Que tal correr na rua com as crianças ou juntar os amiguinhos em casa para aproveitar o dia delas?
Brincar até cansar pode ser o melhor presente para toda a família comemorar o dia das crianças. O Lunetas preparou uma lista com brincadeiras para inspirar quem tem criança (e adolescente) em casa a aproveitar o dia inteiro.
Brincar não depende de sacola nova: depende de tempo, companhia e chão. Quando a gente afasta as telas um pouquinho, surgem histórias, corridas, canções — e aquela risada que preenche a casa.
Quem reforça esse caminho é o psicólogo Rodrigo Nejm, consultor em educação digital do Instituto Alana: “É possível brincar com menos plástico e menos tecnologia.” Para ele, desacostumar a criança apegada a um brinquedo ou a um eletrônico pode ser um desafio, mas basta um convite para brincar com o que há de mais simples.
“Se observarmos as crianças quando estão juntas, sem telas, entendemos que brincar não precisa de tanto.”
E se lembrarmos de como os adultos brincavam há um tempo atrás, talvez a memória puxe aquelas brincadeiras mais clássicas, como esconde-esconde, pega-pega e as cantigas de roda. Isso prova mais uma vez que “o brincar se faz com a vida, e não com produtos adquiridos em lojas”, como defende Gandhy Piorski, pesquisador da cultura de infância e autor do livro “Brinquedos do chão”.
Neste mês de celebrar as infâncias — e em todos os outros — o Lunetas traz dez brincadeiras que pedem pouco: gente reunida, uma bola ou papel e caneta. Vale para crianças e adolescentes. O combinado é um só: brincar até cansar. Vamos?
“Crianças não brincam para aprender, crianças brincam para ser feliz.” – Lydia Hortélio, educadora e etnomusicóloga, pesquisadora de Cultura da Criança e Música Tradicional da infância
1. Esconde-esconde
Dá para brincar em dupla, mas também reunir bastante gente! Essa clássica brincadeira pode ser na rua ou dentro de casa e gera, além de curiosidade, muita criatividade para achar o esconderijo perfeito.
Como brincar?
Enquanto uma pessoa conta até dez de olhos fechados, as outras se escondem em cantinhos da casa ou em um espaço delimitado. A pessoa que fez a contagem começa a procurar os esconderijos e corre para voltar ao ponto de partida e falar o nome de quem encontrou.
2. Telefone sem fio
Será que todos entendem uma história da mesma maneira ou as palavras mudam no meio do caminho?
Como brincar?
Junte todas as crianças enfileiradas e diga uma frase no ouvido do primeiro participante. Então, cada um repete a frase no ouvido da criança seguinte. A última da fila deve repetir em voz alta a frase e assim todos comparam se ficou igual à original ou não.
3. Quente ou frio
Escolha um objeto que vai ser o “tesouro” da brincadeira e depois, basta ter criatividade, saber guardar segredo e dar boas pistas.
Como brincar?
Reúna um grupo, escolha algum objeto da casa e mostre para todos. Depois, o grupo sai do cômodo e apenas uma pessoa fica para esconder o objeto. Quando todos voltam, começam a procurar juntos e a pessoa que escondeu sinaliza se está “quente” (perto do objeto) ou “frio” (longe do objeto) até encontrá-lo.
“Quando a criança brinca, ela não aprende conceitos, ela aprende a perceber o que há de vivo dentro das coisas.” – Renata Meirelles, educadora e coordenadora do Território do Brincar
4. Queimada
Monte dois times, arranje uma bola e ocupe a rua. Na queimada, é preciso agilidade, estratégia e espírito de equipe. O local pode ser um parque, uma quadra ou ruas fechadas para o trânsito de carros, como em vilas ou alamedas.
Como brincar?
Separados por uma linha feita com giz ou com pedra, os dois times se enfrentam cada um em seu campo. O objetivo é acertar os jogadores do time adversário com a bola (cuidado com a força). Quem for atingido está “queimado” e sai do jogo ou vai para o fundo do campo do adversário para disputar a bola. Vence o time que eliminar todos os jogadores do outro lado primeiro.
5. Bandeirinha
Aquele adulto que cresceu brincando na rua vai lembrar muito bem dessa brincadeira. A bandeirinha, pique-bandeira ou salve a bandeira ainda está presente na cultura das periferias e no brincar livre.
Como brincar?
Dois times disputam a bandeira do adversário, que pode ser um pedaço de madeira, um cano ou uma garrafa pet. O objetivo é pegar a bandeira e trazê-la para o seu campo sem ser capturado. Os jogadores podem puxar um ao outro enquanto alguns tentam ultrapassar a linha que separa os dois campos. Quem for tocado na área do adversário fica preso e congelado até que um colega do mesmo time apareça para salvar. Vence o time que conseguir pegar a bandeira do adversário e levá-la até sua base sem ser pego.
6. Roda
Crianças pequenas adoram brincar de roda com cantigas, histórias e muita risada.
Como brincar?
Juntar as criança, fazer uma roda, dar as mãos e cantar cantigas como “Ciranda, cirandinha” e “Fui ao Tororó”. Também dá para brincar de “adoleta”, sobrepondo uma mão sobre a outra ou de “dentro e fora”, “vivo e morto”, e outras brincadeiras que pais e avós lembrarem na hora.
“As brincadeiras e os movimentos são alimentos do cérebro e essenciais para a aquisição e o desenvolvimento das competências cognitivas, motoras, sensoriais, emocionais e sociais.” – Farah Mendes, terapeuta ocupacional
7. Stop
Um clássico que só precisa de papel e caneta e, quanto mais gente, mais divertido. O stop ou adedonha, dependendo da região em que se brinca, é uma boa pedida para chamar também os adolescentes e lembrar como é bom brincar com eles, mesmo já crescidos.
Como brincar?
Desenhe colunas em um papel e no topo de cada uma escreva a categoria (nome, fruta, objeto, animal, países, cores, filmes). Depois, o grupo sorteia uma letra apontando a quantidade de dedos desejada para o centro e contam as letras do alfabeto. Todos preenchem as colunas com palavras que iniciam com a letra sorteada até que o primeiro a acabar fala “stop” e os demais param de escrever. Ganha 10 pontos por palavras que não se repetem e cinco pontos a cada palavra repetida. O vencedor é quem somar mais pontos ao final de todas as rodadas.
8. Mímica
Esta brincadeira pode ajudar na timidez, estimular a criatividade e a interação. Ideal para curtir em casa com amigos e família.
Como brincar?
Em grupo, em dupla ou individualmente, faça mímica de um filme, uma música, animais ou de profissões. A regra aqui é apenas uma: não pode falar, apenas fazer gestos. Ganha quem acertar o que a pessoa que fez a mímica tentou dizer.
“Para alcançarmos a criança, devemos compreender que a imaginação é um mundo e a verdade dela.” – Gandhy Piorski, pesquisador da cultura de infância
9. Kudoda
Que tal se divertir e conhecer mais da cultura africana, específicamente do Zimbábue? Esta brincadeira foi ensinada ao Lunetas pelas crianças do Quilombo Alto do Tororó, de Salvador (BA). Para brincar, é preciso uma tigela de 20 a 30 pedrinhas colhidas pelo quintal.
Como brincar?
Os jogadores fazem um círculo ao redor da tigela cheia de pedrinhas. Cada jogador lança levemente uma das pedras para o alto e tenta pegar a maior quantidade de pedras com a mesma mão que apara a pedra que jogou. Quem tiver coletado mais pedras vence.
10. A onça e a galinha
Alunos das escolas indígenas Kaingang e Guarani, no interior do Paraná, ensinaram como a onça precisa capturar as galinhas em um corre-corre parecido com aquele pega-pega que as crianças brincam nas ruas.
Como brincar?
Antes de brincar, demarque a área onde as crianças que vão representar as onças vão ficar. Elas se posicionam no centro enquanto as crianças que serão as galinhas atravessam o campo correndo e precisam fugir do ataque das onças.
“As brincadeiras ancestrais preservam a memória, repassam práticas e costumes dos povos tradicionais e fazem a criança entender de onde ela é e qual a cultura daquele lugar.” – Luciene Kaxinawá, jornalista indígena e educadora da Associação Brasileira pelo Direito de Brincar e à Cultura