Sexo na gravidez. Pode?

Nesta conversa com a ginecologista Larissa Cassiano, especializada em gravidez de alto risco e comunicadora sobre saúde feminina, a gente descobre que sim!

Michele Bravos Publicado em 15.06.2022
Um casal de mulheres se abraça. Uma delas é branca de cabelos escuros e a outra é uma mulher negra que veste uma blusa branca
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Resumo

A ginecologista e comunicadora sobre saúde feminina Larissa Cassiano explica que é possível ter vida sexual saudável e ativa durante a gravidez. O tabu em torno do tema é mais de ordem moral e pessoal do que científica.

Para muitos casais, sexo na gravidez é um tabu. Mas, será que ele tem fundamento? Entre o medo da possibilidade do bebê sentir algo e a insegurança de se relacionar intimamente com um corpo que possui novas formas habitam mitos e preconceitos. Todos eles muito mais do âmbito moral e pessoal do que da saúde. 

Em uma conversa com a ginecologista Larissa Cassiano, especializada em gravidez de alto risco e também comunicadora sobre saúde feminina, fica evidente que o sexo durante o período gestacional está liberado. As únicas exceções estão relacionadas a diagnósticos de risco para parto prematuro ou aborto. Mas, se esse não é o caso, não há por que ter medo. 

O novo momento, inclusive, pode favorecer experimentar novos jeitos de se relacionar, uma vez que o desejo sexual feminino durante a gravidez costuma aumentar. O importante é “que a mulher compreenda que, ainda que possam existir similaridades entre ela e outras gestantes, sua sexualidade é única“, afirma Larissa. Também é importante desmistificar a ideia do sexo focado apenas na penetração, e entender as múltiplas possibilidades de se conectar e sentir prazer.

Nessa entrevista, a ginecologista também lembra da importância do diálogo entre o casal, para que encontrem juntos o melhor caminho em meio a tantas mudanças. É assim que poderão vivenciar uma vida sexual saudável e ativa – mesmo durante o período gestacional.

Além do atendimento em consultório, Larissa usa o espaço de sua coluna no VivaBem, do UOL, e seu próprio perfil no Instagram – com 35 mil seguidores – para tornar acessível informações sobre a saúde feminina, sempre com uma perspectiva humanizada e de incentivo à autonomia da mulher a partir do conhecimento.

Larissa Cassiano esclarece sobre sexo na gravidez e outras dúvidas:

Lunetas – O que você considera que contribui para o tabu que envolve gravidez e sexualidade da mulher?
Larissa Cassiano – No início da gestação, existe o medo de que o sexo possa provocar uma perda gestacional. Isso é um mito! Durante a gestação, existe o medo de que o bebê possa ouvir ou sentir algo durante o sexo. Essa ideia de que o bebê estaria participando daquele momento tão íntimo é muito desconfortável e coloca diversos valores morais em questão. Mas a verdade é que o bebê ouve apenas ruídos e não sente nenhum desconforto. 

Então, mesmo quando há penetração, isso não afeta o bebê?
LC – Isso mesmo. A penetração não afeta o bebê devido à anatomia do corpo. O bebê está no útero, envolto pela bolsa amniótica. Durante uma relação sexual com penetração, o pênis entra pela vagina e não chega a tocar no útero. Portanto, entre o bebê o pênis existe o colo do útero (parte inferior do útero localizada no final da vagina) e a bolsa amniótica que impedem esse contato.

Alguma posição sexual é mais indicada durante o período gestacional?
LC – Digo sempre que a melhor posição é aquela em que o casal, principalmente a gestante, estiver mais confortável. Percebo que, entre elas, há uma preferência por posições em que consigam controlar a penetração. Ainda que a penetração não seja um problema para o bebê, poder controlar mais a situação traz segurança para a gestante nesse momento.

Podemos dizer que, do ponto de vista da saúde da pessoa gestante, sexo durante a gravidez está liberado?
LC – Exatamente! O sexo está liberado na maioria dos casos. São poucas as situações em que o casal não deve ter relações sexuais. Geralmente, o sexo será contraindicado quando tiver sido diagnotiscado um risco para o parto prematuro ou aborto.

Você poderia explicar a relação entre sexo e o risco para parto prematuro?
LC – Durante o sexo são liberados diversos hormônios, entre eles a ocitocina (conhecido também como hormônio do amor por estar relacionado ao prazer e afeto). Esse hormônio é o mesmo que estimula o parto, por provocar contrações uterinas. Em uma pessoa sem risco de parto prematuro, a ocitocina será liberada e não adiantará o trabalho de parto. Já em uma pessoa que tem risco de parto prematuro, a quantidade de ocitocina liberada no sexo pode, sim, estimulá-lo. Por isso, é preciso sempre fazer o pré-natal e acompanhar o ritmo da gravidez.

A gestação pode aumentar o desejo sexual da mulher? Como?
LC – Pode sim! Durante a gestação há um aumento na vascularização da vulva e da vagina, o que pode estimular o desejo sexual da mulher. Considerando que há desejo, o sexo não precisa ser evitado, a menos que haja uma orientação para isso, como no caso do risco de parto prematuro. 

Mesmo com a possibilidade de aumento do desejo sexual feminino, às vezes, o sexo não rola. Quais hábitos e novas dinâmicas o casal pode assumir durante a gestação para se manterem conectados?
LC – É importante que o casal dedique tempo um para o outro. Conversas sinceras devem fazer parte de toda relação, ainda mais em um período de tantas mudanças, como a gestação. Conversar sobre os medos, sobre qual a melhor posição, sobre o que traz mais segurança e conforto para a gestante, sobre como cada um sente mais prazer é um passo no caminho para descobrirem como manter a conexão.

Como a libido do casal pode ser estimulada nesse período da gestação?
LC – Sabendo que para algumas mulheres a penetração pode ser algo complicado, encontrar outras formas de estimular a libido é importante. Mesmo sabendo que não há problema para o bebê, algumas gestantes têm medo da penetração nesse período e outras simplesmente acham desconfortável. Sendo assim, é interessante buscar o orgasmo sem a penetração. Alguns casais precisam lembrar disso: penetração não é sinônimo de orgasmo. O novo período pode ser também uma oportunidade para o casal experimentar alguns objetos sexuais. E, por último, vale sempre lembrar que é muito importante que o casal invista nas preliminares!

Como se pode manter uma gestação com vida sexual “saudável”, sem culpa, sem medo e sem comparação com outras pessoas?
LC – O primeiro passo é descobrir o que significa prazer para cada um do casal e como esse prazer é alcançado. Isso varia de pessoa para pessoa e também de acordo com o momento de vida em que se está. No caso da gestação, é possível que antes dela, a mulher sentisse prazer de um jeito. Com a gestação, pode ser que sinta de outro. E isso pode mudar inúmeras vezes ao longo da vida. É preciso que a mulher compreenda a própria sexualidade, entendendo que, ainda que possam existir similaridades entre ela e outras gestantes, sua sexualidade é única.

Com tantas mudanças no corpo que gesta, a pessoa pode se sentir insegura em momentos de maior intimidade. Quais atitudes o parceiro e a parceira podem ter para trazer mais segurança para a pessoa que está grávida?
LC – O ponto-chave aqui é demonstrar que o foco da relação é a pessoa, com sua personalidade e jeito de ser. O foco não é o seu corpo. Os corpos podem mudar ao longo da vida. Isso é algo completamente natural. Mas, se existe vontade de estar com a outra pessoa e ainda faz sentido estimular o desejo entre o casal, essas mudanças poderão ser vividas com tranquilidade.

E como fica o sexo no pós-parto?
LC – Se durante a gravidez as mudanças hormonais até podem aumentar o desejo sexual da mulher, no pós-parto a libido pode diminuir, pois o corpo está focado em nutrir e cuidar do recém-nascido. Mas isso rende conversa para um outro momento…

Enquanto isso, você pode ler mais sobre o assunto na matéria “Mães e sexualidade: ‘Não é falta de libido, é cansaço extremo’”.

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