Turma do Peito: série da Netflix aborda maternidade sem máscaras

Para mães blogueiras, o enredo é uma metáfora para a dinâmica da própria maternidade

Camilla Hoshino Publicado em 03.05.2018
Uma mãe está sentada à mesa com uma série de livros sobre maternidade. Seu rosto mostra uma feição de preocupação e confusão.

Resumo

Série australiana estreada em abril pela Netflix, retrata as jornadas da maternidade sem romantização ou máscaras. Com uma dose de exagero real, os episódios despertam sentimentos ambíguos para quem vive ou viveu o puerpério: um pé no riso e outro no desespero.

Uma aventura tragicômica pelo mundo da maternidade e a batalha de viver um dia de cada vez com um novo ser que vem ao mundo sem manual de instruções. Este é o enredo da série australiana “Turma do Peito” (The Letdown), estreada pela Netflix no mês de abril e que tem despertado sentimentos antagônicos nos espectadores, principalmente nas mães: “Quando eu assisti, não sabia se chorava com as personagens ou se ria de nervoso”, comenta Luciana Bento, autora do blog a A mãe Preta.

E o choro, junto com o leite derramado, confrontam mesmo a romantização da maternidade, apagando o ideal da gratidão permanente por parte de pais e mães. São sete episódios com aproximadamente 30 minutos de puerpério, rede de apoio, dificuldades na amamentação, noites em claro e do impacto profundo que o bebê causa nas relações familiares, amorosas e na roda de amigos.

A série foi exibida originalmente no canal australiano ABC. É uma criação de Sarah Scheller e Alison Bell, que protagoniza a série. O elenco é formado por Alison Bell, Duncan Fellows, Noni Hazlehurst, Sacha Horler, Leon Ford, Lucy Durack, Leah Vandenberg, Celeste Barber, Xana Tang, Patrick Brammall.

Quem sou eu?

Afinal, como é se sentir você e ao mesmo tempo se sentir uma nova pessoa, com novas responsabilidades? Como é lidar com os desafios reais de ser mãe, de ser pai, e com a pressão dos julgamentos disfarçados de conselhos? Onde é que foi parar aquela autoestima? Todos esses temas e dilemas são apresentados ao longo da primeira temporada de “Turma do Peito”, despertando boas risadas para quem se identificou e não saiu ilesa, mas fortalecida dessa jornada.

Para Luciana Bento, mãe da Aísha e da Naíma, a série já lança seu tom devastador no primeiro episódio: mulheres reunidas em uma roda de mães, contando suas experiências em relação ao nascimento dos filhos, os tipos de parto, razões das cesáreas ou dos partos humanizados, intercorrências e sentimentos ambíguos. “É aí que você percebe que fazer graça de situações tão delicadas pode não ser uma boa ideia.”

“Calma! Isso acontece com todo mundo”

Mas assim como a própria maternidade, a série vai encontrando leveza e confiança a cada capítulo, e cada personagem suas próprias respostas para dilemas e dores pessoais. Nesse sentido, “Turma do Peito” traz uma variedade de personalidades, uma aventura de homens e mulheres que fazem escolhas, aprendem, desaprendem e vão se costurando uns aos outros em uma rede de apoio. Tudo é uma grande superação. “No final, o sentimento é de que não estou só nessa jornada”, diz a blogueira Luíza Diener, que, em uma rotina como mãe de três filhos, ainda não conseguiu encerrar a primeira temporada.

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Divulgação Netflix/Arte Lunetas

“Turma do Peito”, nova série da Netflix.

Dilemas e superações

A protagonista Audrey (Alison Bell) é ela mesma um resumão dos dilemas da mãe moderna. É uma personagem que cresceu sob as bases de uma educação vanguardista e não autoritária, bastante focada na realização pessoal e no incentivo às próprias ideais e escolha. Por isso sua dificuldade em assumir e ser reconhecida pela nova identidade atribuída de “mãe”. Tudo muito novo e um pouco assustador para ela ter que lidar com a vontade de retomar a vida profissional, a interferência de valores da família do marido na criação da filha e com as mudanças neurológicas no puerpério.

Apesar disso, desromantizar a maternidade não significa necessariamente dizer que tudo é sofrido e pesado. “O puerpério foi um dos momentos mais lindos que já passei”, recorda a empreendedora e terapeuta Amanda Sérvulo ao assistir “Turma do Peito”. Ela reflete sobre a construção social daquilo que se espera da mulher. “Às vezes colocam na nossa cabeça que temos que ser iguais aos homens, trabalhar, sermos produtivas e fazer render. Aí chega a maternidade e então é lançada a grande crise, pois já não podemos ser exatamente a mesma mulher de antes.”

No fim das contas, a identificação aparece no todo, mas especialmente nos pequenos detalhes: a toalhinha no vidro do carro para barrar o sol, a tentativa do sexo interrompida pelo choro do bebê, aquele convite que os antigos amigos deixam de fazer quando um bebê já não cabe na programação da turma,  a calça do pijama que, num descuido apressado, teve que ornar com a camisa social. Entre risos e choros, a escritora e blogueira Fernanda Belém resume a novela tão real: “é como se cada episódio fosse um abraço na gente, dizendo: “Calma! Isso acontece com todo mundo.”

Convidamos cinco mães que assistiram a série para compartilhar o que acharam da trama.

Confira os pontos de vista

 

 

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