Escutar a criança com ouvidos, olhos, abraço e coração é a inspiração do que acreditam ser o universo humano sonoro na educação
O ensino e a experiência musical dentro e fora das escolas, contribuem para o desenvolvimento integral das crianças. Na Ciranda de Filmes, quatro educadores contaram suas experiências. Confira!
Entre os dias 23 e 26 de maio, aconteceu na cidade de São Paulo a 5ª edição da Ciranda de Filmes, uma mostra de cinema dedicada a discutir infância, juventude e educação. O tema da quinta edição foi “Música, linguagem da vida”, isso porque a música nos rodeia, permeia, integra e acalanta desde o nascimento e é parte essencial do humano, da natureza e da cultura em que vivemos. Por isso, a educação musical nas escolas é um relevante ato de ouvir a infância.
No último sábado, 22, foi dia de conversar sobre o assunto com Claudia Freixedas, Jorge Fofão, Roseli Novak e Teca Alencar de Brito, que apresentam práticas que manifestam essa escuta, abrindo para uma reflexão coletiva sobre os fazeres musicais.
“A gente tem um vício de desconsiderar as ideias das crianças, principalmente se forem muito pequenas”, conta a educadora que fundou, a Teca Oficina de Música, núcleo de Educação Musical dedicado à formação de crianças, jovens e adultos. A educadora defende que o excesso de coisas prontas, pode tirar das crianças a possibilidade de criação. Seu trabalho apoia-se na ideia de que “só quando conseguimos ouvir verdadeiramente as crianças é que conseguimos criar parcerias com elas”.”A gente tende a fechar: ‘A música é isso’. E para as crianças não é assim. A música na verdade é um jogo, um jogo de relações entre sons e silêncio”. E exemplifica com as mostras culturais nas escolas. “Hoje em dia, grande parte das escolas respeita as criações das crianças, como as garatujas nos desenhos e artes plásticas. E com relação à música, mesmo as escolas mais abertas, a música falta nas exposições de arte e , quando tem, estão neste lugar da cópia, da reprodução.”
Roseli é Menção Honrosa do Prêmio Arte na Escola (2018) e Finalista do Prêmio Educador Nota 10 (2015) com projetos em que o brincar livre leva a um estado de criação, que se transforma em fazer musical, realizados com crianças entre sete e oito anos. Ela contou sobre como o brincar livre é presente em sua atuação nas escolas e apresentou seus trabalhos com improvisação, sonoplastia e criação em audiovisual em que as crianças criaram os roteiros e as cenas. Tudo a partir da experimentação e do brincar livre. “É importante perceber também o acontece nos sons e o que acontece nos silêncios, pois há expressividade no silêncio. Todo este trabalho desperta em mim a minha criança interior”, afirmou.
Professor e arte-educador com mais de 25 anos de experiência. É membro fundador convidado de Maria Amélia Pinho Pereira (Peo) para integrar o Grupo Folclórico Meninos e Meninas da Aldeia de Carapicuíba, hoje OCA – Escola Cultural, professor de maracatu na Escola Municipal Desembargador Amorim Lima e professor-brincante de dança popular e capoeira na escola Te-Arte. “Minha relação com a música começou com o mar, eu nasci em Olinda e todo os dias de manhã eu brincava com o mãe”. Para ele, a música está dentro de nós. “Estamos vivos e precisamos nos expressar. Como professor brincante, ele defende que os educadores e as escolas conheçam o Brasil e sua cultura ancestral. Fofão também falou sobre como os mestres são importantes neste processo. “Eu não estudei, minha educação vieram dos meus mestres, a música e a arte-educação que me salvaram.”
Quando Cláudia Freixedas assumiu a Superintendência Educacional do Projeto Guri, programa de educação, voltado para a formação musical de crianças, pré-adolescentes e adolescentes, percebeu que a dimensão humana expressa na missão se via muito pouco. “As atividades eram muito focadas na técnica e na leitura de um repertório pré-estabelecido”. Para que isso fosse sendo mudado aos poucos, algumas atividades foram sendo implementadas. Uma delas é que a cada quinze dias os educadores propõem uma atividade de voz, movimento e aquecimento corporal para trazer um repertório ampliado e ouvir o que as crianças querem. Tudo isso na intenção de buscar um fazer musical mais abrangente, mais reflexivo e criativo.
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