“Educação contra a barbárie” discute ensino público no Brasil

O livro, recém publicado pela editora Boitempo, é um apelo à liberdade de ensinar e à educação democrática no país

Da redação Publicado em 11.07.2019
Foto de crianças sentadas em sala de aula escrevendo com seus lápis em seus cadernos
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Resumo

Publicado pela editora Boitempo, o livro "Educação contra a barbárie" trata de temas como experiências de educação popular, financiamento do ensino público, dilemas da educação à distância e a polêmica ‘ideologia de gênero’. Confira!

Educação democrática ou barbárie: a bifurcação está traçada e é preciso refletir para não escolher um caminho sem volta. Qual o papel da alfabetização na formação de uma pessoa? Que tipos de ameaças e disputas políticas estão em jogo para a construção do ensino público no Brasil? E, principalmente: como alcançar uma educação para todos, libertadora, que respeite as diferenças? Essas perguntas são pontos de reflexão no livro “Educação contra a barbárie: por escolas democráticas e pela liberdade de ensinar”, publicado recentemente pela editora Boitempo.

A obra é organizada pelo professor e especialista em políticas públicas de educação Fernando Cássio, e reúne artigos de mais de 20 autores que tratam de questões relacionadas ao ensino público no Brasil. Os textos criticam o processo de transformação da educação em mercadoria, estímulo dado pelo discurso empresarial, focado em atender os próprios interesses.

Sobre o organizador

Fernando Cássio- Doutor em Ciências pela USP, é professor da Universidade Federal do ABC. Tem investigado políticas indutoras de desigualdades educacionais, processos de financeirização na educação básica e participação social na educação. É membro do Grupo de Pesquisa Direito à Educação, Políticas Educacionais e Escola (DiEPEE/UFABC). Participa da Rede Escola Pública e Universidade e da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Com Roberto Catelli Jr., organizou o livroEducação é a Base? 23 educadores discutem a BNCC (Ação Educativa, 2019). (Fonte: Editora Boitempo)

Processos pedagógicos

Em contraponto à militarização das escolas, à perseguição de professores e à guerra contra os intelectuais brasileiros, os autores defendem o caráter laico, livre e científico do ambiente escolar e acadêmico, assim como experiências de auto-organização dos estudantes e processos pedagógicos democráticos, que ajudem a formar pessoas com pensamento crítico e independente.

“Quando, como professores, apoiamos a educação democrática, automaticamente apoiamos a universalização da alfabetização”

O trecho integra a tradução inédita de um artigo escrito por Bell Hooks sobre educação democrática. Nele, a ativista estadunidense afirma que a educação é uma ferramenta para a construção de integridade, empoderamento e libertação, já que quem sabe ler e escrever dispõe de habilidades necessárias para acessar aprendizados superiores, seja em ambientes universitários ou fora dos muros das instituições. “É sobre encontrar e reivindicar a nós mesmos e nosso lugar no mundo”, defende.

“Contra a barbárie” no ensino público

Os assuntos abordados por “Educação contra a barbárie” são polêmicos e atuais. O livro busca desvendar quais estratégias políticas e interesses estão por trás de ideias como “ideologia de gênero”, “Escola sem Partido” e, por que, educadores e filósofos como Paulo Freire, mundialmente reconhecidos, se tornam cada vez mais alvo do discurso reacionário no Brasil.

Polêmicas

Esses são alguns temas que ajudaram a criar a polarização no debate político durante as últimas eleições presidenciais. Tentando driblar as fake news, o Lunetas conversou com profissionais de referência na área da Educação, com trajetórias sólidas, para desconstruir os mitos em torno da figura de Paulo Freire.

Outro ponto em destaque no livro é o debate sobre a regulamentação do ensino domiciliar e à distância, pauta dirigida pela a Ministra Damares Alves, do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.

São muitos os desafios para as práticas docentes que vislumbram uma educação democrática para o ensino público. Desde a lacuna na elaboração de políticas para alfabetização e para a primeira infância até a criação de ambientes autoritários nas escolas, que ferem a autonomia dos professores e educadores, minando a possibilidade de um ensino voltado para a reflexão, diversidade e que respeite as diferenças socioeconômicas, étnico-raciais e religiosas no país.

Um exemplo deste embate está na dificuldade de consolidação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 10.639 de 2003, que regulamenta a educação brasileira e que, em seu artigo 26-A, trata especificamente do ensino da História e Cultura Afro-Brasileiras em todas as escolas e segmentos do país.

Para auxiliar a reflexão sobre diversidade, o livro traz contribuições da educação indígena e de projetos educativos de escolas rurais, como experiências pedagógicas organizadas por movimentos sociais do campo, que formam pessoas de todas as idades há três décadas. Nesse sentido, a obra pode ser considerada tanto uma reflexão sobre o ensino público quanto um apelo contra o caminho da barbárie, reivindicado no próprio nome: “por escolas democráticas e pela liberdade de ensinar”.

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