Bebel Barros: ‘A quarentena e a falta que faz estar lá fora’

A pandemia ressalta a falta que temos do contato com a natureza e a potência de estar ao ar livre

Bebel Barros Publicado em 23.04.2020
Imagem de uma menina de cabelos loiros e longos. Ela está sentada em frente a uma janela e olhando para a natureza lá fora. Ao fundo, árvores amareladas que dão o clima do outono.
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Resumo

A quarentena e o distanciamento social evidenciaram a falta que faz estar ao ar livre para a nossa saúde física e mental. A autora aponta reflexões sobre como adultos e crianças podem, a partir desta experiência, rever a sua relação com a natureza.

Duas notícias chamaram a atenção no auge da quarentena: centenas de pessoas saíram de casa e lotaram os parques queridos pela população de Curitiba e uma das praças mais tradicionais de São Paulo. Embora décadas de pesquisas apontem os inúmeros benefícios de estar ao ar livre, foi preciso ficarmos isolados em casa para perceber a falta que faz estar lá fora, tomando sol, vendo o céu, sentindo o vento no rosto e contemplando a natureza.

Em todo o mundo, vemos exemplos de pessoas voltando-se para o exterior em busca de paz, restauração e conforto – mesmo que seja a partir de uma janela ou varanda. Pais, mães, educadores e especialistas vêm unindo esforços para disseminar possibilidades criativas de trazer a natureza para dentro da vida das crianças nessas semanas críticas.

Alguns conteúdos sobre o assunto podem ser acessados nas redes sociais do programa Criança e Natureza e da Children & Nature Network.

É fundamental que as crianças aproveitem toda e qualquer oportunidade de contato com o céu aberto, com o sol e com a natureza. Ao ampliar sua exposição à luz solar, contribuímos para aumentar os níveis de vitamina D e diminuir o estresse e a ansiedade, o que por sua vez pode reforçar o sistema imunológico e reduzir o risco de infecções.

Também precisamos tentar mantê-las ativas fisicamente, equilibrando o tempo que passam nas telas com outras atividades, de forma que possam sentir-se melhor e, consequentemente, dormir melhor. Tudo isto torna o seu sistema imunológico mais robusto, fortalecendo sua defesa contra a Covid-19 ou qualquer outro desafio à sua saúde.

É possível colocar em prática estratégias novas e criativas para mantermos as crianças ligadas ao mundo natural, mesmo dentro de casa, como pedir para ajudar no cuidado com as plantas ou incentivá-las a brincar em algum espaço que receba iluminação, para que possam sentir o calor do sol.

A pandemia também torna mais evidente, a cada dia que passa, que muitas meninas e meninos não têm acesso equitativo à natureza.

Precisamos encontrar formas de manter todas as crianças, especialmente aquelas que se encontram em situação de maior risco e vulnerabilidade, física e mentalmente saudáveis. Nesse contexto, o caminho mais curto é o apontado por Pedro Hartung: para garantir os direitos das crianças em tempos de pandemia – e o direito à natureza e seus benefícios é um deles – é necessário fortalecer políticas e ações que tragam segurança para seus cuidadores. É preciso cuidar de quem cuida.

Ninguém sabe como sairemos do isolamento imposto pela pandemia de Covid-19 e como será nossa relação com o ambiente natural depois da experiência da quarentena. Uma crise, especialmente desta intensidade, inspira reflexão e suscita questões difíceis. Será que a humanidade verá essa vivência como uma manifestação explícita do profundo desequilíbrio que o planeta vive? Será que iremos perceber, como coletividade, que somos natureza e fazemos parte dessa intrincada, complexa e interligada rede de vida, e que nenhuma ação ocorre isoladamente, nem fica sem resposta? Perceberemos que as crianças não devem ficar confinadas e que elas precisam de autonomia e liberdade para explorar o mundo?  Conseguiremos diminuir a imensa desigualdade que existe entre pessoas e nações?

A pandemia é uma enorme tragédia, mas também pode ser uma oportunidade de transformação e mudança. Que possamos sair dela mais fortes para construir um planeta saudável, de mãos dadas com as crianças, que não se percebem separadas da natureza e anseiam por ela dentro e fora da quarentena.

*Bebel Barros é Engenheira Florestal, mestre em Conservação de Ecossistemas e sempre trabalhou com educação e conservação da natureza. Desde 2015 é pesquisadora do programa Criança e Natureza do Instituto Alana.

** Este texto é de exclusiva responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Lunetas. 

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