Estudo alerta para a gravidade dos casos de covid-19 em gestantes

Pesquisadores indicam altas taxas de morte e maior risco de hospitalização entre gestantes em comparação com adultos da mesma idade

Da redação Publicado em 09.02.2021
Foto de uma mulher grávida com as mãos na barriga. Ela usa jardineira jeans e camiseta branca. Está posicionada de perfil em frente à uma parede de folhagens
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Resumo

Estudos começam a entender como o novo coronavírus se comporta em mulheres grávidas e puérperas infectadas, e indicam maior risco de hospitalização por casos graves e altas taxas de morte no grupo em comparação a adultos da mesma idade.

Desde abril do ano passado, grávidas e gestantes estão no grupo de risco para a covid-19 no Brasil. Em agosto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para estudos que mostravam um maior risco de grávidas evoluírem para formas graves da doença devido a fatores como a perda de sangue durante o parto e o esforço da amamentação, que podem ocasionar sobrecarga respiratória e circulatória; e a dificuldade de realizar uma intubação, caso necessário, pelos riscos de trombose, sangramentos e edemas.

Agora, um estudo recém-publicado no American Journal of Obstetrics and Gynecology, conduzido por médicos de Washington, nos Estados Unidos, indicou que a taxa de mortalidade por covid-19 é 13 vezes maior em pacientes grávidas do que em outros adultos na mesma faixa etária. Além disso, elas são hospitalizadas três vezes mais por conta da doença.

Na pesquisa realizada com 240 pacientes com infecção por SARS-CoV-2, uma em 11 desenvolveu condições críticas, uma em 10 foi hospitalizada e uma em 80 foi a óbito.

O artigo apontou ainda que os nascimentos prematuros foram significativamente mais frequentes entre as pacientes com quadro severo ou crítico de covid-19 (45,4% maior em relação às mulheres recuperadas da doença).

Também descobriu-se que gestantes internadas por problemas respiratórios apresentaram maior chance de comorbidade ou condições subjacentes, como asma, hipertensão, diabetes, doença autoimune e obesidade.

A atenção dedicada a pacientes gestantes como uma população com maior risco de desenvolver sequelas por SARS-CoV-2 é fundamental para prevenir doenças e mortalidade materna e neonatal. 

Limitações da pesquisa
Ao comparar os resultados por trimestre da infecção, as complicações gestacionais foram semelhantes. No entanto, o número de partos investigados no segundo semestre foi reduzido. Por este motivo, especialistas recomendam a condução de novas pesquisas identificando o trimestre em que a pessoa foi infectada para determinar se existe um impacto nas complicações, no crescimento fetal e nas consequências a longo prazo nos recém-nascidos.

Situação das gestantes brasileiras

A situação por aqui não é animadora, pois 8 em cada 10 gestantes e puérperas vítimas da covid-19 no mundo são brasileiras, como apontou estudo brasileiro, publicado no International Journal of Gynecology and Obstetrics.

O país concentra 77% das mortes de mulheres grávidas ou puérperas no mundo. Os dados mostraram ainda que 22,6% das mulheres que morreram não foram admitidas em uma UTI e que 64% estavam sob ventilação invasiva. Em 14,6% dos casos, as mulheres não tiveram acesso à intubação. 

Uma das principais causas que coloca o Brasil como o país mais perigoso para grávidas e puérperas no contexto da pandemia está diretamente relacionado aos impactos do racismo estrutural e das desigualdades sociais e regionais.

Segundo estudo coordenado por pesquisadoras da Unesp, UFSCar, UFSC, Imip, Unicamp e Fiocruz, as gestantes pretas têm quase duas vezes mais chances de morrer por covid-19 do que as brancas. A pesquisa mostra que a probabilidade de uma mulher preta morrer é de 17%, enquanto entre as mulheres brancas é de 8,9%.

E a vacina para gestantes?

Esse novo estudo norte-americano aponta a necessidade de oferecer vacina para as mulheres grávidas com risco de contrair a doença. Contudo, as gestantes ainda não fazem parte dos grupos que serão testados em nosso país. Por ser uma situação transitória, o infectologista Márcio Moreira não vê motivo de preocupação: “Trata-se de um grupo pequeno de mulheres que estão gestantes agora mas que, tão logo tenham dado à luz, poderão receber uma dose”.

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