Tempo de tela: uso excessivo pode atrasar o desenvolvimento

Desenvolvimento da comunicação e resolução de problemas a partir dos 2 anos de idade foi afetado pelo uso de telas em excesso de crianças com 1 ano de vida

Eduarda Ramos Publicado em 15.09.2023
Uma menina branca olha para a tela de um telefone celular que segura em mãos. A imagem ilustra uma matéria sobre tempo de tela.
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Resumo

Um estudo japonês com 7.097 crianças traçou associações entre o excesso de telas com 1 ano de vida e atraso no desenvolvimento da comunicação e resolução de problemas a partir dos 2 anos de idade.

“Em um dia normal, quantas horas você permite que seus filhos assistam TV, DVDs, videogames, jogos na internet etc.?”. Pesquisadores das universidades Hamamatsu e Tohoku, no Japão, fizeram essa pergunta aos pais de 7.097 crianças com 1 ano de vida. O que levou à seguinte conclusão: mais de quatro horas diárias de tela para bebês pode ter relação com atrasos futuros no desenvolvimento da comunicação e na resolução de problemas, entre 2 e 4 anos de idade.

Para avaliar o atraso no desenvolvimento geral das crianças, os pesquisadores perguntaram aos pais de crianças de 2 e 4 anos questões que envolviam:

  • Comunicação (balbucio, vocalização e compreensão)
  • Motricidade grossa (movimento de braços, corpo e pernas)
  • Motricidade fina (movimento de mãos e dedos)
  • Resolução de problemas (aprendizagem e brincar com brinquedos)
  • Habilidades pessoais e sociais (brincadeiras sociais solitárias e brincar com brinquedos e outras crianças).

Contudo, os pesquisadores não confirmaram se o tempo de tela está ligado a atrasos no desenvolvimento de habilidades pessoais e sociais. Isso porque não houve separação entre o tempo de tela educacional e outros tipos de uso de telas, o que pode levar a inconsistências. O estudo foi publicado na revista JAMA Pediatrics.

“Do ponto de vista do desenvolvimento, o excesso de telas pode gerar distúrbios de sono, cognitivos e de atenção, depressão, estresse e ansiedade, entre outros.” É o que diz Maria Mello, coordenadora do programa “Criança e Consumo”, do Instituto Alana. Segundo ela, cada pessoa pode ter uma experiência diferente com as telas. Portanto, é diferente se o uso é “para se comunicar com um familiar ou para assistir a um conteúdo educativo, por exemplo, ou se é uma rede social que é feita para prender a atenção e direcionar conteúdos com propósitos de exploração comercial, ou sensacionalistas”.

Quais são as principais recomendações para crianças?

Entre as principais orientações do Manual de Orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria, destacam-se:

  • Evitar a exposição de crianças menores de dois anos às telas, mesmo que passivamente;
  • Limitar o tempo de telas ao máximo de uma hora por dia, sempre com supervisão, para crianças com idades entre dois e cinco anos;
  • Limitar o tempo de telas a uma ou duas horas por dia, sempre com supervisão para crianças com idades entre seis e 10 anos;
  • Limitar o tempo de telas e jogos de videogames a duas ou três horas por dia, sempre com supervisão; nunca “virar a noite” jogando para adolescentes com idades entre 11 e 18 anos;
  • Para todas as idades: nada de telas durante as refeições e desconectar uma a duas horas antes de dormir;
  • Oferecer como alternativas: atividades esportivas, exercícios ao ar livre ou em contato direto com a natureza, sempre com supervisão responsável.

Como lembra Bebel Barros, pesquisadora do programa “Criança e Natureza”, do Instituto Alana, são cidades “seguras, mais verdes e bem cuidadas” que podem dar às crianças “oportunidades para encontros, interações, brincadeiras, movimentos e vínculos”.

Quais outros desafios envolvem o uso de telas?

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), existem quatro tipos de riscos que crianças enfrentam no ambiente digital:

  • Riscos de conteúdo: contato com conteúdos inapropriados para a idade, como imagens pornográficas, discursos de ódio e incitação à violência, dentre outros;
  • Riscos de contato: risco que a criança possui de entrar em contato com usuários mal intencionados;
  • Riscos de conduta: quando a própria atuação da criança pode gerar riscos, como a prática de cyberbullying; e
  • Riscos de contrato: envolve as relações comerciais que também podem afetar crianças, o que abrange desde mau uso dos dados pessoais desses usuários, passando pela criação de perfis para direcionamento de publicidade e até riscos financeiros, como a possibilidade de compra de itens com dinheiro real.

“Há diferença entre a tela de um celular, em que a criança fica sozinha durante a experiência, e uma tela maior, em que um adulto pode acompanhar o que ela está assistindo”, afirma Mello. Por isso, segundo a SBP, além do controle do tempo de tela, são cada vez mais importantes ações de alfabetização midiática e mediação parental. Nesse sentido, se pode comunicar a pais e cuidadores a respeito do “uso ético, seguro, saudável e educativo da internet”.

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