Emicida fala da coragem contra luzes e sombras que o medo traz

Em seu segundo livro infantil, o rapper mostra as faces do medo do desconhecido que, por ser um sentimento comum a todos nós, nos aproxima

Laís Barros Martins Publicado em 22.10.2020
Imagem da personagem coragem do novo livro do Emicida, E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas
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Resumo

Em seu segundo livro dedicado às crianças, Emicida reflete sobre o medo a partir da história de duas meninas: uma que tem medo do escuro e outra que tem medo da luz. Sem negar ou minimizar o sentimento, o rapper introduz a coragem.

Uma menina tem medo da escuridão, a outra tem medo da “claridão”. Entre pedir para acender a luz porque o escuro esconde coisas e não querer apagá-la porque a luz revela demais, elas se aproximam de um jeito bonito, porque afinal ninguém escapa do medo. “E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas”, o mais novo livro infantil do Emicida, fala dessa amizade entre o oposto e o complementar, sobre o apaziguamento entre luz e sombra.

Os sentimentos de cada uma frente ao desconhecido encontram a personificação do medo, um cara meio antiquado que não é mau nem monstro, apenas preocupado ao recomendar cuidado, e a coragem, uma heroína negra de punho erguido em sinal de resistência.

Ao validar o sentimento das crianças, Emicida coloca cada emoção em seu devido lugar e é como se nos dissesse, a partir de suas rimas: “tudo bem sentir medo, ele só não precisa ocupar tanto espaço nem ser maior do que sua coragem”. Nesse embate, ele nos lembra do essencial:

“A gente tem fibra, a gente tem alma”

Capa do livro "E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas"
“E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas” (Companhia das Letrinhas/LAB Fantasma)

Em seu novo livro dedicado às crianças, Emicida trabalha o contraste entre luz e sombra para dizer às crianças que tudo bem sentir medo, mas a coragem é maior. Com ilustrações de Aldo Fabrini (que também ilustrou “Amoras”, sua estreia na literatura infantil, em 2018), a narradora, uma menininha com medo do escuro, e seu duplo noturno, uma vampirinha com medo da claridade, percebem o que têm em comum.

“O outro é como nós”

A narradora começa o livro pedindo ao pai que deixe uma luzinha acesa antes de dormir. Do outro lado, uma vampirinha teme o excesso de “claridão”. Ao longo desse processo de transformação, cada uma à sua maneira vai descobrindo formas de lidar com os sentimentos que lhes habitam. Assim, elas começam a descobrir semelhanças na diferença até que se encontram e ficam amigas.

“Tudo é uma questão de olhar,
às vezes, o que nos assusta,
tem muito da gente
(Só é um pouco diferente!)”

Falar de medo e de coragem amplia o nosso olhar para entender que as emoções nem sempre são positivas, mas crianças – e adultos – precisam aprender a lidar com cada uma delas.

Sobre medos imaginários e reais

O tema surgiu para Emicida ao ver as filhas, Teresa e Estela, dormirem durante uma viagem de família ao Vietnã, no finzinho de 2019. Foi em uma noite em claro no meio da escuridão da madrugada que o artista transferiu para o papel as ideias que o acompanhavam sobre pacificar a relação entre luz e sombra.

Mal sabia ele que o medo estaria tão presente, com contornos reais, ao longo deste ano de 2020, espalhado por todos os cantos, a nível global. A experiência da pandemia virou muitas vidas de ponta cabeça e revirou as emoções dentro da gente, adultos e crianças. O livro chega, sem querer – porque não se podia antever essa situação – como uma oportunidade de iniciar uma conversa sobre os nossos medos mais íntimos e acolher o que resultar desse processo, amparando e cuidando da infância. Infelizmente, não é só mais o medo do escuro que atormenta uma criança, seja noite ou dia.

Quer saber mais sobre essa história? Assista ao vídeo, produzido pelo Laboratório Fantasma em parceria com a Companhia das Letrinhas, que transforma em uma animação musical as palavras do livro do Emicida “E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas”:

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