Especialista afirma que é preciso denunciar ameaças, casos de bullying e pedir ajuda aos responsáveis. Família e escola devem levar os estudantes a sério.
Ameaças às escolas e casos de bullying nunca acontecem por uma só razão. Especialista reforça a necessidade de dialogar com os estudantes, denunciar aos responsáveis e envolver toda a comunidade escolar na prevenção das violências.
Em mais um ataque armado dentro de uma escola, em São Paulo, estudantes disseram que o autor ameaçava há semanas os colegas. Segundo eles, o adolescente também era alvo de bullying e homofobia, e a família já tinha denunciado a situação à polícia. São 33 mortes em 32 ataques em todo o país desde 2001, com mais da metade acontecendo a partir de 2022.
Em casos como esses, o que fazer quando um estudante faz ameaças aos colegas ou professores? Marina Teodoro, psicóloga e gestora de projetos educacionais, reforça que “a prevenção de um problema a partir do olhar aguçado e escuta ativa é sempre uma possibilidade”, mas que também é importante a denúncia nos canais diretos. Pode ser para alguém da família, um professor, diretor ou até para a polícia. Ela pontua como cada um deve proceder ao perceber uma ameaça e como acolher o estudante que faz a denúncia.
O Disque 100, dos Direitos Humanos, é o canal direto para denúncias de ameaças e também bullying ou cyberbullying. A ligação é gratuita, o atendimento funciona 24 horas por dia e não é preciso se identificar. Para enviar as denúncias ou pedir atendimento pelo WhatsApp, é só enviar uma mensagem para o número (61) 99656-5008. Também é possível registrar uma denúncia de forma anônima no “Escola Segura”, canal do Ministério da Justiça e Segurança Pública, feito em parceria com o SaferNet Brasil. Além disso, caso a direção da escola não tome providências, a família pode procurar os conselhos tutelares e as delegacias de suas cidades.
Ao escutar ou saber de uma ameaça na escola, Teodoro orienta que os estudantes comuniquem um adulto responsável no ambiente escolar. Quando a ameaça é on-line, devem procurar um familiar adulto. Porém, “isso só é válido se há uma relação de vínculo e confiança entre educadores, alunos e família”, diz. É por meio da confiança que a criança ou o adolescente saberá que está sendo realmente ouvido.
Caso o estudante recorra à família, é importante que os responsáveis atentem aos “sinais que ele está dando e procure imediatamente a escola para ouvir, comunicar e tentar entender o ocorrido”, diz a psicóloga. Ela lista o que pode ser demonstrado quando a criança ou o adolescente interioriza a ameaça e sente que sua casa ou escola não é um espaço de confiança:
“Para qualquer idade, é importante ressaltar que a maneira mais correta é sempre buscar o diálogo e contar o que está acontecendo”, ressalta. Nesse sentido, se a criança for mais nova e apresentar dificuldade em entender a situação, ou ainda, se mistura realidade com imaginação, é o acolhimento que vai fazer com que ela se sinta confortável em relatar as ameaças. Perguntas como “O que aconteceu?”, “Como você se sentiu?” e “Qual foi a sua reação?” são alguns dos caminhos apontados pela especialista.
“Pais e professores devem, primeiramente, respeitar este estudante ao proporcionar espaço de fala, acolhendo este medo e não duvidando daquilo que está sendo escutado”
Prevenir o bullying e demais tipos de violências no ambiente escolar é algo multifatorial. Entre os caminhos listados, está a construção mais diversa da grade escolar. Isso inclui jogos, livros e assembleias sobre violências e inteligência socioemocional. “Promover rodas de conversa aos responsáveis, oferecer cartilhas explicativas e orientar atividades que continuem em casa, como a confecção de um jogo, por exemplo”.
A especialista reforça que o psicólogo da escola não atua apenas com o atendimento de alunos ou professores, mas que busca o envolvimento de toda a comunidade escolar nas atividades desenvolvidas no ambiente. Entre algumas das ações realizadas pelo profissional, estão:
Teodoro reforça a necessidade de abordar tanto as crianças e os adolescentes que praticam bullying quanto os que ameaçam o ambiente escolar. Quando a conversa é voltada ao autor do bullying, ela recomenda utilizar jogos e livros sobre o assunto, para facilitar os diálogos. Ao mesmo tempo, é bom entender “quantas e quais foram as pessoas envolvidas na situação, até quem apenas escutou indiretamente o ocorrido”. Portanto, ao ouvi-lo, é possível “diagnosticar seu entendimento sobre o que cometeu e a situação que gerou”.
Já com a pessoa que ameaça, a psicóloga reforça a necessidade de abrir espaços de fala sobre anseios e dúvidas. Isso porque, a estratégia torna a comunidade escolar capaz de entender “qual a realidade que o estudante passa e se ele não se sente ameaçado em outros meios”. O diálogo também possibilita examinar “se a gravidade da ameaça foi entendida”. Outra questão é a mediação parental ativa, em que os responsáveis fiquem atentos aos conteúdos acessados na internet e limite de tempo de telas, para assim orientar crianças e adolescentes sobre os conteúdos que consomem.