Projeto LIA: lazer e diversão para as crianças com deficiência

“Inclusão na diversão” é o tema do Projeto LIA - Lazer, Inclusão e Acessibilidade; conversamos com três pessoas à frente do projeto em São Paulo

Da redação Publicado em 04.10.2019
Imagem de uma criança com paralisia cerebral. Ela está em uma cadeira de rodas sorrindo com uma camiseta do projeto Lia
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Resumo

"Eu acho que todas as crianças deveriam participar e dar suas ideias para melhorar a nossa cidade", defende Manu Trigo, de 12 anos, tem paralisia cerebral e atua em vários projetos em prol dos direitos das crianças.

Shirley Ordônio mora em Curitiba (PR), tem três filhos e costuma levá-los aos playgrounds públicos da cidade. São três crianças que brincam, fantasiam e se expressam com o corpo todo. São crianças. Mas são iguais? Não. Uma delas tem paralisia cerebral.  “Minha filha ficava na cadeira de rodas apenas assistindo, impedida de participar da interação com seus irmãos e demais crianças devido as barreiras arquitetônicas de acessibilidade”, conta. Foi a partir dessa vivência que nasceu, o Projeto LIA – Lazer, Inclusão e Acessibilidade, movimento nacional de pessoas querendo difundir a importância da inclusão também na diversão.

Segundo o último relatório da Organização Mundial da Saúde (2011), 15% da população mundial apresenta algum tipo de deficiência – esse índice representa uma em cada sete pessoas. No Brasil, o número chega a 23,9% da população (Censo 2010), destes 7,5% são crianças com até 14 anos de idade.

A reportagem do Lunetas conversou com as três pessoas à frente do projeto em São Paulo: Mariana Dias, Juliana Trigo e Manu Trigo, que tem 12 anos e foi diagnosticada com paralisia cerebral aos sete meses de idade.

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Emartinez Fotografia

Marina Barone e seus dois filhos em um parquinho em Campinas (SP)

Missão do Projeto LIA

“Nós cobramos das autoridades a implantação de brinquedos adaptados como balanço para crianças que usam cadeira de rodas, gangorra e gira gira, em parquinhos públicos”, explicam. Olhar ao redor na sua cidade ou bairro e perceber se há crianças com suas famílias em praças, parques pode ser uma boa maneira de saber se são espaços acolhedores para as infâncias.

Juliano Trigo, explica que, para eles, uma cidade acolhedora é aquela que respeita todas as diferenças e que pensa em todas as pessoas. “Por isso, lutamos pelo lazer inclusivo nos parques. Todas as crianças precisam e devem brincar juntas. Uma cidade com rampas, boas calçadas, parques para todos faz com que a sociedade seja mais justa, inclusiva e sem diferenças”, reforça.

Nada sobre as crianças, sem as crianças

Os parques e a vida ao ar livre são, para todas as crianças, uma oportunidade de trocar conhecimento e experiências, fazendo com que alarguem a percepção sobre o mundo. Elas podem entender desde cedo o que significa inclusão, diversidade e participação.  

Mas, só é possível tornar os espaços públicos acolhedores para a infância ocupando-os, vivendo-os e estabelecendo vínculos com eles. As mães Mariana Dias e Juliana Trigo, entendem e defendem que planejamento urbano também é assunto de criança. 

Na cidade de São Paulo, Manu Trigo, seu irmão Davi, de sete anos e o Gabriel Xavier, de 10 anos, filho da Maria Dias, participam do Conselho Mirim na Câmara Municipal dos vereadores. “Mensalmente vamos nas reuniões onde as crianças discutem melhorias para a nossa cidade”, descreve Manu.

O Conselho Mirim ocupa de modo permanente o gabinete do vereador Celso Giannazi na Câmara Municipal de São Paulo e participa da elaboração de projetos de leis e de ações de intervenção na cidade, partindo sempre das problematizações e do modo de ver e sentir o mundo das crianças.

“Eu participo das organizações dos eventos, eu vou nos eventos, brinco e represento todas as crianças que não falam. Eu ajudo a dar ideias de animadores e participo de tudo!”

“Eu acho que todas as crianças deveriam participar e dar suas ideias para melhorar a nossa cidade”, defende.

“Sempre que nos reunimos para discutirmos algum evento ou assunto do projeto a Manu participa e ela adora dar sugestões principalmente nos eventos! Ela sempre fala quais atividades e brincadeiras devemos ter nos encontros. Para nós não existe nada melhor do que ver os nossos filhos brincando e se divertindo junto com as outras crianças”, explica Juliana Trigo.

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Arquivo LIA

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Arquivo LIA

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Arquivo LIA

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Arquivo LIA

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Arquivo LIA

O Projeto LIA está em 12 estados e 41 cidades no Brasil; 18 cidades já inauguraram parques adaptados; 19 cidades já aprovaram um projeto de lei. Há também uma rede com 40 mil apoiadores e 32 líderes regionais.

Representatividade

Manu Trigo também é atriz na série de ficção “Aruanas”, produzida pela TV Globo e pela Maria Farinha Filmes. É a primeira vez na história da televisão brasileira que uma atriz com paralisia cerebral tem papel de destaque numa produção desse porte. Ela interpreta a personagem Gabi, neta de Miguel, interpretado pelo ator Luiz Carlos Vasconcelos.

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