Animação levou mensagem de representatividade à cerimônia mais importante de Hollywood
Vencedor do Oscar 2020, o curta "Hair Love" trouxe um pedido de representatividade aos espectadores do mundo inteiro. Protagonizado por uma família negra, o filme fala sobre dilemas da paternidade, aceitação e autoestima. Confira!
Embora o motivo seja desconhecido, se trata de um grande dia. A pequena Zuri pula da cama, veste sua roupa de bailarina e está decidida a transformar seus cabelos crespos em um estiloso arranjo de tranças. Ela escolhe um dos modelos ensinados no vlog de sua mãe, intitulado “Hair Love”. Distante da simplicidade de como ocorre no tutorial, a tarefa se revela uma missão desafiadora. E é nesse contexto que entra em cena Stephen, um pai inseguro e desajeitado.
O curta de animação, premiado no Oscar 2020, conquistou o mundo com uma mensagem positiva de afeto e autoestima. Estrelado por uma família negra, ele retrata de forma bem-humorada, os dilemas de um homem que é provocado a lutar no ringue da paternidade, com pentes, grampos e cremes, contra os cachos de sua filha.
Do outro lado das telinhas, quem procura o filme é convidado a olhar, através da fechadura da intimidade, os sentimentos de Zuri, que vive a ausência de sua mãe expressa na rebeldia de seus cabelos. O nome da animação, “Hair Love”, parece ser a chave para a situação, já que o cabelo, cheio de personalidade, pede um pouco de carinho para explodir em beleza.
O nome da animação, “Hair Love”, parece ser a chave para a situação, já que o cabelo, cheio de personalidade, pede um pouco de carinho para explodir em beleza.
O projeto foi dirigido pelo ex-jogador de futebol americano Matthew A. Cherry, Bruce W. Smith e Everett Downing Jr, tendo início com uma campanha de financiamento coletivo, no site Kickstarter. A aceitação foi grande, chegando a arrecadar US$ 210 mil (cerca de R$ 656 mil), quase o triplo da meta inicial.
Em entrevista ao apresentador Trevor Noah, durante o programa estadunidense “The Daily Show”, o diretor explica que recorreu ao financiamento coletivo por ser uma boa estratégia de criar audiência antes de se lançar no mercado. Além disso, ele afirma que se sentiu confiante em produzir a animação, depois de acompanhar a viralização de vídeos nos quais pais negros penteiam os cabelos crespos de suas filhas.
E era justamente essa a situação que Cherry desejava ilustrar. Ele confessou ao New York Times que gostaria de combater as imagens negativas perpetuadas sobre homens negros, que recebem as piores reputações como pais em termos de estereótipos. Além disso, incentivar o amor próprio, a partir da normalização do cabelo afro, que ainda enfrenta muitos estigmas sociais.
“Foi um trabalho feito com muito amor. Porque acreditamos que a representatividade importa. Principalmente nos desenhos animados, que geralmente são nosso primeiro contato com o mundo dos filmes”, afirmou a produtora Karen Rupert Toliver, em seu discurso ao receber a estatueta do Oscar.
Cherry aproveitou o espaço da premiação para dar visibilidade ao Crown Act, lei em vigor em algumas regiões dos Estados Unidos, que proíbe a descriminalização baseada no estilo e na textura dos cabelos. Como manifestação, levou à cerimônia o jovem DeAndre Arnold, um adolescente do estado do Texas, que foi impedido de participar de sua formatura por conta do estilo de seu cabelo, com dread.
Os vencedores ainda homenagearam Kobe Bryant, que em 2018 ganhou um Oscar na mesma categoria de animação, com “Dear Basketball“. O astro do basquete morreu em 26 de janeiro, junto com sua filha, Gianna, de 13 anos, durante um acidente de helicóptero.
“Foi um trabalho feito com muito amor. Porque acreditamos que a representatividade importa. Principalmente nos desenhos animados, que geralmente são nosso primeiro contato com o mundo dos filmes”
E quem poderia imaginar que 6 minutos e 47 segundos, trariam tantas mensagens para o mundo na semana após o Oscar? O vídeo, disponibilizado pela Sony Pictures Animation no Youtube, já passa de 19 milhões de visualizações. São poucas falas, o que torna a falta de legendas apenas um detalhe. O que marca, por fim, são os pequenos sentidos da vida em torno de uma situação tão cotidiana como pentear os cabelos: o desafio que transforma a paternidade, o despertar da autoconfiança de uma criança e um reencontro de uma mãe com o amor a seu próprio corpo.
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