Crianças se reconhecem na família Madrigal do filme “Encanto”

Reflexões sobre identidade e relações familiares despertam nas crianças a força de se reconhecerem nas telas

Camila Santana Publicado em 21.01.2022
Cena do filme Encanto, da Disney, em que a personagem Mirabel canta perante os demais
OUVIR

Resumo

“Encanto” se tornou um fenômeno entre crianças que se reconheceram nos protagonistas. Com muita magia, o filme nos permite refletir sobre empatia, relações familiares e pertencimento.

Inspirado no realismo fantástico, o filme multicolorido “Encanto”, da Disney, se tornou um fenômeno entre as crianças e suas famílias. Vencedor do Globo de Ouro de animação e um dos favoritos na disputa do Oscar deste ano, conta a história dos Madrigal, uma família extraordinária que vive em um povoado na Colômbia. Cada membro tem um dom especial: força excepcional, a capacidade de criar flores ou o poder de curar através da comida. Exceto Mirabel, a única criança sem nenhum dom aparente. 

“Bem-vindo à família Madrigal!
Aqui a vida é fantástica e mágica” – Mirabel

Quando uma ameaça coloca em risco o milagre que originou toda a magia, Mirabel decide embarcar em uma jornada para entender os mistérios de sua família. Além de descobrir uma maneira de ajudar seus parentes a olharem para os problemas que estão além da superfície, ela acaba também entendendo seu lugar no mundo.

O encanto de se reconhecer nas telas

Além do entretenimento de uma história bem contada, o filme gerou uma verdadeira onda de postagens de pequenos espectadores manifestando nas redes sociais que viram a si mesmos representados nos personagens e as suas histórias refletidas na tela.

Em Cametá, no Pará, uma foto do pequeno Lucas chamou atenção pela sua semelhança com Antônio, caçula dos Madrigal. Thaila, de São Paulo, compartilhou um vídeo escutando animada a trilha sonora de “Encanto”. Já em Sete Lagoas, Minas Gerais, Manu viralizou com o vídeo do momento em que se compara com a protagonista do filme:

“Sou eu, mamãe!” – Manu

Manu, 2, Sete Lagoas (MG)

“Sou eu, mamãe. Eu cresci!” Manu ficou muito feliz ao perceber sua semelhança com a personagem. “Ela tem cachinho igual eu e um óculos”. A pequena completou: “Eu pareço com ela porque ela é minha amiga.” Manu gostou também das músicas do filme: “Minha música favorita é a da Luisa”.

Lucas Rafael, 5, Cametá (PA)

“Eu achei muito legal o filme e assisti várias vezes. Fiquei muito feliz porque o Antônio se parece comigo e com outras crianças também. Que tenham outros personagens assim! Eu super indico esse filme para todo mundo.”

Uma menina de coque faz o mesmo gesto com o braço que a personagem Luisa, do filme "Encanto", que está na tela da televisão

Thaila, 7, São Paulo (SP) Eu assisti encanto mais de quatro vezes. Eu achei o filme bem legal, eu gostei muito do quarto do Antônio e das músicas. Meus personagens favoritos são a Luisa e a Mirabel, porque elas são superfortes e inteligentes. “Aprendi que existem pessoas muito diferentes no mundo! E que mulheres superfortes também precisam relaxar.”

A diversidade colorida da América Latina

Ao celebrar a diversidade e reforçar a riqueza do povo latino-americano, “Encanto” é mais um exemplo do recente esforço da Disney em retratar a diversidade cultural, desta vez narrando uma história repleta de signos, músicas e costumes da Colômbia. A família Madrigal e toda comunidade de “Encanto” trazem a representação da identidade latina em vários tons de pele, diferentes tipos de cabelos e modos de falar, além de personalidades diversas.

Em entrevista para o portal Omelete, a diretora do filme, Charise Castro Smith, comenta que filmes assim não existiam quando ela era criança. “Me sinto muito feliz de poder colocar uma família nos cinemas que se parece muito com a minha, e com tantas outras famílias latinas ao redor do mundo. Assim, desde pequenas, as crianças de cada uma dessas famílias poderão se ver representadas”.

Image

Divulgação/Disney

A diversidade da extraordinária família Madrigal do filme “Encanto”, da Disney

A psicóloga Dalcira Ferrão ressalta o impacto na construção da identidade e na forma como a criança se relaciona com o mundo quando se vê representada. “Essa experiência causa uma sensação de identificação e de pertencimento. A criança se sente reconhecida e valorizada. Isso tem um impacto muito positivo na construção de sua subjetividade, já que nos formamos a partir também do olhar e da relação com o outro.”

Ao trazer personagens principais e secundários tão diversos, o filme enriquece o imaginário de crianças e adolescentes, além de refletir suas complexidades. Segundo a psicóloga, “a diversidade dos membros da família retratada no filme aproxima o público, tornando-a menos fictícia, e mais concreta e palpável para quem a assiste”.

“E que tal falar um pouco do Bruno?”

O filme também trata de assuntos profundos, como traumas passados por gerações, pressões do cotidiano, as dores da imigração e os desafios da dinâmica familiar. 

Mesmo sem um vilão clássico, o filme possui uma força antagonista que ameaça os poderes dos Madrigal. Conforme a família tenta repreender ou ignorar seus conflitos internos, a magia cede espaço à tensão. 

A resolução da trama passa pelos diálogos de Mirabel com os membros da família. Em entrevista, a diretora do filme comenta que Mirabel é a personagem “que possui maior capacidade de demonstrar empatia e, aos poucos, ela consegue transferir esse sentimento para si própria.”

Em uma conversa-chave, a matriarca da família divide sua história do passado com a neta. No momento em que medos e traumas são compartilhados entre avó e neta, Mirabel percebe que, com amor e persistência, sua família foi capaz de criar um novo lar e que isso poderia se repetir. Assim, com a união da família e da comunidade, vemos um novo milagre acontecer. 

“Não há nada que tenha sido
arruinado e que não dê pra
consertar juntos! – Mirabel”

Vemos então florescer a magia que vem da compreensão mútua entre as duas personagens, a importância do diálogo entre gerações e a ideia de que todos merecem ser amados pelo que são, e não pelos seus dons.

“Que ele nos leve a querer ser curiosos e ter um olhar mais atento uns com os outros”, disse a diretora Charise, mas é Mariana, 4, moradora de Hortolândia, interior de São Paulo, que esclarece o que mais importa: “Mirabel foi capaz de salvar o milagre mesmo sem ter nenhum dom.”

Leia mais

Comunicar erro
Comentários 1 Comentários Mostrar comentários
REPORTAGENS RELACIONADAS