Pesquisadores indicam altas taxas de morte e maior risco de hospitalização entre gestantes em comparação com adultos da mesma idade
Estudos começam a entender como o novo coronavírus se comporta em mulheres grávidas e puérperas infectadas, e indicam maior risco de hospitalização por casos graves e altas taxas de morte no grupo em comparação a adultos da mesma idade.
Desde abril do ano passado, grávidas e gestantes estão no grupo de risco para a covid-19 no Brasil. Em agosto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para estudos que mostravam um maior risco de grávidas evoluírem para formas graves da doença devido a fatores como a perda de sangue durante o parto e o esforço da amamentação, que podem ocasionar sobrecarga respiratória e circulatória; e a dificuldade de realizar uma intubação, caso necessário, pelos riscos de trombose, sangramentos e edemas.
Agora, um estudo recém-publicado no American Journal of Obstetrics and Gynecology, conduzido por médicos de Washington, nos Estados Unidos, indicou que a taxa de mortalidade por covid-19 é 13 vezes maior em pacientes grávidas do que em outros adultos na mesma faixa etária. Além disso, elas são hospitalizadas três vezes mais por conta da doença.
O artigo apontou ainda que os nascimentos prematuros foram significativamente mais frequentes entre as pacientes com quadro severo ou crítico de covid-19 (45,4% maior em relação às mulheres recuperadas da doença).
Também descobriu-se que gestantes internadas por problemas respiratórios apresentaram maior chance de comorbidade ou condições subjacentes, como asma, hipertensão, diabetes, doença autoimune e obesidade.
A atenção dedicada a pacientes gestantes como uma população com maior risco de desenvolver sequelas por SARS-CoV-2 é fundamental para prevenir doenças e mortalidade materna e neonatal.
Limitações da pesquisa
Ao comparar os resultados por trimestre da infecção, as complicações gestacionais foram semelhantes. No entanto, o número de partos investigados no segundo semestre foi reduzido. Por este motivo, especialistas recomendam a condução de novas pesquisas identificando o trimestre em que a pessoa foi infectada para determinar se existe um impacto nas complicações, no crescimento fetal e nas consequências a longo prazo nos recém-nascidos.
A situação por aqui não é animadora, pois 8 em cada 10 gestantes e puérperas vítimas da covid-19 no mundo são brasileiras, como apontou estudo brasileiro, publicado no International Journal of Gynecology and Obstetrics.
O país concentra 77% das mortes de mulheres grávidas ou puérperas no mundo. Os dados mostraram ainda que 22,6% das mulheres que morreram não foram admitidas em uma UTI e que 64% estavam sob ventilação invasiva. Em 14,6% dos casos, as mulheres não tiveram acesso à intubação.
Uma das principais causas que coloca o Brasil como o país mais perigoso para grávidas e puérperas no contexto da pandemia está diretamente relacionado aos impactos do racismo estrutural e das desigualdades sociais e regionais.
Segundo estudo coordenado por pesquisadoras da Unesp, UFSCar, UFSC, Imip, Unicamp e Fiocruz, as gestantes pretas têm quase duas vezes mais chances de morrer por covid-19 do que as brancas. A pesquisa mostra que a probabilidade de uma mulher preta morrer é de 17%, enquanto entre as mulheres brancas é de 8,9%.
Esse novo estudo norte-americano aponta a necessidade de oferecer vacina para as mulheres grávidas com risco de contrair a doença. Contudo, as gestantes ainda não fazem parte dos grupos que serão testados em nosso país. Por ser uma situação transitória, o infectologista Márcio Moreira não vê motivo de preocupação: “Trata-se de um grupo pequeno de mulheres que estão gestantes agora mas que, tão logo tenham dado à luz, poderão receber uma dose”.
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Na pesquisa realizada com 240 pacientes com infecção por SARS-CoV-2, uma em 11 desenvolveu condições críticas, uma em 10 foi hospitalizada e uma em 80 foi a óbito.