Estudo do Unicef mostra a dominância de produtos ultraprocessados no consumo cotidiano de famílias em situação de vulnerabilidade social
Em estudo publicado pelo Unicef, 72% das crianças abaixo de 2 anos contempladas pelo Bolsa Família já consomem ultraprocessados. 99% dos entrevistados dependem do benefício para comer.
Diante da vulnerabilidade social e da insegurança alimentar no Brasil acentuadas pela pandemia de coronavírus, crianças são, muitas vezes, vítimas invisíveis destes acontecimentos. No estudo “Alimentação na primeira infância: conhecimentos, atitudes e práticas de beneficiários do Programa Bolsa Família”, dados sobre a alimentação de crianças de até seis anos que vivem em famílias contempladas pelo Bolsa Família foram veiculados em uma publicação do Unicef, em novembro de 2021.
Dos 1.343 entrevistados, 79,5% são mães, sendo elas as principais responsáveis pelo sustento da família. Quase a totalidade da amostra (99,8%) depende de algum benefício ou doação para conseguir se alimentar, sendo que, durante a pandemia, a porcentagem de crianças que deixaram de fazer alguma refeição no dia subiu de 54% para 72%.
Segundo o Índice de Desperdício de Alimentos lançado pela ONU em 2021, cerca de 60 quilos de comida são jogados no lixo anualmente por cada brasileiro – e o que vai para a lixeira poderia alimentar 12 milhões de pessoas em um ano. Em janeiro de 2020, foi estimado que 41 milhões de pessoas fossem contempladas pelo Bolsa Família, aproximadamente 6,5% da população total do país.
Dos entrevistados, 81% residem em áreas urbanas e 58% não exercem ocupação remunerada. Um ponto de preocupação foi o alto consumo de ultraprocessados por crianças abaixo de dois anos, pois 72% delas já consumiram produtos como biscoitos recheados/salgados, bebidas açucaradas, doces ou guloseimas. Achocolatados e cereais matinais são consumidos mais de cinco vezes na semana por 37,5% das famílias, motivadas prioritariamente por fatores como sabor, preço e praticidade, não atrelando os ultraprocessados a hábitos saudáveis.
Da percepção das famílias com os ultraprocessados, 91% relatam que são alimentos que aumentam a chance de problemas de saúde, porém ainda existem problemas voltados à falta de informação: pouco menos da metade (48%) das famílias não se sente confiante para interpretar os rótulos dos alimentos, e apenas 34% afirmaram que costumam lê-los e entendê-los com frequência antes da compra. Também há uma alta porcentagem de famílias que colocam açúcar nas bebidas cotidianamente, atingindo 40% da amostra.
A alimentação é um direito assegurado na Constituição de 1988 e é o segundo dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS). O estudo aponta a necessidade de governos se comprometerem para o estabelecimento de políticas de proteção e ampliação do acesso físico e financeiro a alimentos in natura, além da criação de leis que protejam e fortaleçam a produção local e sustentável de alimentos, valorizem as práticas culinárias tradicionais e incentivem o consumo de alimentos regionais provenientes da agricultura familiar.
Algumas das medidas sugeridas pelo Unicef para mudar este cenário são:
* O Bolsa Família foi descontinuado em novembro de 2021, sendo substituído pelo Auxílio Brasil.
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