‘Meu Pequenino’: maternidade e ciclo da vida em livro atemporal

Do nascimento até o fim da vida, o livro de Germano Zullo e Albertine celebra a maternidade e os ciclos da vida a partir da relação entre uma mãe e um filho

Renata Penzani Publicado em 09.05.2019 Atualizado em 31.08.2022
Ilustração de uma mulher com uma criança no colo, em outra ela esta abraçada, e em outra está dançando
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Resumo

Do nascimento até o fim da vida, o recém lançado livro "Meu pequenino" celebra o tempo da maternidade e dos ciclos da vida a partir da relação entre uma mãe e um filho. Temas como vínculos afetivos, finitude e o ciclo da vida aparecem aqui de forma cuidadosa e honesta.

“Aqui está você. Enfim”. Assim começa, sem necessariamente mostrar a que veio, o livro “Meu Pequenino”, que acaba de chegar ao Brasil pela editora Amelì. Uma celebração quase silenciosa da maternidade, a história ultrapassa os laços construídos entre mãe e filho para deixar um recado sutil sobre o ciclo da vida: vamos todos, inevitavelmente, passar pela vida uns dos outros. Morte, luto, afeto, família e solidão são todos temas deste livro atemporal que pode encantar crianças de todas as idades, de zero a cem anos.

A edição brasileira é uma versão do original “Mon Tout Petit“, publicado na Suíça em 2015. O texto é do escritor Germano Zullo, com ilustrações da artista plástica Albertine. A premiada dupla é conhecida por seus trabalhos conjuntos, cuja marca registrada ficou sendo a delicadeza do trato com assuntos complexos, como em “Os pássaros“, publicado pela editora 34. A obra venceu o prêmio Bologna Ragazzi Award, em 2016, uma das mais prestigiadas distinções da literatura infantil.

A narrativa de “Meu Pequenino”

O enredo é bastante simples na aparência, e conta com poucas palavras. Uma mulher aparece sozinha na primeira página. Na próxima, suas mãos já ganham o formato específico de um colo, mas ainda não há bebê para o leitor ver. Em seguida, já é possível vê-lo, pequenino, sendo acolhido pela mulher que – agora não resta dúvidas ao leitor – é mãe. Assim a história se desenrola, em um ritmo crescente que acompanha a passagem do tempo naquela relação, até que os papéis trocam de lugar, e o menino antes pequenino dá lugar a um homem formado diante de uma mãe que vai diminuindo de tamanho, até culminar em um desfecho que é ao mesmo tempo cru e poético, surpreendendo quem lê por sua força de realidade.

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Divulgação/Amelì

Mãe e filho parecem dançar nessa narrativa visual sobre vínculos afetivos e passagem do tempo

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Divulgação/Amelì

Mãe e filho parecem dançar nessa narrativa visual sobre vínculos afetivos e passagem do tempo

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Divulgação/Amelì

Mãe e filho parecem dançar nessa narrativa visual sobre vínculos afetivos e passagem do tempo

No livro, literatura escrita e desenhada caminham lado a lado para ampliar o sentido daquilo que se conta. Conforme contam os autores em uma entrevista publicada no Picturebook Makers, a narrativa visual do livro evoca a dança da vida, desde o nascimento até a morte, ilustrando a complexidade do amor.

“A mãe tem um monólogo em que ela expressa seu amor por seu filho. Ela quer contar tudo a ele, ensinar tudo a ele. Mas, embora esse impulso seja irresistível, a quantidade de energia e tempo necessários para transmitir todo esse conhecimento é insuficiente. A mãe desaparece e apenas suas intenções parecem ter sido legadas a seu filho. Este último, quando se torna homem, parece ter adquirido um imenso conhecimento. Ele exibe uma maturidade sábia que ele está pronto, por sua vez, para transmitir”, afirma Albertine.

Uma obra sensível

“Meu pequenino” é mais do que livro que celebra a relação entre e mãe e filho, mas sim uma homenagem singela a condição de finitude do ser humano diante das fases inevitáveis da vida. Conforme sugere o título, o livro trabalha também uma dimensão facilmente reconhecível do amor materno, que é o de sempre enxergar os filhos como pequenos, independentemente do tempo cronológico.

Classificada nas prateleiras como literatura para crianças, a obra não escolhe faixa etária, mas provoca a sensibilidade de quem estiver disposto a se deixar afetar por uma versão universal e poética do ciclo da vida. Cabe ao leitor, criança ou adulto, amarrar a história recebida às suas próprias vivências. Sendo filho ou sendo mãe de alguém, é provável que quem lê se identifique com o livro, e queira voltar ao início para experimentar as sensações agora na pele do personagem que o representa. Como disse Albertine: “As coisas simples são muitas vezes as mais difíceis de alcançar, e por muito tempo eu procurei os meios mais justos de expressar.”

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