Surto de hepatite aguda em crianças: o que se sabe até o momento?

Causas possíveis passam por adenovírus e coronavírus. A doença tem 28 casos suspeitos em crianças no Brasil

Da redação Publicado em 17.05.2022
Surto de hepatite aguda em crianças: na imagem, uma criança de pele clara está coberta e deitada em um sofá bege. A imagem possui intervenções de rabiscos coloridos.
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Resumo

Com causa desconhecida, surto de hepatite atinge crianças - que são pacientes incomuns deste tipo de doença. Até o momento, as suspeitas de causas de contaminação são por adenovírus e coronavírus.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 348* pessoas ao redor do mundo foram diagnosticadas com uma forma de hepatite aguda, grave e de origem desconhecida. A hepatite, caracterizada como uma doença inflamatória que acomete o fígado, possui cinco tipos diferentes (A, B, C, D e E). Com transmissões infecciosas distintas, crianças não costumam ser o principal grupo afetado pela doença.

Os casos, que começaram a surgir em abril, testaram negativo para os cinco tipos de hepatite existentes. Duas hipóteses estão em evidência pela comunidade científica: o envolvimento do adenovírus 41F e do SARS-CoV-2 (coronavírus) nas amostras de pessoas contaminadas. Dos 44** casos suspeitos da doença até o momento, mais da metade são de crianças (28), segundo o Ministério da Saúde.

Em São Paulo, segundo a Secretaria de Saúde do Estado, os casos e as internações de crianças com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) começaram a aumentar em março e se mantêm em patamar alto. Já dados da Secretaria de Saúde Estadual de Santa Catarina apontam que os casos cresceram 19,76% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2021.

Para Daphne Morsoletto, hepatologista do Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia (CIGHEP), além da doença não possuir um tratamento específico até o momento (são utilizados anti-inflamatórios fortes como corticosteróides), o maior desafio deste tipo de hepatite é poder gerar até 10% de casos graves e levar os pacientes ao transplante hepático. “Não temos órgãos para absorver todos da fila de transplante e o surgimento de uma nova infecção pode afetar todos os pacientes”, alerta a médica.

Adenovírus 41

O vírus não é conhecido como causa de hepatite em crianças saudáveis. Geralmente se apresenta com diarreia, vômito e febre, também podendo ter sintomas respiratórios como os de um resfriado. A OMS recomenda aos países que os pacientes passem por exames de sangue, soro, urina, fezes e amostras respiratórias, bem como amostras de biópsia hepática (quando disponíveis), com caracterização adicional do vírus, incluindo sequenciamento. 

E a covid?

Um estudo lançado na revista acadêmica “The Lancet Gastroenterology and Hepatology” sugere que a hepatite pode estar relacionada ao SARS-CoV-2: o vírus deixa um reservatório viral no trato intestinal que, após ser afetado pelo adenovírus 41, tem uma resposta inflamatória exagerada às anormalidades imunológicas. A resposta exagerada também é sugerida como causa de síndrome inflamatória multissistêmica, causando inflamação no fígado. Não há relação entre a vacinação contra a covid-19 e a hepatite.

Como proteger as crianças?

Os sintomas mais comuns são diarreia, perda de apetite, dor abdominal, vômitos, coceira na pele, urina escura e fezes claras. “Em grande parte dos casos, as hepatites virais são doenças silenciosas que não apresentam sintomas e, quando os sinais aparecem, a doença já está em estágio avançado”, aponta Daphne Morsoletto. O alerta maior é com o sintoma de icterícia – coloração amarela na pele, olhos e mucosas, que indica que a doença está em um quadro avançado e deve ser procurado atendimento médico imediato. 

 A prevenção se dá a partir de medidas gerais de higiene, como a lavagem das mãos, cobrir a boca ao tossir ou espirrar, e manter os ambientes bem ventilados. O tipo A de hepatite contamina por meio fecal-oral, como o contato entre indivíduos ou por meio de água ou alimentos contaminados pelo vírus, fazendo com que a prevenção geral também seja uma política pública: consumir apenas água tratada, evitar contato com valões, riachos, chafarizes, enchentes ou próximo de onde haja esgoto a céu aberto, segundo a Fiocruz.

* Dados de 10 de maio de 2022
** Dados de 14 de maio de 2022

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