Brinquedos que inspiram: 8 iniciativas que promovem inclusão

Artesanais e idealizados por mulheres, negócios sociais que buscam trazer maior representatividade para o universo do brincar

Da redação Publicado em 08.12.2022
Brinquedos educativos: foto colorida de bonecas indígenas que estão ao ar livre, em meio a árvores, e são exemplos de brinquedos educativos
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Resumo

Bonecas cadeirantes, bonecos indígenas, jogos dos Orixás e peças de madeiras pensadas para crianças autistas: conheça sete iniciativas que buscam construir brinquedos mais inclusivos e que inspirem o respeito à diversidade.

Apesar de terem inspirações e endereços distintos, essas iniciativas apresentam algo em comum. Todas elas são artesanais e idealizadas por mulheres que se depararam com a falta de representatividade no mercado de brinquedos. Seus trabalhos têm o objetivo de trazer inclusão para as brincadeiras e atender diferentes públicos. Apostando que todas e todos podem se encantar e se divertir ao se reconhecerem e também ao entrarem em contato com aquilo que diverge de si. O importante é sair dos padrões e fortalecer a autoestima das crianças. Para isso, o Lunetas selecionou uma série de brinquedos educativos para as crianças.

Conheça essa lista de brinquedos educativos

  • 1. Bonecas Tikuna

We’e’ena Tikuna é uma artista plástica, nascida na Terra Indígena Tikuna Umariaçu, no Amazonas, na região do Alto Rio Solimões. Ela é a responsável pela produção de uma linha de bonecas artesanais em homenagem à sua aldeia de origem.

Sem cintura ou padrões esperados, as bonecas são feitas com algodão cru e Tururi. Essa é uma fibra vegetal que envolve os frutos de uma palmeira chamada Ubuçu, espécie encontrada na região amazônica. Os grafismos nos rostos e nas roupas dos bonecos e bonecas fazem parte da cultura do povo Tikuna. E são mais um elemento para a inclusão da história dos povos indígenas no universo das brincadeiras. 

  • 2. Bonecas Anaty

“Anaty” significa “menina” em tupi-guarani. O nome da marca não é à toa: foi a neta da artista Luakam Anambé, Luiza Anaty, que trouxe inspiração para o início da produção das bonecas de pano, costuradas com roupas e pinturas do povo indígena Anambé, localizado no Pará. A iniciativa, que completa nove anos em 2022, foi, segundo Luakam, uma oportunidade para curar um trauma de infância. Quando ela, aos oito anos, trabalhava como empregada doméstica e a dona da casa lhe negou o brinquedo.

O trabalho até inspirou a produção do livro infantil “Luakam e a boneca Anaty” (Cria Editora), de Nádia Alonso. A artista também conta com a ajuda de sua filha, Átina, envolvendo três gerações da família nessa história que busca levar mais representatividade para as brincadeiras dos curumins de todo o Brasil.  

  • 3. Bonecas de propósito

Elas não são princesas, nem super-heróis. Mas quem as faz acredita que elas têm grandes poderes terapêuticos para crianças em tratamento de câncer e outras doenças severas. “Bonecas de propósito” é um projeto que existe desde 2014, idealizado pela museóloga aposentada Fernanda Candeias. Ele conta, semanalmente, com uma equipe de voluntárias para a confecção.

Muitas delas são costuradas sem cabelo, com perucas e chapéus, para crianças em quimioterapia, outras têm uma abertura na frente do peito, onde cabe um coração bordado, para agradar quem fez uma cirurgia cardíaca, ou ainda algumas apresentam fissuras labiopalatinas. Os brinquedos foram pensados para que as crianças pudessem se reconhecer e ter mais uma companhia para enfrentar o momento de tratamento que estão passando. 

  • 4. Preta Pretinha

Localizada na Vila Madalena, em São Paulo, a loja de bonecas Preta Pretinha foi fundada pelas irmãs Lúcia, Joyce e Maria Cristina Venancio, em 2000, a primeira loja de bonecas negras do Brasil. A criatividade está no sangue e foi herdada da avó, que costurava bonecas para as irmãs levarem para a escola. Em 2009, elas criaram o Instituto Preta Pretinha, com o objetivo de fortalecer a autoestima de famílias negras por meio do artesanato. Em 2017, o projeto foi reconhecido como ponto de cultura e se espalhou por escolas públicas e privadas, ajudando a fortalecer a bandeira antirracista erguida pela família. 

  • 5. Bonecos educativos

Tudo começou em 2015, quando uma amiga pediu que a artesã Cristiane Mendonça fizesse um boneco com as características de uma criança com síndrome de Down. O trabalho permitiu que ela conversasse com a filha Sofia sobre representatividade. Assim, começou a produzir bonecas com diferentes tipos de deficiência e também diferentes tipos de doenças.

Então nasceram cadeirantes de pano, bonecos cegos, com nanismo, vitiligo e alopecia (perda de cabelo). Tudo isso para dizer às crianças que ninguém é igual, mas todas e todos estão ali lado a lado, representados no universo do brincar. Após a produção da linha, chamada de “Amigos da inclusão”, Cristiane passou a investir em bonecos educativos, com personagens variados do cinema, da literatura, além de personalidades inspiradoras da história. 

  • 6.  Fulelê

Aproximar bebês e crianças das culturas africanas e afro-diaspóricas por meio de livros, jogos e brinquedos afro-referenciados. Esse é o objetivo da Fulelê, criada por Denise Aires, em 2020. Ela conta que buscava quiet books (livros com o objetivo de desenvolver a coordenação motora fina e estimular os sentidos) com a temática afro para o filho Lukeny, na época com dois anos. Como não encontrou nenhum, resolveu desenhar ela mesma um livro sensorial a partir de pesquisas realizadas ao longo dos anos.

Ao lançar as primeiras peças, o retorno foi imediato. “Outras famílias e profissionais também sentem a necessidade de trazer referências africanas positivas para as crianças para, quem sabe no futuro, termos um país menos desigual”, diz Denise. Dominó afro, quebra-cabeça, afrocubo, máscaras e jogo do baobá: em dois anos, a empreendedora lançou mais de dez peças autorais e ainda conta com muitos projetos desenhados para serem confeccionados. 

  • 7. +Divertido: brinquedos que estimulam

O empreendimento surgiu em Boa Vista (RO) por necessidade e Zuleide Martins mal sabia que daria certo. Aos quatro anos, seu filho Vinícius, hoje com sete, foi diagnosticado com autismo e a mãe passou a estudar para entender como poderia auxiliá-lo da melhor forma. Quando percebeu que peças coloridas, carrinhos de madeira e jogos com bastões o ajudariam no estímulo da fala e na convivência social, montou a própria fábrica de brinquedos.

Desde então, inspirada na sua experiência, ela passou a atender outras mães, pais, cuidadores e profissionais com as mesmas necessidades, por meio de sua produção artesanal. “É muito gratificante poder atender uma criança atípica. É incrível quando uma mãe me pede um brinquedo especial, de determinada cor, porque tem hiperfoco ou porque o filho gosta”, confessa. 

  • 8. Baobá é memória

Baobá é memória” é o primeiro trabalho lúdico voltado para o público infantil da escritora Thata Alves. É um jogo da memória com figuras dos Orixás, apresentando cores, adereços, vestimentas e suas respectivas saudações. Mãe de gêmeos, e filha de santo no candomblé, Thata afirma que as cartas surgem como resposta à intolerância religiosa que presenciou com uma criança iniciada no candomblé e também à falta de representatividade nos brinquedos que buscava para seus filhos.

“O jogo tem como propósito proporcionar o aprendizado sobre os Orixás de forma intuitiva e inconsciente pelas crianças”, revela. Ela acredita que o jogo possa ser uma ferramenta que ajude a iniciar um diálogo com as crianças, contribuindo para romper com estigmas em torno das religiões de matriz africana. 

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