‘Sonhozzz’: a potência do sonhar no melhor livro infantil do ano

Com texto de Silvana Tavano e ilustrações de Daniel Kondo, o melhor livro infantil pelo prêmio Jabuti 2022 traz uma divertida abordagem sobre os sonhos e o sono

Renata Rossi Publicado em 28.11.2022
Capa do livro Sonhozzz. Formas em preto, branco e azul formam uma ovelha
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Resumo

O livro "Sonhozzz" foi eleito o melhor infantil do ano no Prêmio Jabuti. A conversa entre texto e imagem que a obra propõe convida o leitor a participar da narrativa e a sonhar de olhos abertos.

Depois de fechar os olhos, o que acontece com a gente? É sobre o inventivo mundo dos sonhos que trata “Sonhozzz”, livro infantil que venceu o Prêmio Jabuti de 2022, a partir do diálogo entre os personagens: dois olhos que se abrem e se fecham.

Dos sonhos que inventam coisas que não existem e nos colocam em apuros – como aquele em que se aparece pelado na frente de todo mundo – ao melhor sonho que, de tão bom, queremos que dure para sempre.

Que sonho você gostaria que durasse para sempre?

“Sonhozzz”, de Silvana Tavano e Daniel Kondo (Salamandra) Enquanto o sono não vem, dois personagens tentam adivinhar qual será o enredo da noite: numa conversa que vai se desenhando entre o texto e as ilustrações, “Sonhozzz” convida a sonhar de olhos abertos. Uma jornada entre sonho, sono e vigília.

Camadas de sentido que dialogam com a infância

No texto da jornalista e escritora Silvana Tavano, a onomatopeia do título – sonhozzz – recupera a linguagem como o sono é retratado nos quadrinhos; os carneirinhos, contados até que o sono venha, é uma tática que vira motivo de tédio nesta narrativa. Silvana conta, em entrevista ao Lunetas, que foi inspirada por uma conversa com dois garotinhos em que não se falou em sono ou sonhos em nenhum momento, mas pela forma como eles contavam sobre os livros que estavam lendo. “Ouvir aqueles relatos cheios de alegria e imaginação me fez ‘ver’ duas crianças sonhando de olhos abertos.”

Já as formas geométricas das ilustrações de Daniel Kondo que criam um jogo visual dos olhos sempre no centro da página, como se fossem marcadores do sonho, conduzem o terceiro personagem – aquele que lê – a evocar na memória suas próprias experiências oníricas. É só no final do livro que descobrimos de quem são os olhos que nos acompanham pelas páginas. Contudo, os autores deixam a provocação: “neste ambiente onírico, você se pergunta se o leitor não seria o próprio carneirinho que está sonhando… Afinal, se a vida é sonho, como diz a epígrafe do nosso livro, a literatura só confirma que sim”, definem.

Com importância central em algumas culturas, como as indígenas e em civilizações antigas do Egito e da Grécia, os sonhos podiam determinar o destino de uma nação. Para o neurocientista Sidarta Ribeiro, em uma sociedade em que eles muitas vezes sequer são lembrados, é preciso restaurar a capacidade de sonhar: “A conexão entre sonho e vigília é um aprendizado que pode e deve começar na infância, através do hábito de despertar e narrar os sonhos para a família”, explica, numa conversa com o Lunetas.

“Sonhozzz”, que levou o Jabuti de melhor livro infantil em 2022, pode ser o primeiro passo – e um convite – para que todos nós possamos resgatar a valiosa capacidade de sonhar.

Prêmio Jabuti 2022: conheça os finalistas da categoria literatura infantil!

A 64ª edição do Prêmio Jabuti, considerado a mais relevante premiação nacional do livro, teve recorde: foram mais de 4 mil obras inscritas em seus quatro eixos: Literatura, Não Ficção, Produção Editorial e Inovação. Depois de indicar dez obras finalistas na primeira lista, os jurados selecionam os cinco mais cotados ao prêmio e, na noite da premiação, é revelado o vencedor. Conheça os demais finalistas da categoria literatura infantil:

Capa do livro "Formigável", de Janaína de Figueiredo e Rafa Antón. Uma galinha e uma formiga compõem a capa.

“Formigável”, de Janaína de Figueiredo e Rafa Antón (Aletria) O livro retrata um terno e inesperado encontro entre personagens muito diferentes que aprendem, um com o outro, uma nova forma de ver as coisas à sua volta. 

Capa do livro "Mesma nova história", de Everson Bertucci, Mafuane Oliveira e Juão Vaz. Uma menina. negra de vestido azul e cabelo de flores amarelas e roxas

“Mesma nova história”, de Everson Bertucci, Mafuane Oliveira e Juão Vaz (Peirópolis) O que pode florescer da convivência entre uma velhinha que está perdendo a memória e um menino que só pensa em jogos eletrônicos? Cocriação de três autores, o livro mostra como pode se manifestar a cumplicidade no encontro entre gerações.

Capa do livro "O jabuti não tá nem aí", de Itamar Assumpção e Dalton Paula. Num fundo azul, um jabuti toca um saxofone dourado

“O jabuti não tá nem aí”, de Itamar Assumpção e Dalton Paula (Caixote) O compositor, cantor e instrumentista Itamar Assumpção brinca com as características dos jabutis e parte delas para imaginar as mais divertidas suposições. É um livro sobre os animais, mas também sobre o respeito à natureza e o desejo de paz.

Capa do livro "Uma planta muito faminta", de Renato Moriconi. Uma planta carnívora está aberta para cima

“Uma planta muito faminta”, de Renato Moriconi (Companhia das Letrinhas) Num certo dia de sol, uma planta carnívora nasceu. Ela era pequena e delicada, e estava com muita fome. Então passou a engolir todo tipo de criatura – de lagarta a coral de anjos. Quanto mais comia, maior ficava e sua fome também. Onde essa planta vai parar? Com final inusitado, o livro é uma homenagem à lagarta comilona de Eric Carle.

Além de celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna de São Paulo e destacar o grafite urbano de artistas das cinco regiões do Brasil em sua identidade visual, esta edição do Jabuti homenageou Sueli Carneiro como personalidade literária do ano por sua obra e atuação para o reconhecimento da representatividade negra na produção de conhecimento. Doutora em Filosofia pela USP e fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, Sueli é considerada uma das mais relevantes pensadoras do feminismo negro no Brasil.

“Essa distinção de personalidade literária acolhe, generosa e solidariamente, não apenas meus escritos, mas sobretudo confere reconhecimento às lutas que empreendemos contra as vivências que pessoas negras experimentam nessa sociedade. Essa homenagem, que recebo com orgulho e humildade, significa para mim um momento de afirmação e reconhecimento da legitimidade desse lugar de fala e de escrita”, disse Sueli em seu discurso na noite da premiação, que aconteceu na quinta-feira (24), no Theatro Municipal de São Paulo. 

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