Acampamento Terra Livre: povos indígenas lutam pelo bem comum

Mobilização indígena pode ser oportunidade para falar com todas as crianças sobre os direitos dos povos originários, a crise climática e o respeito à cultura

Célia Fernanda Lima Publicado em 10.04.2025
Imagem mostra criança indígena com um cocar e com uam placa escrita 'demarcação já'.
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Resumo

Maior encontro indígena da América Latina marca a luta dos povos originários por mais direitos, proteção de suas crianças e alerta para a crise climática. Entenda como o Terra Livre pode ser explicado a todas as crianças e adolescentes.

Há vinte e um anos, representantes de povos indígenas das cinco regiões do Brasil se encontram em uma grande mobilização no mês de abril, em Brasília. O Acampamento Terra Livre, organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), é a maior reunião de pessoas originárias da América Latina para discutir questões sociais que afetam as comunidades e toda a população.

Direitos Humanos, crise climática, reconhecimento de saberes ancestrais, demarcação de terras indígenas e exploração da natureza são os principais temas do Terra Livre. Este ano, a mobilização iniciou no dia 7 de abril e vai até o dia 11. A Apib estima que 150 povos indígenas do Brasil e de outros países estão presentes com mais de 7 mil participantes.

Além disso, todas as pessoas não indígenas podem visitar o acampamento, participar de algumas atividades, dialogar com os representantes e conhecer mais a cultura de cada povo. Afinal, é uma oportunidade de aprender e somar na luta pelos direitos dos povos originários, que impacta toda a sociedade, sobretudo as novas gerações.

“Nós, povos indígenas, seguimos em luta para que a Constituição seja respeitada. Isso passa pela garantia e implementação de nossos direitos, pelo respeito às instituições e pela escuta ao movimento indígena. Só assim poderemos fortalecer, de fato, a democracia brasileira.” – Dinamam Tuxá, coordenador executivo da Apib.

Terra Livre também é assunto de criança

Entre as tendas e os alojamentos, várias crianças e adolescentes indígenas participam com os familiares de alguma atividade. Seja nas conversas ou entre as brincadeiras, meninas e meninos vão compreendendo desde cedo os seus lugares de fala e de luta.

“Eles precisam compreender que a luta não é fácil. É ouvindo palavras como ‘direitos’ e ‘resistência’, que aprendem devagar, e isso vai ser lembrado no futuro”, explica Alva Rosa Tukano, doutora em Educação e presidente do Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena do Amazonas.

Presente em Brasília desde o início da programação, Alva faz questão de conversar com os mais jovens sobre os motivos da mobilização. “As crianças começam a entender, ouvir. Eu falo muito aos jovens que eu já tive a idade deles e ficava ouvindo as assembleias. Foi assim que aprendi, aos poucos, a participar”, diz. Na Comissão Guarani Yvyrupa, por exemplo, adolescentes das comunidades de Ubatuba (SP) e Paraty (RJ) também estão presentes nas atividades.

“A presença das crianças no Acampamento Terra Livre é importante porque elas vão lutar amanhã e precisam começar a aprender sobre seus direitos hoje.”

Às crianças e adolescentes não-indígenas, Alva também defende que é importante conhecer e ouvir o que as lideranças têm a dizer. Por isso, reforça que o Acampamento Terra Livre pode ser visitado por quem quiser dialogar e entender mais sobre a cultura e os direitos dos povos originários.

“O acampamento chama a atenção e as crianças ficam curiosas para saber porque estamos aqui. Então, esse é o momento de explicar a todos sobre as nossas lutas”, conta. “É importante as pessoas não-indígenas saberem do movimento e conhecerem mais, pois nós somos os povos originários e sempre estivemos aqui.”

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Foto: FNEEI / via Alva Tukano

No Acampamento Terra Livre, em Brasília, crianças participam com suas famílias ouvindo as lideranças e fazendo parte dos movimentos culturais e políticos.

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Foto: Po pygua / Divulgação Apib

Na programação, indígenas de mais de 150 povos marcham pelas ruas de Brasília reivindicando direitos à saúde, educação, segurança e territórios demarcados.

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Foto: Sandy Yusuro / Divulgação Apib

Para os manifestantes, esse é o momento de somar à luta dos povos originários e contar a todas crianças e adolescentes sobre a história e a cultura indígena, para que entendam os motivos da mobilização.

“Povos indígenas somos todos nós”

O tema central deste ano é “Apib somos todos nós – Em defesa da Constituição e da vida”. O que reforça a luta indígena para o respeito aos direitos e, sobretudo, o cuidado à vida das novas gerações. Ou seja, de suas crianças e adolescentes. 

“Chega de criança ser morta, chega de as nossas mães estarem aí ingerindo veneno, mercúrio, pelos rios, chega de peixes sendo envenenados”, – Roberto Terena, representante do Conselho Terena.

A reflexão sobre a vida das crianças indígenas é uma urgência, pois muitas vivem em condições de vulnerabilidade social e com pouco acesso à saúde. De acordo com o Unicef, as crianças indígenas do Brasil possuem duas vezes mais risco de morrer antes de completar um ano do que as outras crianças. Isso porque algumas comunidades carecem de projetos para melhorar a nutrição, saúde e segurança de meninos e meninas. Além disso, a presença de mercúrio nos rios explorados pelo garimpo contamina as famílias, principalmente as mulheres grávidas.

A marcha final acontecerá na tarde desta quinta-feira, em Brasília, com o tema “A Resposta Somos Nós”, manifestando a importância da presença indígena nas discussões da COP-30, que será em novembro, em Belém (PA).

21º edição do Acampamento Terra Livre 2025
Data: de 7 a 11 de abril
Local: Complexo Funarte – Setor de Divulgação Cultural, Lote 02, Plano Piloto. Brasília – DF
Tema: “APIB Somos Todos Nós: Em Defesa da Constituição e da Vida”
Programação: disponível no site da Apib

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