Prematuridade: por que acontece e quais os direitos das famílias?

O Brasil está entre os 10 países com maior taxa de partos prematuros no mundo; entenda as causas e as consequências da prematuridade

Da redação Publicado em 31.10.2017 Atualizado em 22.01.2023
Foto em preto e branco de um bebê prematuro dentro de uma incubadora
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Resumo

Para entender melhor sobre a prematuridade, conversamos com a coordenadora da UTI Neonatal do Hospital Israelita Albert Einstein sobre o apoio que as famílias com bebês prematuros precisam.

Para a família, a prematuridade, ou seja, quando o bebê nasce antes do tempo considerado ideal, pode ser aterrorizante e motivo de muita ansiedade e tristeza, tanto pela imprevisibilidade da situação, quanto pelas preocupações e incertezas que acompanham o fato. Portanto, o acompanhamento psicológico da família neste momento é fundamental.

“O profissional é essencial para oferecer suporte, transmitir conhecimentos, ajudar os parentes a lidar com sentimentos de culpa, ansiedade e medo e apoiá-los a atravessar este período de uma forma mais tranquila”, explica a médica Romy Zacharias, coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal do Hospital Israelita Albert Einstein.

De acordo com a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), é considerado um bebê prematuro aquele que nasce antes das 37 semanas de gestação. “Os recém-nascidos menores de 34 semanas são aqueles que demandam mais atenção e são motivo de preocupação para os neonatologistas”, esclarece a médica. As consequências da prematuridade são inúmeras, como problemas respiratórios, complicações oculares, baixo peso ao nascer (que pode impedir a alta hospitalar), entre outros.

Panorama da prematuridade no Brasil

Um em cada 10 bebês brasileiros nasce prematuro no país. O Brasil ocupa a 10ª posição no ranking da prematuridade, perdendo para países como Índia, China, Nigéria e Paquistão, segundo relatório do estudo “Born Too Soon” (“Nascido cedo demais”, em tradução livre) realizado pela ONG americana March of Dimes, em 2016.

As causas da prematuridade

As causas mais comuns de prematuridade são pressão alta, descolamento prematura de placenta, diabetes, alterações de tireoide e infecções congênitas, como sífilis e HIV. “Em alguns casos, é possível prevenir o parto prematuro através de um controle pré-natal adequado. Assim, podemos identificar e tratar as condições que podem resultar em antecipação do parto”, reforça a médica.

Dados do estudo “Prematuridade e suas possíveis causas”, feito em 2013, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), revelam uma estreita relação entre o aumento da prematuridade e o crescimento do número de cesarianas. Entretanto, para estabelecer essa relação com mais exatidão são necessárias pesquisas mais aprofundadas.

Como classificar o bebê prematuro?

  • Prematuro extremo: bebês nascidos antes das 28 semanas de gestação
  • Muito prematuro: bebês nascidos entre 28 e 32 semanas de gestação
  • Prematuro moderado e tardio: bebês nascidos entre 32 e 36 semanas de gestação

Desenvolvimento dos bebês prematuros

Romy explica que, quanto mais avançada está a gestação, maior é a chance do recém-nascido não apresentar riscos ao desenvolvimento. “Isso porque seus órgãos estarão mais desenvolvidos e amadurecidos e terão mais aptidão e força para mamar.”

“Os prematuros extremos são ainda mais frágeis por nascerem antes de seu desenvolvimento estar completo para enfrentar a vida fora do útero”

“Devemos dar suporte e respeitar seu tempo para que este desenvolvimento ocorra. Estes recém-nascidos podem apresentar dificuldades de respirar, de manter a temperatura e até de se alimentar e, por isso, devem permanecer sob os cuidados de uma equipe especializada em uma UTI neonatal.”

Um grande fator de preocupação e dificuldade na vida de famílias com prematuros é a rotina de cuidados no hospital. Cada cada bebê é único e o tempo que eles precisam ficar no hospital depende muito da idade gestacional do nascimento. Bebês que nasceram mais precocemente ficam internados por períodos mais longos. “Mas, como uma estimativa, podemos inferir que eles ficam no hospital até atingirem a idade gestacional corrigida correspondente ao termo que seria de 37 semanas.”, explica a médica.

Idade gestacional corrigida

Quando um recém-nascido nasce prematuro com determinada idade gestacional, os neonatologistas continuam contando sua idade gestacional corrigida, que corresponde à idade gestacional que o bebê acumularia a cada dia adicional como se ele estivesse permanecido no útero materno.

Mas isso não significa que, mesmo internado,  os pais não possam estabelecer vínculo e contato com seus bebês. Recém-nascidos estáveis podem sair por alguns períodos da incubadora e permanecer no colo dos pais em contato pele a pele.  “O método Canguru, além de estimular o contato com os pais e intensificar o vínculo, auxilia no ganho de peso e na promoção da amamentação”, explica a médica.

Apenas os bebês muito pequenos e em situações mais críticas devem permanecer dentro de a incubadora para manter sua temperatura e receber o suporte e monitorização adequados para sua recuperação. No entanto, isto não significa que os pais não possam tocá-lo.

“É possível colocar as mãos no recém-nascido dentro da incubadora e, por meio do toque e do carinho, oferecer aconchego”

Método Canguru

A presença dos pais dentro das UTIs faz parte de uma estratégia de atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso, conhecida como Método Canguru, normatizada pela portaria nº 693/00, do Ministério da Saúde. Se o bebê está estável, mantendo os padrões fisiológicos, ele pode sair da incubadora todo dia e ficar em contato pele a pele com a mãe por, pelo menos, uma hora. Quanto mais tempo ficar, melhor. Essa manobra só pode ser feita pelo pai ou pela mãe. Em caso de óbito materno, o contato deve ser feito pelo adulto que ficará responsável pelo bebê.

Amamentação e cuidados

O Ministério da Saúde recomenda que os bebês sejam amamentados exclusivamente com até os seis meses de idade. E não é diferente para os bebês prematuros. O leite materno é recomendado para todos os recém-nascidos sejam eles prematuros ou não. No entanto, a coordenadora da UTI neonatal explica que, quanto mais prematuro for o bebê, menor é a capacidade de mamar, sugar e deglutir.

“Desta forma, enquanto eles não apresentam aptidão para mamar por conta própria, o leite materno será ordenhado e oferecido ao bebê através de uma sonda  para que ele receba todos os seus benefícios nutricionais e imunológicos.”

Além da nutrição, prematuros precisam de outros cuidados especiais. Sons altos e luz intensa por ciclos ininterruptos podem provocar desconforto e estresse aos recém-nascidos e levar a maior consumo de energia.

“Recomenda-se que a unidade neonatal seja um ambiente silencioso e com controle de luminosidade, permitindo menores oscilações de frequência cardíaca e pressão arterial e promovendo o desenvolvimento do bebê em um ambiente mais tranquilo”, finaliza Romy Zacharias.

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