7 livros para ler com as crianças no Dia da Poesia

A poesia encanta leitores de todas as idades e convida a brincar com as palavras. Que tal comemorar o 21 de Março lendo com as crianças?

Renata Rossi Publicado em 20.03.2025
Dia da poesia: imagem mostra ilustração colorida retirada do livro dos limeriques.
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Resumo

Para lembrar o Dia da Poesia, o Lunetas selecionou 7 livros com versos que despertam a imaginação, criam memórias afetivas e ampliam o repertório de crianças e adultos, pois ler poesia é um convite para brincar com as palavras!

“Poemas são textos inventados por poetas. Poetas são sujeitinhos inconvenientes, cheios de vontades, que adoram fazer bagunça e mudar tudo de lugar”, diz o texto de abertura do livro “Ninguém sabe o que é um poema”, de Ricardo Azevedo (Ática). Poetas e crianças têm muito em comum: ambos encaram o mundo com olhos de espanto e curiosidade, e nem sempre se importam com a lógica.

“Toda criança até uns quatro ou cinco anos é um poeta, não? Elas dizem coisas incríveis, inesperadas, reveladoras”, defende Fabrício Corsaletti, autor de poesia, contos e crônicas. Ele acredita que as crianças são muito mais abertas para experiências com a linguagem do que os adultos, pois ainda não têm preconceitos com gêneros literários e mais, “aceitam a linguagem poética, porque é o estado mais divertido, mais lúdico de uma língua.”

Corsaletti acredita que os adultos têm dificuldade com a poesia porque tentam encontrar uma utilidade para ela. “Não serve para ‘nada’, apenas para ser poesia. E sem poesia a vida seria pior. Seria menor e mais pobre, sem transcendência. Eu não quero viver uma vida assim. Por isso leio e escrevo poesia”, arremata.

Ele acaba de lançar o “Livros dos limeriques”, em parceria com a ilustradora Yara Kono, pela Editora34. Os limeriques são poemas de uma única estrofe com cinco versos, com métrica e rima próprias. Humor e absurdo são comuns nestes versos, documentados pela primeira vez em livro na Inglaterra, por Edward Lear em 1846. No Brasil, Tatiana Belinky é a grande referência nestes poemas amalucados.

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“O livro dos limeriques”, de Fabrício Corsaletti e Yara Kono (Editora34)

Neste livro, o poeta Fabrício Corsaletti brinca com o nonsense dos limeriques abrindo espaço para a imaginação na companhia da ilustradora Yara Kono. Nos versos, é possível deslizar por um rio de veludo, sentir o cafuné invisível da brisa e até se deslumbrar com os movimentos de um pato em seus patins. É um convite aos adultos para embarcar na diversão da leitura com as crianças.

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Divulgação Livro dos Limeriques / Ilustração Yara Kono

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Divulgação Livro dos Limeriques / Ilustração Yara Kono

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Divulgação Livro dos Limeriques / Ilustração Yara Kono

Poesia no cotidiano: um presente para todas as infâncias

Ler poesia com as crianças é entender as palavras como brinquedos, e se encantar com o mundo por meio das imagens, metáforas e jogos de palavras que esse tipo de texto traz. Poesia não é para ser entendida, mas vivida e sentida. Por isso, para lembrar o dia 21 de março, Dia da Poesia, trazer os versos para a rotina pode ser um presente. Conheça mais livros de poesias para ler com as crianças:

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“Ou isto ou aquilo”, de Cecília Meireles e Odilon Moraes (Global)

Este é um dos clássicos da literatura infantil que habita a memória afetiva de muitos leitores. Em 2024, a obra completou 60 anos de seu lançamento e ganhou uma edição especial. Se você busca um presente para uma criança, esta é uma excelente escolha! O universo mágico da autora brinca com a simplicidade do dia a dia e da infância. À delicadeza dos versos, somam-se as imagens poéticas dos traços sutis de Odilon Moraes, convidando o leitor a fazer deste livro um refúgio para a infância que habita em cada um de nós. 

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo

poema “Ou isto ou aquilo”

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“Exercícios de ser criança”, de Manoel de Barros, Fernanda Massotti e Kammal João (Companhia das Letrinhas)

É neste livro que está o menino que carrega água na peneira, criado pelo “poeta das infâncias”, como é conhecido Manoel de Barros. O menino que aprendeu a usar as palavras e fazer peraltagens com elas, “Foi capaz de interromper o voo de um pássaro / botando ponto no final da frase”. Junto dele, a menina avoada que faz do quintal seu mundo de brincar, atravessando até um rio inventado com seu irmão. As amalucadas palavras de Barros ganham cor e forma com as ilustrações de Fernanda Massotti e Kammal João.  

A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.

Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.

trecho de “O menino que carregava água na peneira”

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O caderno do jardineiro”, de Angela-Lago (Timbo)

Primeiro e único livro de poesia escrito e ilustrado pela mineira Angela-Lago, traz 26 breves poemas em que as flores pedem passagem. Assim como o trabalho do jardineiro, o do poeta exige paciência e dedicação. Essa delicadeza pode ser percebida na concisão dos versos e na incompletude das imagens, construídas a partir de fotografias feitas pela autora. Uma oportunidade de passear com as crianças pelo jardim de palavras e imagens desta escritora que tanto fez pela literatura infantil e juvenil brasileira.  

o caderno do jardineiro

arar o solo a argila o colo

arejar a terra escura

nesse piso a semente se costura

e, ausente, se desenha a antiga floro mesmo aviso de cor

que logo se aniquila

poema “O caderno do jardineiro”

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“Cada bicho um seu canto”, de Edimilson de Almeida Pereira e Edson Ikê (FTD)

Os animais, em geral, atraem a atenção das crianças. Aqui, as características dos bichos, da troca de pele da cobra à falta de pressa da lesma, são pinçadas pelo poeta para fora do lugar comum. E o jogo não é só na linguagem, mas também na estética do livro. O canto do título remete tanto ao som dos bichos quanto ao espaço que eles ocupam na página.

Dolores

A lacraia

tem um calo

no último pé esquerdo.

São tantas as pernas,

ela nem sabe

em qual dos dedos.

Como o calo

doesse imenso,

vai mancando o corpo inteiro.

poema de “Cada bicho um seu canto”

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“Classificados poéticos”, de Roseana Murray e Mari Inês Piekas (Moderna)

Neste livro, a poetisa Roseana Murray utiliza a estrutura dos classificados de jornais e revistas, mas as trocas, compras e vendas propostas são líricas e inusitadas. Nos versos compram-se gavetas para guardar a infância; troca-se cheiro de cimento por cheiro de orvalho, cheiro de gasolina por cheiro de chuva. Imagine o que as crianças poderiam incluir de seu dia a dia nesses anúncios? E os adultos, o que trariam para trocar, comprar ou vender?    

ATENÇÃO! COMPRO GAVETAS,

compro armários,

cômodas e baús.

Preciso guardar minha infância:

os jogos de amarelinha,

os segredos que me contaram

lá no fundo do quintal.

Preciso guardar minhas lembranças:

as viagens que não fiz,

ciranda, cirandinha

e o gosto de aventura

que havia nas manhãs.

Preciso guardar meus talismãs:

o anel que tu me deste

o amor que tu me tinhas

e as histórias que eu vivi.

poema de “Classificados poéticos”

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“Não existe dor gostosa”, de Ricardo Azevedo e Ana Matsutaki (Moderna) 

Ricardo Azevedo, pesquisador da cultura popular, mostra nesta obra que a poesia pode falar de tudo. Inclusive de meleca, piolho e doença! De alergia a bronquite e dor de dente, os versos trazem com humor muito do cotidiano das crianças – e também dos adultos – quando o assunto são as doenças. Tem até versinhos para quem gosta de adivinhar. As ilustrações da Ana Matsutaki criadas com diversas técnicas como carimbo, colagem e nanquim dão cor e forma ao que nosso corpo sente.       

Alergia e alegria

São palavras parecidas

com sentido diferente:

uma coça e faz ferida,

a outra deixa contente.

A primeira só perturba,

dela a gente quer fugir.

A segunda é o contrário:

todo mundo quer sentir.

A primeira não tem jeito,

não deixa ninguém em paz.

A segunda é uma festança,

que bem que a segunda faz!

Entre as duas fique atento:

a diferença é total.

Uma é doce sentimento,

a outra só quer fazer mal.

A primeira é uma doença,

como custa para sarar!

A segunda é uma delícia,

dá vontade de cantar!

poema de “Não existe dor gostosa”

Conheça mais dos poetas que encantam a infância com seus versos

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Angela-Lago (1945-2017) nasceu em Belo Horizonte (MG).

Morou, estudou e trabalhou em diversos países como Londres, Estados Unidos, Venezuela e Escócia. Nos últimos anos de sua carreira, passou a viver em um pequeno vilarejo no Vale do Jequitinhonha (MG). Entre 1980 e 2017, publicou diversos livros, alguns publicados primeiro no exterior e depois no Brasil. Recebeu inúmeros prêmios e reconhecimentos. Atuou como autora de texto e imagem, recontou histórias no nosso folclore e deixou uma rica produção para a infância, em livros como “Sete histórias para sacudir o esqueleto”, “Festa no céu” e “Cena de rua”. 

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Cecília Meireles (1901 – 1964) nasceu no Rio de Janeiro.

Foi poeta, ensaísta, cronista, folclorista, tradutora e educadora. Seu primeiro livro de poemas, “Espectros” é destinado aos adultos e foi publicado em 1919. Na década de 1930 organizou a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro. Colecionou diversos prêmios e tem sua poesia traduzida para diversos idiomas, incluindo alguns menos convencionais como híndi e urdu, e musicada por uma variedade de artistas. Entre suas obras mais conhecidas para a infância estão “Ou isto ou aquilo” e “O Menino Azul”. 

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Edimilson de Almeida Pereira nasceu em 1963 em Juiz de Fora (MG).

É poeta, ficcionista, ensaísta, professor e pesquisador da cultura e da religiosidade afro-brasileiras. Estreou na literatura aos 22 anos com o livro de poemas Dormundo e desde então não parou de produzir. Entre suas obras para a infância estão livros como “Poemas para ler com palmas” e “A nora e outros não bichos”. 

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Fabrício Corsaletti nasceu em 1978 em Santo Anastácio (SP)

Quando criança, gostava de andar a cavalo, tomar banho de chuva e pensar nas letras das canções. Agora, com quase 50 anos, prefere andar a pé, ver a chuva da janela do seu apartamento e pensar nas letras das canções. Já publicou mais de vinte livros, entre eles os infantis “Poemas com macarrão” (2018) e “Pão na chapa” (2022). Com Engenheiro fantasma, venceu o Prêmio Jabuti 2023 nas categorias Poesia e Livro do Ano. 

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Manoel de Barros (1916-2014) nasceu em Cuiabá (MT)

Cresceu em uma fazenda próxima a Corumbá. É conhecido como o poeta das infâncias e acreditava que “a escrita de uma memória teria que ser sempre a escrita de uma infância – imaginária, sim, porém, enraizada na experiência vivida”. Seu primeiro livro de poesia, “Poemas concebidos sem pecado” foi publicado em 1937. Conquistou vários prêmios importantes, nacionais e internacionais, e sua obra foi traduzida para diversos idiomas. Entre suas obras para crianças estão “Cantigas por um passarinho a toa” e “Poeminha em língua de brincar” 

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Ricardo Azevedo nasceu em 1949 em São Paulo

É escritor, ilustrador e pesquisador da cultura popular. Sua obra é vasta e diversificada. Em prosa e verso já publicou mais de uma centena de livros, principalmente dedicados a crianças e jovens. Além de escrever, ilustra suas obras. Entre sua produção que  faz um passeio pela nossa cultura estão “Armazém do folclore” e “Histórias de bobos, bocós, burraldos e paspalhões”. Em poesia, “Aula de carnaval e outros poemas” e “Dezenove poemas desengonçados”. 

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Roseana Murray nasceu em 1950 no Rio de Janeiro

Filha de imigrantes poloneses que chegaram ao Brasil antes da Segunda Guerra Mundial. Lança seu primeiro livro de poesia “Fardo de Carinho” em 1980 e desde então cativa as crianças com sua obra, embora afirme que não tinha em mente dedicar-se a esse público. São mais de 100 livros publicados e em sua mais recente obra, “O braço mágico” em parceria com o ilustrador Fernando Zenshô, transforma a experiência traumática de ser atacada por cães e perder o braço em poesia e magia ao lado de seus netos. 

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