Especialista comenta o avanço das informações sobre autismo e como “pessoas com TEA podem ter vidas ótimas, com suas particularidades”
Nos Estados Unidos, 1 a cada 36 crianças de 8 anos de idade foi diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista, em 2020. Mudanças na forma de identificar o TEA podem ter motivado o aumento dos casos, diz especialista.
Não é apenas impressão que mais crianças estão sendo diagnosticadas no espectro autista. Em 2020, uma em 36 crianças de oito anos de idade recebeu o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), nos Estados Unidos. Segundo o estudo publicado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), órgão de referência mundial para aferição de autismo, o número de crianças com autismo cresce progressivamente desde o início do monitoramento: em 2000, era 1 a cada 150 crianças.
“Parece que há mais crianças com TEA porque antes o diagnóstico era muito mais restrito”, explica Danielle Admoni, psiquiatra da Infância e Adolescência e professora na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo ela, as investigações atuais partem da observação de três fatores:
Com isso, “muitas pessoas acabam entrando nesses critérios”, diz. Apesar da importância de estar atento a esses sinais na primeira infância, ela recomenda procurar ajuda especializada, pois você pode “notar que a criança tem atraso de fala, não faz muito contato visual ou chora muito, mas isso pode não ser necessariamente um diagnóstico. Cada criança deve ser investigada de forma individual e a fundo”.
Além disso, o estudo também revelou que a prevalência do Transtorno do Espectro Autista é maior entre meninos. Embora seja mais comum a descoberta quando a criança está em idade escolar, mais diagnósticos aconteceram antes dos quatro anos.
“Com um diagnóstico precoce, os profissionais que cuidam da criança podem agir mais cedo e isso pode afetar diretamente a sociabilidade dela. Se a criança apresenta problemas de fala, por exemplo, as intervenções com fonoaudiólogo podem ter mais sucesso”, explica Admoni.
Outro estudo submeteu 475 crianças de 16 a 30 meses de vida a testes de rastreamento ocular. Neles, as crianças assistiam a cenas de vídeos de interações sociais, com uma duração média de 54 segundos. A sensibilidade do teste chegou a 78% no subgrupo de crianças (335) cujo diagnóstico de autismo era certo. Esse resultado traz a possibilidade de um diagnóstico de TEA ainda mais preciso e mais precoce, indo além do “julgamento subjetivo do médico especialista”.
Para Admoni, antes, quando se falava sobre autismo, o diagnóstico era “quase uma sentença de fim”, sem acolhimento aos pais em meio às dúvidas. Hoje, porém, com o avanço das informações e dos tratamentos, “pessoas com TEA podem ter vidas ótimas, com suas particularidades”, diz a especialista. O importante, segundo ela, é como incentivar o desenvolvimento das diferenças de fala, sociabilidade e/ou interesses da criança autista e como essas características poderão impactar suas vidas após a descoberta.