Poemas acompanham o percurso de tornar-se mãe

“Ter filho é um ato revolucionário”, escreve Luisa Benevides. Junto desses versos, ela compartilha os sentimentos que a visitaram durante a gestação de Tito

Laís Barros Martins Publicado em 05.10.2020
Imagem de uma mulher grávida lendo um livro sentada no tapete. Ao seu lado, um celular, frutas e café.
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Resumo

Reflexões e sentimentos que atravessam uma mãe ao conceber seu primogênito são compartilhados em versos e nos dão a chance de acessar essa experiência tão particular.

A relação mãe-filho é tão particular que seria difícil acessar a experiência de outra dupla não fosse através da literatura. Com cada palavra permeando honestidade, Luisa Benevides compartilha poemas sobre a maternidade, escritos durante a gravidez de seu primeiro filho até o puerpério.

Ao oferecer ao leitor a oportunidade de adentrar esse universo tão íntimo da maternidade, fica-se com a sensação de que se sabe mais sobre as emoções que habitam uma mãe em formação. “Azul de um minuto: poemas entre mãe e filho” é um percurso dessa massa única da gestação de um corpo no corpo que vai aos poucos se separando para encontrar outras formas de conexão.

“Talvez os primeiros meses da maternidade sejam isso: o único parênteses da vida em que se sonha junto”

A maternidade em poemas

A partir desse forte estado de fusão entre mãe e filho e para além da angústia das primeiras separações, esses poemas são como “um álbum de retratos ou aqueles livros que registram os primeiros momentos do bebê”, define Luisa.

Capa do livro "Azul de um minuto - poemas entre mãe e filho"
Sobre o livro

“Azul de um minuto: poemas entre mãe e filho” é uma obra artesanal, costurada à mão, lançada de maneira independente em 2019, com três versões de cores para a capa.

“Mãe é ser saudade”

Embora haja “o desejo contraditório de querer que o filho cresça e ao mesmo tempo continue para sempre desse tamanhinho”, brinca Luisa, a experiência de ser mãe segue num movimento constante, com particularidades a cada fase. “O nascimento de Tito me ensinou que a única coisa definitiva da maternidade é justamente seu estado transitório”, reflete.

Do parto, depois de “ser cavada inteira por dentro […] até não sobrar nenhum pensamento / quase nada de você / só / ação / lágrimas / e sono”, à identificação com o bebê “então eram esses pés que me chutavam / esse olhar que me enjoava / essa barriga que me espremia por dentro / então sua boca copiava a minha / sua testa imitava o pai / seu jeito ensaiava você” até a vivência do puerpério, “um grande vazio / com um fiapo pendurado / na ponta do fiapo / tem um bebê a me puxar”.

Dois poemas sobre maternidade de “Azul de um minuto”

  • paradoxo
    ele me esgota
    ele me renova
  • lugar de mãe
    entre o certo
    o incerto
    e o acerto

Enquanto trata da nova vida, que trouxe ao mundo “para que visse as árvores”, escreve, outras questões atravessam as páginas desse livro delicado e potente. Então, a poeta nos conta também sobre o luto da posição de filha, a privação de sono, a sexualidade e o feminismo.

“O mundo foi feito pros homens / embora tenha saído das mulheres”

Outras coisinhas mais

Além de mãe, Luisa tem formações em psicologia, filosofia, letras. As teorias sobre maternidade e sobre infância, conta ela, foram experimentadas de um outro jeito durante a escrita desse projeto: “Elas iam atravessando meu corpo, não numa compreensão racional mas antes corporal, como se elas finalmente fizessem sentido. Ia então ressignificando e transformando-as em poemas”.

Depois de publicadas essas palavras, veio o encontro com outras mulheres. A autora confidencia ter enfrentado “um misto de timidez e perplexidade ao ver que aquilo que era meu avesso estivesse se transformando no avesso delas também, porque há essa identificação com os poemas, como se tivessem sido escritos por ou para elas”. Ainda hoje Luisa se surpreende com esses relatos, conta, pois “os poemas foram escritos inicialmente a partir de algo tão íntimo e tão ‘meu’!”

“A potência da literatura de tornar universal as nossas mais profundas intimidades, de tornar comum os nossos maiores avessos”

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