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‘Monstros na barriga’: 10 livros infantis sobre emoções

Livros infantis sobre emoções: foto de uma menina com os braços cruzados. Ela usa uma blusa azul

Preparamos uma listinha com alguns livros infantis sobre emoções que propõem diálogos com os pequenos sobre raiva, frustração, decepção e incerteza. A literatura e o contato com as histórias de vida dos outros são um caminho possível para lembrar que não somos os únicos a passar por altos e baixos. Todo mundo experimenta muitas emoções ao longo da vida e todas são legítimas.

Como olhar para esses sentimentos?

Essas narrativas guardam o potencial de ajudar as crianças a nomearem o que sentem antes de serem dominadas pelas emoções, evitando acessos de “birra“, por exemplo, que são explosões de sentimentos ainda desconhecidos para a criança e que ela não consegue controlar.

“Nós somos desertos, mas povoados de tribos, de faunas e flores. Passamos nosso tempo a arrumar essas tribos, a dispô-las de outro modo, a eliminar algumas delas, a fazer prosperar outras. E todos esses povoados, todas essas multidões não impedem o deserto, que é nossa própria ascese; ao contrário, elas o habitam, passam por ele, sobre ele”Gilles Deleuze

O que o filósofo francês quis dizer aí em cima pode parecer mais elaborado do que na verdade é. Ele versa sobre o denominador comum de todos os seres humanos: aquilo de que somos feitos por dentro, os sentimentos. Somos seres complexos, multidimensionais, e passamos a vida tentando nos equilibrar entre a razão e a emoção.

Com as crianças, não seria diferente. Considerando que os pequenos estão aprendendo a se entender para depois entender o outro, saber lidar com essa profusão de emoções que experimentamos em um só dia é ainda mais crucial.

O que são capacidades socioemocionais?
Cada vez mais vez valorizadas e incentivadas pela Pedagogia e Psicologia como fundamentais para ser e estar no mundo de hoje, as chamadas “capacidades socioemocionais” passam por entender que os sentimentos muitas vezes nos arrastam para lugares indesejáveis da experiência humana, e por isso é preciso estar preparado para não ficar à deriva.

Confira alguns livros infantis sobre emoções

“A raiva”, José Carlos Lollo e Blandina Franco (Pequena Zahar)

“No começo era só uma raivinha à toa. Uma coisa boba, que nem tinha razão de ser, mas que, mesmo assim, era”, diz o livro. A premiada dupla Blandina Franco e José Carlos Lollo faz a raiva virar personagem, representada por uma garatuja vermelha. O livro mostra do que ela se alimenta, onde ela gosta de ficar, como ela cresce, de onde ela vem. Uma narrativa de autoconhecimento em que o leitor é levado a se identificar com aquilo que inevitavelmente vai tomar conta dele um dia ou outro. A boa notícia (spoiler) é que a raiva não fica para sempre. Se paramos de alimentá-la, ela perde força e vai embora.

“Pedro vira porco-espinho”, Janaina Tokitaka  (Jujuba)

A obra conta a história de Pedro, um menino que está aprendendo a lidar com suas emoções e reage de forma curiosa toda vez que é contrariado. Ou quando algo não acontece como ele esperava, transformando-se em um espinhudo e irritadiço porco-espinho. Uma história divertida sobre sentimentos e relações humanas, e como tudo isso é apreendido na primeira infância. Dentre os temas que o livro aborda, está o tão temido terrible two, como são chamados os dois primeiros anos da criança. Foi escrito e ilustrado por Janaina Tokitaka.

“Tenho monstros na barriga”, Tonia Casarin (Edição do autor)

Onde nasce a emoção? Este livro acompanha o surgimento dos sentimentos bem de onde eles começam, na barriga. A professora carioca especializada em inteligência emocional Tonia Casarin conta a história de Marcelo, um menino que sente “várias coisas” na barriga e não sabe o que significam. Quando descobre que são sentimentos, Marcelo resolve chamá-los de “monstrinhos”. Ao longo da história, o menino narra os seus sentimentos e mostra oito monstrinhos: Alegria, Tristeza, Raiva, Medo, Coragem, Curiosidade, Orgulho e Ciúmes. A proposta é trabalhar as competências socioemocionais das crianças, incentivando-as a reconhecer e compartilhar seus sentimentos.

“A árvore vermelha”, Shaun Tan (Edições SM)

O livro de Shaun Tan conta a história de um dia na vida de todo mundo. Isso mesmo: um dia que poderia ser vivido por qualquer ser humano movido a emoções e sentimentos. Aqueles em que perdemos a capacidade de enxergar além e ficamos esmagados em nosso próprio senso de injustiça. Nada de interessante dá as caras no horizonte, tudo vai mal, ninguém entende, nada tem sentido. Dias em que “o mundo é uma máquina surda”, como diz um trecho da história. Quase não há narração, mas não falta história. Um personagem perdido, rumando sozinho pela rua em busca ainda não sabe de quê, parecido com qualquer um de nós.

“Ninguém vai ficar bravo?”, Toon Tellegen (WMF Martins Fontes)

O jeito de lidar com os sentimentos ruins, inesperados, incompreensíveis e até desconhecidos varia muito de uma pessoa para outra, e é isso o que essa história superdivertida pretende mostrar. Em 12 capítulos curtos, o livro de Toon Tellegen e Marc Boutavani apresenta um a um animais zangados e irritados quando expostos a situações novas. Se um elefante tivesse que subir numa árvore, como ele se sentiria? Quem sente mais raiva, um besouro ou uma minhoca? O que um rinoceronte e um hipopótamo têm em comum? Alguns tentam entender a raiva, uns se esforçam para domesticá-la, e outros são vencidos por ela. A partir de uma narrativa com ricas camadas de texto e imagem, o livro propõe uma reflexão profunda sobre a natureza humana.

“Eu fico em silêncio”, David Ouimet (Companhia das Letrinhas)

Textos e imagens do multiartista norte-americano David Ouimet traduzem o mundo interior de uma criança que se sente desajustada em um mundo barulhento demais. Em cenários repletos de informações visuais e sonoras, entre o fantástico e o sinistro, a menina parece perdida enquanto procura seu jeito de existir. “Quando chega a minha vez de falar, eu fico em silêncio”, diz, em uma das muitas repetições da expressão do título. A honestidade e a crueza dessa fábula moderna instigam a criança a mergulhar em suas próprias emoções, mostrando que sentir-se triste e isolado não é um defeito, mas parte de ser humano. Ao descobrir os livros, a menina encontra conforto para expressar sua imaginação e para afirmar a própria voz – mesmo que em silêncio.

“O menino que virou chuva”, Yuri de Francco (Caixote)

Um menino, cansado de tanto chorar, chove. Como nuvem mesmo. Ou, como quase todos nós. Essa é a poesia do ator e arte-educador Yuri de Francco que deu origem a uma obra híbrida: meio livro ilustrado, meio folioscópio. Foi do artista plástico Renato Moriconi a ideia de que o próprio objeto-livro capturasse o significativo movimento dessa chuva, trazendo a sensação de movimento nas imagens sucessivas quando se folheia as páginas bem rápido. Como sugere o texto na quarta capa: “No momento certo, folheie as páginas deste livro como o vento faz com as nuvens, deixando a chuva cair e levando embora tudo que é cinza e pesado”. Junto das pinturas, há paratextos que ajudam a comunicar a tristeza de quem chove. O leitor pode observar, assim, as expressivas pinturas e as palavras que vêm e vão; ou dobrar o livro, segurando na pontinha só pelo dedão, fazendo as páginas virarem rapidamente. O resultado é um menino transformado em chuva forte, tempestade e furacão, o que é capaz de bagunçar até as letras.

“Jardim da lua”, Wiana Kell e Ana Matsusaki (Tigrito)

Valorizar a si é também reconhecer que a qualquer momento uma mudança (física ou dos próprios sentimentos) pode acontecer. Mesmo assim, os movimentos do universo sempre incentivam cada um a encontrar seu próprio lugar no mundo. Nessa jornada, o importante é reconhecer que tudo é transitório (os altos e os baixos), aproveitando ao máximo cada momento. No livro, quem conta sobre os desejos de transformação é a própria lua, que vive imensamente suas fases, de minguante à nova, cheia de esperança. Escritas por Wiana Kell, as idas e vindas da lua para se (re)conhecer são acompanhadas das ilustrações de Ana Matsusaki. Juntas, elas nos contam que cada um possui um brilho próprio que, quando alimentado, passa a iluminar quem está ao redor.

“Akili está feliz “, Kiusam de Oliveira (Melhoramentos)

Em suaíli, um dos idiomas da Tanzânia, a palavra “akili” significa “inteligente”. Por meio da sua inteligência, Akili descobre o mundo. É um garoto feliz, mas ao longo do livro, ele vivencia outras emoções e aprende a lidar com os próprios sentimentos. Assim, o leitor o acompanha em sua jornada de reconhecer as suas emoções.

“Por que temos medo?”, Fran Pintadera (WMF Martins Fontes)

O medo é um sentimento que acompanha o ser humano desde a sua origem, que mostra como é possível explorar lugares dentro de si mesmo. O livro tem como objetivo auxiliar as crianças compreenderem emoções complexas, com reflexões sobre os tipos de medo. Existe o medo do desconhecido, do escuro ou até mesmo o de se sentir sozinho. Para enfrentá-los, é necessário exercitar o autoconhecimento e a percepção sobre as origens desses medos.

*As descrições sobre cada livro foram elaboradas a partir de material disponibilizado pelas próprias editoras.

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