A denúncia resultou do monitoramento de dados sobre a oferta de alimentação escolar aos estudantes da educação básica pública durante a pandemia
Relatório denuncia violações ao direito à alimentação escolar aos estudantes da educação básica pública durante a pandemia de covid-19 no Estado do Rio de Janeiro e no município de Remanso (Bahia), como amostra do que está acontecendo no país.
O relatório “Violações ao Direito à Alimentação Escolar na Pandemia de Covid-19: Casos do Estado do Rio de Janeiro e do Município de Remanso (Bahia)” traz denúncias relacionadas à alimentação escolar que envolvem a interrupção das compras da agricultura familiar; a distribuição insuficiente, irregular e sem qualidade de cestas; e a falta de prestação de contas, participação e controle social.
O documento foi protocolado pela plataforma Dhesca Brasil, que desenvolve ações de promoção e defesa dos direitos humanos, após monitorar dados do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), responsável pela oferta de alimentação escolar a estudantes da educação básica pública. Também foram realizadas entrevistas remotas com mães de alunos, representantes de grupos de agricultores e pescadores, gestores, professores, membros de conselhos e do Legislativo, e duas audiências populares.
“Para enfrentar a insegurança alimentar no contexto da pandemia, a política pública mais eficiente seria fazer esses alimentos chegarem por meio do PNAE, além do auxílio emergencial. Contudo, não houve complementação de recursos ao programa, quando o custo da oferta de refeição fora da escola é maior. Houve aumento do preço dos alimentos e o orçamento do PNAE per capita está abaixo do necessário”, explica Mariana Santarelli, relatora nacional para o direito à alimentação da Plataforma Dhesca.
Ao lado de casos exemplares como o do Rio Grande do Norte, que fortaleceu o PNAE para garantir alimentação de qualidade e apoiar a agricultura familiar aumentando o volume de compras, o levantamento mostra o que está acontecendo em outras partes do país:
Além das denúncias, o documento apresenta recomendações ao Poder Público para a garantia do direito, como a ampliação do orçamento do PNAE (aumento real do valor per capita e reajuste anual pela inflação); a revisão da composição das cestas, com alimentos frescos e minimamente processados; a retomada imediata das compras da agricultura familiar; e a adoção de estratégias que garantam maior transparência e a participação da comunidade escolar nas decisões.
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) oferta alimentação escolar a cerca de 41 milhões de estudantes da educação básica pública. Para muitos desses estudantes, é na escola que se faz a única ou principal refeição do dia. Os repasses financeiros do PNAE são da ordem de R$ 4 bilhões anuais aos 27 estados e 5.570 municípios, configurando-se em uma das mais relevantes políticas públicas voltadas à garantia do Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas (DHANA). Além do importante papel na alimentação das crianças, o PNAE é estratégico na estruturação de redes de abastecimento da agricultura familiar: 30% dos recursos repassados para a execução do programa, aproximadamente R$ 1,2 bilhão anual, deve ser destinado à compra direta de alimentos da agricultura familiar. Entre os impactos positivos, isso gera renda, dinamiza as economias locais, melhora a qualidade nutricional e estimula a valorização da cultura alimentar regional.
* Essa matéria foi produzida a partir do texto original Plataforma Dhesca lança relatório sobre violações ao direito à alimentação escolar durante a pandemia, publicado no site do Centro de Referências em Educação Integral.
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Nos últimos meses de 2020, 55,2% dos lares brasileiros enfrentaram algum grau de insegurança alimentar e 9% deles vivenciaram situação análoga à fome, de acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19.