Como está a vacinação contra a covid-19 entre as crianças?

Doença mata duas crianças abaixo de cinco anos por dia e apresenta baixos números de adesão à imunização entre crianças de 5 a 11 anos

Eduarda Ramos Publicado em 06.07.2022
Vacinação, covid e crianças: na imagem, uma menina branca recebe uma vacina no braço de um enfermeiro negro. Ela está acompanhada por sua mãe, uma mulher também branca.
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Resumo

Sem vacina para crianças de até cinco anos, os pequenos são os mais vulneráveis a contraírem formas graves da doença, o que pode resultar em sequelas ou até mesmo morte. Duas crianças de até cinco anos morrem diariamente com a doença.

Apenas 37,9% das crianças entre 5 e 11 anos completaram o esquema vacinal contra a covid-19 com duas vacinas até 26 de junho, segundo dados levantados pelo G1 em parceria com o consórcio de veículos de imprensa. Além dos perigos que os baixos números de vacinação trazem para a saúde pública infantil, as crianças com menos de cinco anos estão ainda mais expostas por não terem nenhum imunizante disponível para elas no país. Segundo a Fiocruz, desde o início da pandemia, a covid-19 mata duas crianças abaixo de cinco anos por dia, cenário que se agrava cada vez mais com a demora em obter vacinas para essa faixa etária.

“As crianças ainda possuem um sistema imune em formação e não têm a mesma oportunidade de defesa comparada com um adulto”, conta Antonio Condino-Neto, médico, pesquisador e presidente do departamento de Imunologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Ele explica que, apesar da variante ômicron possuir uma repercussão clínica mais branda do que outras variantes, ela é extremamente transmissível, o que torna necessário e urgente ampliar os esforços de vacinação voltados às crianças. 

Números da pandemia para as crianças

Em análise realizada pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) da Fiocruz, 599 crianças faleceram de covid-19 em 2020; 840 em 2021; e 291 até 13 de junho de 2022. Os dados se referem a mortes diretas por covid-19 e mortes em que a doença é uma das causas. A síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica é um dos exemplos de enfermidades graves associadas à covid-19. 

Patrícia Bocolini, coordenadora do Observa Infância, aponta, em nota, que bebês até um ano de idade são os mais vulneráveis à doença: a faixa etária responde por quase metade dos óbitos registrados entre crianças menores de cinco anos. Entre as regiões, o Nordeste apresenta as taxas de mortalidade infantil mais altas associadas à covid-19.

“A cada dia que passamos sem vacina contra covid-19 para menores de 5 anos, o Brasil perde duas crianças”

Demora na vacinação

No Brasil, as únicas vacinas disponíveis para crianças são a da Pfizer, que pode ser aplicada em crianças a partir de 5 anos; e a CoronaVac (Butantan), que pode ser aplicada a partir dos 6 anos. Até o momento, o único pedido de ampliação da faixa etária é do Instituto Butantan, que solicitou a ampliação para vacinação a partir dos três anos à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) há quatro meses. Além da demora de análise da Anvisa, a produção da CoronaVac está suspensa, sem novos pedidos de lotes do imunizante pelo Governo Federal.

Até o momento, Argentina, Bahrein, Chile, China, Colômbia, Cuba, Emirados Árabes, Estados Unidos e Venezuela estão vacinando crianças a partir dos seis meses de idade. Nos EUA, os pedidos para vacinação da faixa etária foram iniciados em junho pelas empresas Pfizer e Moderna. A Pfizer deve pedir o registro da vacina infantil para crianças menores de cinco anos ainda em julho, segundo informações do jornal O Globo, e solicitou à Anvisa um pedido para aplicação da dose de reforço da vacina infantil em 20 de junho.

Se imunizarmos crianças e adolescentes, somado à imunização dos adultos, vamos criar um cinturão de saúde pública em que conseguiremos eliminar as complicações graves e mortalidade por covid, para que seja possível conviver com a doença sem medo de morte e sequelas”, finaliza Condino-Neto. 

O que significa a covid longa em crianças?
Para as crianças que já tiveram covid, a Dra. Ana Karolina Barreto Marinho, membro do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), orienta que os pais fiquem atentos caso a criança persista indisposta passado o período de infecção aguda pelo vírus. Sintomas como fadiga, insônia, dor nas articulações, problemas respiratórios, erupções na pele e palpitações cardíacas estão entre os relatados pela médica, em nota. “A orientação é procurar o pediatra ou serviço de saúde para entender se aqueles sinais e sintomas fazem parte da covid longa, ou se fazem parte de outra doença ou condição médica”, diz a especialista.

Mesmo completamente vacinadas, as crianças podem ser infectadas pela covid-19 com sintomas mais leves, e os sintomas de covid longa podem aparecer mesmo em quem recebeu todas as doses da vacina. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a condição pós-covid ocorre geralmente três meses após o início da covid-19 sintomática e dura pelo menos dois meses.

* Conteúdo produzido com informações do Observatório de Saúde na Infância (Fiocruz), Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, Instituto Butantan e Portal G1

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