11 bonecos de pano para redescobrir as lendas amazônicas

Brincando, o educador Ângelo Fonseca estimula as crianças a se reconectarem com figuras famosas de contos indígenas e caboclos

Da redação Publicado em 22.09.2022
A imagem mostra três bonecos de pano, um ao lado do outro.
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Resumo

Curupira, Saci, Iara, Boto, Vitória-régia, Matinta Pereira e outros mistérios que vivem no território amazônico: o educador paraense Ângelo Fonseca decidiu contar às crianças nove lendas a partir da costura de bonecos.

Resistência e luta pela cultura popular brasileira. Esta é a missão do educador paraense Ângelo Fonseca, também conhecido como Mestre Saci Ângelo. Aos 65 anos, ele costura bonecos de pano para recontar os encantos das lendas amazônicas. “Quero perpetuar a identidade dos povos amazônicos. Os bonecos foi a forma que encontrei de me comunicar com mais facilidade com as crianças”, diz.Ângelo nasceu no município de Alenquer, no Baixo Amazonas, região onde atualmente projeta uma escola de arte e educação com o objetivo de resgate e preservação da cultura da floresta. 

Após um processo de pesquisa e produção, o educador se apresenta em escolas para conversar com crianças e adolescentes. Além do espetáculo, ele ensina jovens e suas famílias a produzirem bonecos de pano, que podem servir também como fonte de renda. Dessa maneira, por meio de manis, botos, icamiabas e sacis, os encantos da região vão oferecendo outros sentidos à história local e repovoando o imaginário das novas gerações. A seguir, o Lunetas conta a origem de alguns  bonecos produzidos pelo educador. 

“Temos uma história que precisa ser preservada. Não podemos se dizimados”

  • 1 Boto

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Ursula Bahia Photografia/Divulgação

Boto, boneco de pano produzido pelo educador Ângelo Fonseca

Ele é um encantado do rio, mas se veste de branco e aparece durante a noite em festas de povoados ribeirinhos para seduzir as moças, que quase sempre acabam engravidando. O chapéu esconde o furo na cabeça por onde o bicho das águas respira. Pajés e curandeiros recorrem à magia para impedir que as mulheres sejam vítimas da influência desse “Don Juan caboclo”. Na região, dizem “os filhos do Boto” para as pessoas cuja paternidade é desconhecida. 

  • 2 Curupira

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Ursula Bahia Photografia/ Divulgação

Curupira, boneco de pano produzido pelo educador Ângelo Fonseca.

Com seus cabelos de fogo e pés ao contrário, o Curupira protege as florestas. A criatura é capaz de confundir e até enlouquecer aqueles que a invadem em busca de puro prazer ou destruição. Só recebe sua proteção quem respeita as matas, caça ou busca recursos por necessidade. 

  • 3 Iara

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Ursula Bahia Phitografia/ Divulgação

Iara, boneca de pano produzida pelo educador Ângelo Fonseca.

Iara é uma ninfa irresistível. Chamada de “Vênus amazônica”, sua voz é melindrosa e atrai crianças e outras pessoas para dentro do rio. Dizem que os desaparecidos foram “encantados”, ou seja, estão no fundo das águas sendo iniciados no preparo dos remédios e todos os mistérios da magia. Depois de sete anos, o jovem retorna para junto dos seus, quando se torna uma espécie de xamã.  

  • 4 Mapinguari

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Ursula Bahia Photografia/ Divulgação

Mapinguari, boneco de pano produzido pelo educador Ângelo Fonseca.

Existe um gigante peludo com olho na testa e boca no umbigo que vive nas florestas amazônicas. Ninguém sabe ao certo se sua armadura é feita de casca de tartaruga ou couro de jacaré. Ele não teme caçadores, pois é capaz de dilatar o aço da espingarda com um sopro. Algumas histórias associam essa figura aos indígenas que atingiam uma determinada idade e passavam a viver solitários no meio da mata.  

  • 5 Matinta Pereira

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Ursula Bahia Photografia/ Divulgação

Matinta Pereira, boneca de pano produzida pelo educador Ângelo Fonseca.

Matinta Pereira é associada à figura de uma bruxa cabocla, que se transforma em gato, pássaro, porca e morcego, que pousa nas casas de pequenos vilarejos. Quem já escutou o assobio da velha garante que é de arrepiar a alma. Para evitar os maus presságios trazidos por ela, os habitantes da casa oferecem tabaco e cigarros. 

  • 6 Vitória-régia

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Urusla Bahia Photografia/ Divulgação

Vitória-régia, boneca de pano produzida pelo educador Ângelo Fonseca.

Conta a lenda que uma jovem indígena chamada Naiá adorava ver a lua (Jaci) ao anoitecer. Diziam que Jaci descia à procura de uma virgem para transformá-la em estrela. Em virtude disso, Naiá saía todos os dias para buscar a sorte de alcançar os céus. Um dia, afogou-se ao se encantar com o reflexo da lua nas águas do igarapé. Jaci, reconhecendo o esforço da moça, a transformou em Vitória-régia, essa flor que só abre suas pétalas e exala o perfume sob a luz do luar. 

  • 7 Saci

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Ursula Bahia Photografia/ Divulgação

Saci-pererê, boneco de pano produzido pelo educador Ângelo Fonseca.

Um personagem famoso do folclore brasileiro, o Saci-pererê é conhecido por ter uma perna só e estar sempre com o cachimbo na boca. Ele gosta de pregar peças nas pessoas, deixando a comida queimar, escondendo objetos, entre outras travessuras. No entanto, sai voando entre o redemoinhos de vento sem que o vejam. O segredo para sua obediência é capturá-lo com uma peneira, retirar seu gorrinho vermelho e prendê-lo numa garrafa.  

  • 8 Jurupari

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Ursula Bahia Photografia/ Divulgação

Jurupari, boneco de pano produzido pelo educador Ângelo Fonseca.

Existem muitas narrativas ligadas a Jurupari, do mal que provoca pesadelos até o maior legislador entre os indígenas. Sua figura está associada aos rituais de iniciação masculina. Ângelo prefere a versão de que Jurupari foi um deus que veio dos céus à procura de uma esposa perfeita para o Sol, uma missão inatingível. Enquanto conviveu com os homens, estabeleceu condutas morais de relacionamento amoroso, higiene pessoal, plantio e restituiu o patriarcado entre as aldeias. 

  • 9 Ataíde

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Ursula Bahia Photografia/ Divulgação

Ataíde, boneco de pano produzido pelo educador Ângelo Fonseca.

Um ser com cara de porco e genitais que chegam até o chão. Ele tem pinta de monstro e circula pelos manguezais do litoral paraense. Não faz mal nenhum a quem vive com respeito catando alimento do mangue, mas exige lealdade à andada, época de acasalamento das espécies, quando é proibida a extração de caranguejo. Caso contrário, sua vingança é cruel.  

  • 10 Mani

Mani nasceu em uma aldeia no interior do Pará, com a promessa de trazer prosperidade a seu povo. Diferente dos demais, era uma menina de pele muito branca. Ao completar um ano de vida, morreu misteriosamente e foi enterrada dentro da oca em que vivia. Exatamente ali nasceu uma planta de raiz branca e folhas comestíveis. A menina havia renascido para alimentar a aldeia, por isso, a planta ganhou o nome de “Manioca”, que, em Tupi, significa “cada e Mani”. 

  • 11 Icamiabas

Elas eram guerreiras altas e de cabelos compridos, que viviam montadas em cavalos. Eram conhecidas como icamiabas, mas, quando os espanhóis chegaram na região, as associaram com as guerreiras amazonas, da mitologia grega. Essas mulheres não deixavam os homens se aproximarem delas. Uma vez ao ano, em lua cheia e fértil, preparavam baguetes à beira do rio e se perfumavam para celebrar um período de procriação. Após o banho, faziam muiraquitãs, amuletos da sorte em formato de sapo. As crianças nasciam meses depois: os meninos eram entregues aos guerreiros (guacaris) e as meninas eram criadas pelas icamiabas. 

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