateliĂȘ, criou o canal no YouTube “InfĂąncias despedaçadas”. O objetivo era explicar as complexidades que rodeiam casos de abuso sexual infantil, falar sobre como cuidar das vĂ­timas e dar voz a mulheres que propĂ”em novos caminhos para o acolhimento das crianças e para combater esse tipo de crime. “Uma criança nĂŁo deve se sentir sozinha nunca”, diz. “Foi entĂŁo que criei o canal, para tentar evitar que novos abusos aconteçam e que essa cultura nĂŁo se perpetue. Romper o silĂȘncio jĂĄ Ă© algo enorme.”

Depois de relembrar as marcas da prĂłpria infĂąncia com um relato pessoal, Elisa entrevistou educadoras, professoras e profissionais da saĂșde e assistĂȘncia social. Eles contam como produziram metodologias inovadoras para proteger crianças e adolescentes contra o abuso sexual em seus territĂłrios (Pernambuco, Rio de Janeiro e ParĂĄ). “É uma espĂ©cie de manual de sobrevivĂȘncia, pois reĂșne e divulga estratĂ©gias e mĂ©todos que profissionais e sobreviventes desenvolveram com o tempo”, conta a artista.

3. “Apesar de”

O documentĂĄrio “Apesar de” aborda a trajetĂłria de Georgia, uma jovem escritora e artista circense que sofreu violĂȘncia sexual na infĂąncia, dentro de casa. Embora o trauma tenha afetado sua infĂąncia, ela reuniu forças na arte para seguir em frente. E Ă© com o nome do filme tatuado na pele que reconhece a necessidade de cuidar das crianças.

AlĂ©m disso, hĂĄ depoimentos de especialistas da proteção dos direitos das crianças e de saĂșde mental. Todos explicam as prĂłprias estratĂ©gias para identificar e conter a violĂȘncia sexual em um contexto familiar, quando a criança nĂŁo consegue pedir ajuda.

“Queremos que os espectadores pensem o que estamos fazendo sobre isso e quais as polĂ­ticas pĂșblicas queremos para proteger as crianças”, diz a diretora, Beatriz Prates. Segundo ela, o intuito foi “usar o cinema para falar de assuntos difĂ­ceis e para os quais nĂŁo devemos fechar os olhos. É preciso conversar sobre eles nos lares, nas escolas e em toda a comunidade”. A produção, que ainda vai ser lançada, tem apoio institucional da Childhood Brasil, do Instituto Liberta e da CoalizĂŁo Brasileira pelo Fim da ViolĂȘncia contra Crianças e Adolescentes.

4. “Um crime entre nĂłs”

Voltado ao contexto das violĂȘncias cometidas dentro de casa, o documentĂĄrio “Um crime entre nĂłs” estreou em 2020. A proposta Ă© jogar luz para aquilo que ainda assim Ă© considerado tabu na sociedade.

No longa, personalidades como a youtuber Jout Jout, o apresentador Luciano Huck, o médico Dråuzio Varella e a pesquisadora Gail Dines se juntam em uma investigação. Conforme as histórias se desenrolam com depoimetos de vítimas, educadores e psicólogos sobre o tema, o roteiro passeia por mundos reais e virtuais.

A produção da Maria Farinha Filmes foi idealizada pelo Instituto Alana e pelo Instituto Liberta.

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