A falta de saúde pública leva crianças yanomami à morte

Mortes de crianças yanomami por desnutrição grave e violência refletem falta de medidas sanitárias em seus territórios

Da redação Publicado em 23.01.2023
Imagem de uma mulher indígena segurando um bebê, também indígena. A foto está em preto e branco e ilustra uma matéria sobre como crianças yanomami lidam com a emergência em saúde que vivem.
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Resumo

Yanomamis enfrentam a malária, a desnutrição e a violência de garimpeiros em seus territórios. Em estado de emergência de saúde pública decretado na sexta (20), mais de 30 mil indígenas podem ser afetados pelo descaso de autoridades e crimes cometidos em suas terras.

Nos últimos quatro anos, 570 crianças com menos de 5 anos morreram em territórios Yanomami por mortes evitáveis. Isso significa que elas estão morrendo por desnutrição grave (em 2022, 52% das crianças yanomami com até 12 anos estavam desnutridas, enquanto 8 a cada 10 delas tinham desnutrição crônica), infecção respiratória aguda (IRA), pneumonia e outras doenças, como diarreia e malária (entre 2021 e 2022, foram 44 mil casos de malária, quase metade de todos os casos registrados em indígenas neste período).

As mortes de crianças yanomami são 29% maiores quando comparadas ao período pré-2019, segundo levantamento realizado pela Sumaúma Jornalismo. Outros problemas enfrentados pelos yanomami são violência física e sexual, surtos de doenças sexualmente transmissíveis e contaminação por mercúrio decorrente do garimpo ilegal na região, que matou 99 crianças yanomami apenas em 2022.

A crise é de todos nós

Diante dessa realidade que reflete a falta de políticas direcionadas à população indígena, o Ministério da Saúde decretou emergência de saúde pública, nesta sexta (20). De acordo com Nísia Trindade, Ministra da Saúde, a situação é “uma emergência sanitária de importância nacional semelhante a uma epidemia”. Joênia Wapichana, advogada e futura presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, relata, em nota, que “o caso dos yanomamis é uma catástrofe humanitária”, além de reforçar como o garimpo “levou a um alto nível de violência, conflitos e degradação ambiental, que afeta a saúde com a questão da contaminação por mercúrio”.

“A situação do povo Yanomami, decretada como crise humanitária, é uma crise que ameaça a nossa geração” – Joênia Wapichana

Com território demarcado em 1992, a reserva indígena yanomami é a maior do país, com 9,6 milhões de hectares e aproximadamente 371 comunidades, com mais de 30,4 mil habitantes vivendo no local – entre eles, mais de 5 mil crianças. Segundo levantamento realizado pelo Instituto Socioambiental (ISA), cerca de 20 mil garimpeiros circulam pelos territórios yanomami, com aproximadamente 500 hectares de terra devastada em 2020.

O que está sendo feito no local?

Entre as ações de socorro do Ministério da Saúde, estão o envio imediato de cestas básicas e suplementos alimentares, bem como medidas de atenção à saúde, com transferência de equipamentos, material médico e profissionais. Campanhas como a realizada pela Central Única das Favelas (Cufa) e Frente Nacional Antirracista (FNA) para ajudar os yanomami visam reforçar a logística para distribuição de alimentos. É esperada a abertura de inquérito policial para apurar genocídio e crimes ambientais no território, com a previsão de que um levantamento completo sobre a situação de saúde dos yanomami seja lançado nos próximos 15 dias.

* Com informações do Ministério da Saúde (1) (2) e Sumaúma Jornalismo.

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