Estudos indicam que até três anos após o nascimento do bebê, a mulher apresenta risco de adoecimento mental puerperal, sendo o primeiro ano o mais crítico.
No quadro de psicose puerperal, aparecem as alucinações, ideias persecutórias, desorientação, desorganização, delírios, despersonalização e confusão mental. Conversamos com a psicóloga perinatal Luciana Rocha sobre o assunto.
Um dos grandes desafios da vida de uma mãe é passar pelo período do puerpério – a fase do pós-parto, que é de extrema vulnerabilidade e sobre o qual pouco se fala. Durante este período, que pode ter tempo variada para cada mulher, não é só o bebê que chora. A mulher pode passar por um intenso período de conflitos internos e lágrimas.
Na última semana, um bebê de cinco meses foi encontrado morto no Lago Paranoá, em Brasília, no Distrito Federal. Foi a mãe que confessou ter jogado o menino nas águas do lago e, existe a suspeita de que ela tenha sofrido um surto psicótico. Depois de muitos compartilhamentos e opiniões divididas sobre a notícia, conversamos com a psicóloga perinatal Luciana Rocha sobre o assunto.
“Baseado apenas no que foi noticiado pela mídia, e sem nenhum contato com Elizângela, podemos desconfiar de um quadro de psicose puerperal. A desorientação em que ela foi encontrada promovem essa suspeita”, atesta ela que é especialista em conflitos maternos pré, durante e pós gestação.
Diferente da depressão, a psicose puerperal provoca um afastamento da realidade. É um transtorno mental grave que acomete mulheres no fim da gestação ou no pós-parto. A mulher com psicose puerperal vivencia delírios ou alucinações e apresentam uma ruptura com a realidade. A psicóloga afirma que a mulher no quadro psicótico pode não ser capaz de reconhecer seu bebê como seu ou mesmo como um bebê. “Por isso, o índice de infanticídio é tão alto em quadros de psicose puerperal”. Não há consenso sobre os dados no Brasil, mas alguns estudos indicam que a incidência da psicose puerperal é de um caso em cada 1000 partos.
“As mulheres puérperas têm a sensação de enlouquecer, de perder todos os espaços de identificação ou de referência conhecidos; os ruídos são imensos, a vontade de chorar é constante, tudo é incômodo, acreditam ter perdido a capacidade intelectual, racional. Não estão em condições de tomar decisões a respeito da vida doméstica. Vivem como se estivessem fora do mundo; vivem, exatamente, dentro do ‘mundo-bebê”.
Laura Gutman, no livro “A maternidade e o encontro com a própria sombra”
O diagnóstico pode ser difícil, pois o quadro pode ser facilmente confundido com momento de adaptação à nova realidade materna ou com a depressão pós-parto. “ Os primeiros sintomas são euforia, irritação, agitação, insônia”, diz Luciana. Porém, no quadro de psicose puerperal, aparecem as alucinações, ideias persecutórias, desorientação, desorganização, delírios, despersonalização e confusão mental. Depois de diagnosticado, alguns casos requerem internação para um intervenção mais intensa e controle do surto. Outros casos, requerem medicação e após saída do surto, medicação e psicoterapia, para a mãe e familiares.
Alguns estudos indicam que até três anos após o nascimento do bebê, a mulher apresenta risco de adoecimento mental puerperal, sendo o primeiro ano o mais crítico. O que não deixa dúvidas de que tanto nos casos de depressão quanto de psicose pós-parto, as mulheres precisam de apoio.
Já existe o consenso de que o período de tentativas de gravidez, de gestação ou pós-parto, ou seja, todo o ciclo gravídico-puerperal, apresenta um risco de, pelo menos, 25% a mais de chances de adoecimento psíquico para a mulher.
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