Doença mata duas crianças abaixo de cinco anos por dia e apresenta baixos números de adesão à imunização entre crianças de 5 a 11 anos
Sem vacina para crianças de até cinco anos, os pequenos são os mais vulneráveis a contraírem formas graves da doença, o que pode resultar em sequelas ou até mesmo morte. Duas crianças de até cinco anos morrem diariamente com a doença.
Apenas 37,9% das crianças entre 5 e 11 anos completaram o esquema vacinal contra a covid-19 com duas vacinas até 26 de junho, segundo dados levantados pelo G1 em parceria com o consórcio de veículos de imprensa. Além dos perigos que os baixos números de vacinação trazem para a saúde pública infantil, as crianças com menos de cinco anos estão ainda mais expostas por não terem nenhum imunizante disponível para elas no país. Segundo a Fiocruz, desde o início da pandemia, a covid-19 mata duas crianças abaixo de cinco anos por dia, cenário que se agrava cada vez mais com a demora em obter vacinas para essa faixa etária.
“As crianças ainda possuem um sistema imune em formação e não têm a mesma oportunidade de defesa comparada com um adulto”, conta Antonio Condino-Neto, médico, pesquisador e presidente do departamento de Imunologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Ele explica que, apesar da variante ômicron possuir uma repercussão clínica mais branda do que outras variantes, ela é extremamente transmissível, o que torna necessário e urgente ampliar os esforços de vacinação voltados às crianças.
Em análise realizada pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) da Fiocruz, 599 crianças faleceram de covid-19 em 2020; 840 em 2021; e 291 até 13 de junho de 2022. Os dados se referem a mortes diretas por covid-19 e mortes em que a doença é uma das causas. A síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica é um dos exemplos de enfermidades graves associadas à covid-19.
Patrícia Bocolini, coordenadora do Observa Infância, aponta, em nota, que bebês até um ano de idade são os mais vulneráveis à doença: a faixa etária responde por quase metade dos óbitos registrados entre crianças menores de cinco anos. Entre as regiões, o Nordeste apresenta as taxas de mortalidade infantil mais altas associadas à covid-19.
“A cada dia que passamos sem vacina contra covid-19 para menores de 5 anos, o Brasil perde duas crianças”
No Brasil, as únicas vacinas disponíveis para crianças são a da Pfizer, que pode ser aplicada em crianças a partir de 5 anos; e a CoronaVac (Butantan), que pode ser aplicada a partir dos 6 anos. Até o momento, o único pedido de ampliação da faixa etária é do Instituto Butantan, que solicitou a ampliação para vacinação a partir dos três anos à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) há quatro meses. Além da demora de análise da Anvisa, a produção da CoronaVac está suspensa, sem novos pedidos de lotes do imunizante pelo Governo Federal.
Até o momento, Argentina, Bahrein, Chile, China, Colômbia, Cuba, Emirados Árabes, Estados Unidos e Venezuela estão vacinando crianças a partir dos seis meses de idade. Nos EUA, os pedidos para vacinação da faixa etária foram iniciados em junho pelas empresas Pfizer e Moderna. A Pfizer deve pedir o registro da vacina infantil para crianças menores de cinco anos ainda em julho, segundo informações do jornal O Globo, e solicitou à Anvisa um pedido para aplicação da dose de reforço da vacina infantil em 20 de junho.
“Se imunizarmos crianças e adolescentes, somado à imunização dos adultos, vamos criar um cinturão de saúde pública em que conseguiremos eliminar as complicações graves e mortalidade por covid, para que seja possível conviver com a doença sem medo de morte e sequelas”, finaliza Condino-Neto.
O que significa a covid longa em crianças?
Para as crianças que já tiveram covid, a Dra. Ana Karolina Barreto Marinho, membro do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), orienta que os pais fiquem atentos caso a criança persista indisposta passado o período de infecção aguda pelo vírus. Sintomas como fadiga, insônia, dor nas articulações, problemas respiratórios, erupções na pele e palpitações cardíacas estão entre os relatados pela médica, em nota. “A orientação é procurar o pediatra ou serviço de saúde para entender se aqueles sinais e sintomas fazem parte da covid longa, ou se fazem parte de outra doença ou condição médica”, diz a especialista.
Mesmo completamente vacinadas, as crianças podem ser infectadas pela covid-19 com sintomas mais leves, e os sintomas de covid longa podem aparecer mesmo em quem recebeu todas as doses da vacina. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a condição pós-covid ocorre geralmente três meses após o início da covid-19 sintomática e dura pelo menos dois meses.
* Conteúdo produzido com informações do Observatório de Saúde na Infância (Fiocruz), Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, Instituto Butantan e Portal G1.
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