Retrospectiva 2020: livros que representam as múltiplas infâncias

A literatura pode nos ajudar a construir, a partir da ficção, uma realidade mais inclusiva e diversa

Da redação Publicado em 17.12.2020
Duas crianças cada um segurando um livro aberto
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Resumo

Cada criança importa. Para retratar as múltiplas infâncias, selecionamos livros que destacam essa diversidade entre seus personagens e criam narrativas para um mundo mais inclusivo.

Por sua capacidade de transformar realidades a partir da imaginação, a literatura pode evidenciar, para crianças e para adultos, a diversidade como o ponto alto do mundo que nos contém. Afinal, somos iguais apenas porque somos diferentes.

Para refletir esse encontro entre infâncias de todas as classes sociais, origens, etnias, com ou sem deficiência, o Lunetas selecionou seis livros que ajudam a contar histórias mais plurais neste ano de 2020 e a fortalecer a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Infâncias plurais

“Todas as pessoas contam” (Companhia das Letrinhas, 2020)

Escrito e ilustrado por Kristin Roskifte, o livro fala de diversidade, alteridade, respeito, tolerância e empatia com as crianças, explorando cenas em que a história de cada personagem entre os 7,8 bilhões de pessoas na Terra impacta na dos demais. A partir da pergunta “O que seria das pessoas umas sem as outras?”, o livro apresenta uma situação diferente por vez: sete pessoas num elevador, nove pessoas numa fila, dez pessoas em um salão de cabeleireiro. O que elas estão fazendo? A partir de pistas, devemos procurar pelos elementos únicos de cada história – alguém está roubando o supermercado, alguém se apaixonou na biblioteca, alguém vai descobrir que virou pai… Todos têm em comum o fato de carregarem uma história de vida diferente pelos contextos de família, de gênero, de classe social e de preferências culturais, além de hábitos particulares, interesses, tristezas e até segredos. Com ilustrações carregadas de minúcias que aguçam nosso olhar de investigador da vida humana, uma espécie de jogo sobre cada cena leva o leitor de volta ao início para brincar de detetive junto de questões filosóficas como “Quanto sabemos sobre os outros de verdade?”. Cada vida cheia de diferenças e semelhanças se mistura e se soma neste livro de contar, inclusive a sua!

Crianças da periferia

“Da minha janela” (Companhia das Letrinhas, 2019, vencedor do prêmio Jabuti 2020)

Com ilustrações cheias de vida e movimento da argentina Vanina Starkoff, que visitou junto do autor Otávio Júnior algumas favelas, o livro nos mostra cada coisa que o narrador vê da sua janela em uma favela do Rio de Janeiro: pessoas, animais, cores e gestos – tudo com algo a ensinar e a nos convidar a olhar para as vidas que nos cercam mas, muitas vezes, passam despercebidas. Com uma narrativa sensível, Otávio Júnior traz ao leitor uma perspectiva cheia de afeto da infância e retrata o dia a dia na periferia carioca de dentro para fora. Uma janela como símbolo de transformação, de onde se olha destacando aspectos positivos da cultura local, mas sem deixar de abordar questões como violência e vulnerabilidade social.

Crianças negras

“E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas” (Companhia das Letrinhas/LAB Fantasma, 2020)

O texto escrito por Emicida com ilustrações de Aldo Fabrini trabalha o contraste entre luz e sombra para dizer às crianças que tudo bem sentir medo, mas a coragem é maior. Na história, uma menininha com medo do escuro encontra o seu duplo noturno, uma vampirinha com medo da claridade. Entre pedir para acender a luz porque o escuro esconde coisas e não querer apagá-la porque a luz revela demais, elas se aproximam de um jeito bonito e percebem o que têm em comum, construindo uma amizade entre o oposto e o complementar. Ao validar o sentimento das crianças, Emicida coloca cada emoção em seu devido lugar e mostra como cada personagem aprende a lidar com as emoções, mesmo aquelas não tão positivas, ao longo do processo.

Crianças migrantes

“Valentes: histórias de pessoas refugiadas no Brasil” (Seguinte, 2020)

As jornalistas Aryane Cararo e Duda Porto de Souza, autoras também de Extraordinárias: Mulheres que revolucionaram o Brasil, voltam a se unir para contar histórias de vida de pessoas que vieram para o Brasil em busca de um lugar melhor para viver e agregam diferenças que tornam nossa nação tão plural. Com uma linguagem acessível e sensível, a obra demandou uma pesquisa de cerca de 80 histórias de vida de pessoas refugiadas no Brasil, de 20 nacionalidades distintas, durante três anos. É referência ao traçar um panorama histórico do refúgio no Brasil e no mundo, apresentando conceitos, dados e infográficos sobre os principais conflitos que geraram esses fluxos migratórios.

Crianças indígenas

“Quando eu caçava tatu e outros bichos” (Independente, 2020)

Ao compartilhar contos e memórias de aventuras de meninos indígenas, o autor Tiago Nhandewa busca quebrar estereótipos relacionados à cultura indígena e destacar a sabedoria ancestral dos povos originários. As histórias se passam em um determinado tempo e realidade e tem como cenário as aldeias onde o escritor mora e nas aldeias onde passou a sua infância e adolescência, com ilustrações de Carolina Mancini.

Crianças com deficiência

“Pinóquio” (Edições Erickson e FTD Educação, 2020)

A “Coleção Clássicos ao Meu Alcance” apresenta cinco livros, entre os quais “Pinóquio”, de Carlo Collodi, em versões facilitadas para estudantes com dificuldade de aprendizado ou com algum tipo de deficiência cognitiva, como autismo e síndrome de Down. Também estão disponíveis os títulos “Alice no país das maravilhas”, “O pequeno príncipe”, “Mágico de Oz” e “Peter Pan”. Todas as obras foram adaptadas por Carlo Scataglini, professor especialista e formador de métodos de recuperação e apoio.

* As descrições sobre cada livro foram elaboradas a partir de material disponibilizado pelas próprias editoras.

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