Em homenagem às mães, buscamos o poder da poesia para se perpetuar nos corações dessas mulheres que são cada vez mais diversas e complexas
Uma lista de fragmentos de poemas selecionados ganham uma livre interpretação da nossa equipe para comemorar o Dia das Mães de um jeito diferente e dar um quentinho no coração de mães e filhos por meio das palavras.
O Lunetas selecionou trechos de poemas para as mães, com mensagens inspiradoras e potentes relacionadas à maternidade para celebrar por meio das palavras. Nossa intenção é contemplar essas mulheres que encontraram seu jeito próprio de maternar e que merecem nossa admiração dia a dia.
Como a celebração da data ganhará contornos diferentes este ano, devido à impossibilidade que a pandemia de coronavírus coloca a muitos encontros de família e a espera estendida para que abraços possam se concretizar, sugerimos esse presente feito de poesia impresso em cartões comemorativos, compartilhado no grupo da família, postado nas redes sociais, recitado durante a chamada de vídeo do domingo ou mesmo para se guardar para uma leitura futura.
Para mães ausentes, Carlos Drummond de Andrade reflete sobre como elas sempre permanecem por perto e dentro da gente porque são feitas de eternidade.
“Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.”
Cora Coralina canta a potente matriz feminina que nos atravessa a todos.
“Renovadora e reveladora do mundo
A humanidade se renova no teu ventre.”
Em Mario Quintana, aprendemos que as palavras de louvor às mães nunca serão suficientes se comparadas ao amor que elas nos dedicam.
“Para louvar a nossa mãe,
Todo bem que se disser
Nunca há de ser tão grande
Como o bem que ela nos quer.”
Conceição Evaristo destaca os aprendizados que recebeu da mãe, apesar das dificuldades de uma infância sem fartura, e recupera as raízes da cultura negra.
“Foi de mãe todo o meu tesouro
veio dela todo o meu ganho
mulher sapiência, yabá,
do fogo tirava água
do pranto criava consolo.”
Cecília Meireles escreve sobre a liberdade dos filhos e da constante vigília das mães, mesmo que distantes.
“Nossos filhos têm outro idioma, outros olhos, outra alma.
Não sabem ainda os caminhos de voltar, somente os de ir.
[…]
Nossos filhos passaram por nós, mas não são nossos,
querem ir sozinhos, e não sabemos por onde andam.
[…]
Nós estamos aqui, nesta vigília inexplicável,
esperando o que não vem, o rosto que já não conhecemos.
Nossos filhos estão onde não vemos nem sabemos.”
Na mesma linha vai Vinicius de Moraes ao pedir que a mãe abrande seu medo em um breve retorno à infância.
“Nina o meu sono cheio de inquietude
Batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor que me espera eternamente
Para ir embora.”
Mia Couto destaca o poder gerador do ventre materno.
“Na barriga da mãe,
não se tece apenas um outro corpo.
Fabrica-se a alma.”
Luz e sombra é o tema abordado por António Ramos Rosa e a combinação de ambos os elementos, da qual somos feitos, seria o caminho para o amor verdadeiro.
“Conheço a tua força, mãe, e a tua fragilidade.
Uma e outra têm a tua coragem, o teu alento vital.
Estou contigo mãe, no teu sonho permanente na tua esperança incerta
Estou contigo na tua simplicidade e nos teus gestos generosos.”
Como um farol sempre a nos iluminar, Paul Celan aponta para a onipresença das mães nestes versos.
“A alma da tua mãe flutua adiante.
A alma da tua mãe ajuda a noite a navegar, escolho após escolho.
A alma da tua mãe fustiga os tubarões à tua frente.”
O excerto escolhido de Alice Ruiz diz da experiência do corpo após a maternidade e como as exigências de contentamento se expandem, porque o coração já conheceu “o muito”.
“Depois que um corpo
comporta
outro corpo
nenhum coração
suporta
o pouco”
Coelho Neto traz a voz do filho que tem medo intercalada à voz da mãe que vela e que estará feliz se o filho estiver feliz, como um espelho.
“Aninha-me em teu colo como outrora
Dize-me bem baixo assim: — Filho, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
[…]
Dorme, meu filho, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu.
[…]
Todo o bem que a mãe goza é bem do
filho, espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!”
Florbela Espanca bendiz as mulheres que geram, parem, amamentam, embalam, amam.
“‘Bendita seja a Mãe que te gerou.’
Bendito o leite que te fez crescer
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama, pra te adormecer!”
Eugénio de Andrade resgata a criança que permanece em nós mesmo quando crescemos e nos afastamos da infância.
“Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos.
[…]
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.”
O poder que as mães têm de nos acalmar e nos dar colo nos momentos mais difíceis ganha poesia nas palavras de Antero de Quental.
“Que me leve consigo, adormecido,
Ao passar pelo sítio mais sombrio…
Me banhe e lave a alma lá no rio
Da clara luz do seu olhar querido…”
Olavo Bilac traduz a proteção das mães em asas enormes.
“E espalham tanto brilho as asas infinitas
Que expandes sobre os teus, carinhosas e belas,
Que o seu grande clarão sobe, quando as agitas,
E vai perder-se entre as estrelas.”
Nos trechos selecionados do poema de Herberto Helder há a reflexão sobre o entrecruzamento das histórias até tornar-se um só ser unificado pelo amor.
“As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.”
Por fim, os versos de Sérgio Capparelli contam quase que no tom de uma brincadeira infantil como a mãe estará sempre presente na vida do filho.
“[…] teu nome eu trago, mãe,
na palma da minha mão.”
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