Como falar sobre abuso sexual com os pequenos de um jeito simples e natural? A literatura pode ajudar. Conheça o premiado livro "Não me toca, seu boboca"
"Ritoca tem uma história para contar, meio difícil de entender, muito difícil de falar", diz o livro. Afinal, precisamos falar sobre abuso sexual na infância. Conheça o livro "Não me toca, seu boboca", publicado em 2017 pela editora Aletria.
Conversar sobre violência sexual com as crianças não é tarefa das mais fáceis. Para muita gente, a própria educação recebida perpetua um tabu sobre qualquer conversa relacionada ao corpo e à intimidade. Porém, a pauta é urgente quando consideramos os índices de abuso sexual infantil: a maioria dos casos acontece dentro de casa.
Nesse sentido, a leveza dos livros infantis é bem-vinda. Por meio da experiência dos personagens, a criança aprende a nomear a própria vivência, e passa a conseguir identificar quais são os limites do seu próprio corpo.
Recém-lançado pela editora Aletria, de Belo Horizonte, o livro “Não me toca, seu boboca”, escrito por Andrea Taubman e ilustrado por Thais Linhares, usa uma linguagem simples própria da criança para narrar e história uma situação de violência sexual. O livro ganhou o Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes. O Prêmio é uma iniciativa do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.
Com personagens do mundo animal, a história se desenrola com a percepção de um toque indesejado de alguém da família da protagonista. Lúdico sem perder a seriedade, o livro empodera os pequenos a se defender se forem vítimas de algum gesto, palavra ou comportamento que a deixarem desconfortáveis.
“Ritoca tem uma história para contar, meio difícil de entender, muito difícil de falar. O encontro com um tio gentil e sorridente acaba se tornando um pesadelo, do qual Ritoca e seus amigos, felizmente, conseguem escapar. “Se for de um jeito suspeito, ninguém deve tocar na gente!”, ela logo reconhece. De maneira lúdica, o livro Não me toca, seu boboca! mostra a todas as crianças o que é a situação de violência sexual e o que fazer para evitá-la. Uma forma de oferecer segurança e informação às crianças sem perder o encantamento próprio da literatura”.
“A maioria das crianças abusadas sexualmente conhecia previamente seus abusadores. Eles eram amigos da família, pais, avôs”
O texto da orelha do livro foi escrito por Rita Lisauskas, do blog Ser mãe é padecer na internet, e não poupa as palavras mais diretas e necessárias para alertar os pais e educadores sobre o perigo mais eminente quando falamos de violência sexual na infância: a proximidade do abusador.
“A maioria das crianças abusadas sexualmente conhecia previamente seus abusadores. Eles eram amigos da família, pais, avôs. Gente que frequentava o mesmo ambiente, tinha a confiança dos pais e, claro, das crianças. E por isso se aproveitou da intimidade com a família e da inocência dos pequenos para violentá-los sexualmente”.
O livro mediado durante a leitura em casa ou no ambiente escolar, para ajudar educadores a aproximar os pequenos da reflexão sobre o assunto. Para saber mais sobre o livro e como adquiri-lo, acesse o site da Aletria.
Para ter um gostinho do livro, assista ao vídeo da contadora de histórias Fafá Conta:
Comunicar erro
Um relatório da Childhood sobre violência sexual na infância publicado em setembro de 2016 revela que, entre 2012 e 2015, foram registrados mais de 157 mil casos de violência sexual (que engloba tanto a exploração quanto o abuso) de crianças e adolescentes. Isso significa que, a cada uma hora, há pelo menos 4 casos de uma criança ou adolescente sexualmente violentada no Brasil.