Como falar sobre tragédias com as crianças?

Crises humanitárias, desastres naturais e violências de toda ordem afetam a vida de milhares de pessoas no mundo. Como conversar com os pequenos sobre?

Eduarda Ramos Publicado em 06.02.2023
Imagem em preto e branco de um pai olhando o filho esconder o rosto, com a cabeça entre os braços acima dos joelhos.
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Resumo

Falar sobre tragédias nunca é fácil, mas o processo deve ser acolhedor: o adulto precisa se mostrar disponível e ouvir as crianças de maneira adequada.

Tragédias chegam às crianças pelos noticiários e conversas das quais elas participam diariamente. Elas têm visto indígenas yanomami morrendo frente a uma política de genocídio; jovens negros assassinados, como Tyre Nichols que foi morto por policiais nos Estados Unidos; e desastres naturais que atingiram a Síria e a Turquia neste fim de semana, deixando centenas de mortos.

Sensibilizadas por tantos acontecimentos, como acolher as crianças e falar das tragédias a que estão expostas, sem causar traumas? Especialistas ouvidos pelo Lunetas mostram caminhos para o diálogo em casa e nas escolas quando mais um caso acontece, no Brasil ou no mundo.

Cuidados na exposição em casa

Embora seja importante falar sobre tragédias com as crianças, deixá-las expostas aos fatos noticiados pela televisão ou na internet não é a melhor alternativa, ressalta a psicóloga e educadora Cláudia Mascarenhas. “Vida de criança é de criança, e de adulto é de adulto. Os pais precisam se dar conta e perceberem que os pequenos não estão consumindo coisas que são de crianças”, diz. Por isso, ela recomenda que prestar atenção nos filhos como o primeiro passo para iniciar esses diálogos mais sensíveis em casa.

“Se esses assuntos já são tocantes para os adultos, imagina para as crianças?”

Para a especialista, o ato de conversar com as crianças, ouvi-las e saber o que elas sentem é essencial. Mas as conversas devem vir acompanhadas de uma postura dos cuidadores que transmita esperança. “Os adultos precisam cuidar das crianças, protegê-las, e devem fazer alguma coisa quando algo sério e triste acontece”, diz.

Ao citar o caso dos indígenas yanomami, Mascarenhas reflete sobre a importância de mostrar que há solução para os problemas, trazendo exemplos de ações realizadas pelo governo ao levar comida, encaminhar médicos e a mobilização geral da população.

E na sala de aula?

Nas escolas em que trabalha, o professor de história Alan Geraldo sempre traz assuntos do cotidiano para a discussão, mas nem sempre as experiências são isentas de dor. O educador relata que não é incomum que os alunos se vejam nas tragédias, ainda mais os alunos de escolas públicas, “que vivem dramas e tragédias com muito mais constância do que os alunos de escolas particulares”, conta, e por isso, acabam se envolvendo mais nos acontecimentos. “Dependendo do rumo que vai a conversa, o negócio acaba virando algo pessoal, com alunos relatando perdas na família ou episódios de assédio”, diz.

O educador reforça que sempre devemos estar preparados para falar sobre tragédias, mas que sensibilizar os alunos e fazer com que eles se envolvam no tema e tenham curiosidade passa por criar identificação em acontecimentos tristes da vida. “A perda de um familiar, por exemplo, é coisa que todo mundo vive e passa. É importante trazer o assunto pra mesa e tentar oferecer uma perspectiva de que a vida é feita de fases, condições e contextos”, finaliza.

“Quando a gente traz esses assuntos, temos que estar prontos para acolher as crianças”

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