O legado da COP30 vai além das políticas climáticas e da participação das crianças, permanecendo em livros infantis para despertar o cuidado com a natureza
A COP teve grande participação de crianças e adolescentes e também teve espaço para o lançamento de livros infantis. Autores como Heloisa Schurmann, Gilberto Gil e movimentos sociais para a proteção da natureza deixaram mensagens importantes contra a crise climática.
Em tempos de crise climática, ensinar as crianças e os adolescentes a cuidarem da floresta e dos animais é como um curso de sobrevivência. Além de aprenderem na prática, a conversa pode iniciar a partir de livros infantis que contam mais sobre a natureza.
Durante a COP30, em Belém (PA), marcada pela maior participação infantojuvenil da história, ativistas socioambientais e artistas deixaram mensagens às crianças em novos livros infantis. Entre os autores, o cantor Gilberto Gil defende “reconstruir o que a natureza perdeu”. Já a velejadora e escritora Heloisa Schurmann apresenta personagens marinhos para proteger os oceanos. Além disso, os ativistas dos movimentos Somos do Mar e Mães pelo Clima contam soluções para a proteção do mar e da qualidade do ar.
Para todos, há uma lição maior: cuidar da natureza é urgente e pode ser incrível. Portanto, se cada vez mais crianças e adolescentes ocuparem os espaços de discussões globais como a COP, o legado pode ir além de livros.
Inspirado no pedido do fotógrafo Sebastião Salgado, que provocou Gil a compor a canção “Refloresta”, pois já tinha “Refazenda”, “Refavela” e “Realce”, o cantor transformou os versos da música em poesia para as crianças. Na COP30, ele lançou o livro em parceria com o ilustrador Daniel Kondo (prêmio Jabuti 2022), junto a um pedido de fazer mais pela natureza. O livro tem uma narrativa visual que convoca à ação: não basta só entender o que está acontecendo, mas agir.
A história narra a aventura de Marina, uma criatura meio peixe meio sereia, e Robertino, um oceanógrafo. Juntos, eles enfrentam desafios climáticos causados pela poluição do mar. Os autores da narrativa e das ilustrações levam à frente o projeto itinerante Somos do Mar, que percorre a costa brasileira com arte e educação ambiental às crianças. Este é o segundo livro do projeto e continua as aventuras dos personagens com soluções baseadas em ciência e conhecimento tradicional para a proteção das águas.
A escritora e matriarca da família Schurmann esteve na COP30 com seu projeto Voz dos Oceanos, de combate à poluição plástica. Lá, Heloisa lançou dois livros da série “Kat e a voz dos oceanos”, com ilustrações de Marco Lorini. As histórias misturam aventura e consciência ecológica guiadas pela protagonista Kat e seu veleiro mágico Ygara. Em “Kat, a guardiã dos oceanos” e “Kat contra o pirata Poluix”, a protagonista e sua turma aprendem sobre coragem e cuidado com os mares. A leitura inspira quem acredita que as pequenas atitudes podem transformar o mundo.
Após as enchentes do Rio Grande do Sul, a fundadora do Movimento Mães pelo Clima, Clarissa Canova, contou com a ajuda de uma rede de mães ativistas para mudar de cidade junto com o filho Francesco. Foi assim, sentindo diretamente os efeitos da crise climática que ela tomou inspiração para escrever uma história de regeneração sob o ponto de vista de um menino. Com ilustrações de Karin Feller, o livro ajuda ao mesmo tempo crianças e famílias a praticarem ações climáticas na rotina para se tornarem guardiãs da natureza. A proposta, apoiada pela Our Kid’s Climate, é distribuir a primeira edição gratuitamente em eventos de proteção ambiental e escolas.
O que mais a COP30 deixou para as crianças?
Para os especialistas, os acordos finais da COP30 não cumpriram pedidos fundamentais, como por exemplo, o fim dos combustíveis fósseis. No entanto, a presença expressiva das comunidades tradicionais e das crianças entrou para a história. O saldo foi de 19 menções diretas à infância, deixando claro que as decisões climáticas precisam priorizar o cuidado de todas as crianças e adolescentes, pois eles representam um terço da população mundial. Conforme JP Amaral, gerente de natureza do Instituto Alana, após as mobilizações das MiniCOPs pelo Brasil e da COP das Crianças, o foco agora é “garantir que esse legado chegue às próximas conferências, desde a participação nos territórios até as decisões das negociações”.