Infâncias plurais: vídeos para crianças sobre o tema infância

Publicado em: 23.09.2021
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Infância como tema

O universo infantil é tema fértil. Nas produções audiovisuais a seguir, ele é explorado das mais diferentes formas – a infância como disparadora de histórias que fazem referência ao mundo do videogame, às questões LGBTQIA+, à relação entre pais e filhos, entre outros assuntos.

Abaixo você encontrará uma coletânea com 8 vídeos sobre a temática para ver quantas vezes quiser. Divirta-se! Para mais informações sobre o projeto Infâncias Plurais, visite: www.lunetas.com.br/infâncias-plurais.

Infâncias plurais :: Infância como tema

¼ e o mundo

Sheila de Arruda Coelho - São Paulo/SP

A lua sobe, a gente vai para o quarto, deita na cama, ajeita a coberta e começa o fenômeno. O mar, o mundo, o almoço, a escola, o novo coronavírus, aquele dia em que os primos brincaram juntos numa piscininha no quintal. Inspirada no seu quarto de infância e nas fotos antigas de sua família, Sheila de Arruda Coelho recriou de maneira leve e poética o turbilhão de imagens e memórias que passam pela nossa cabeça antes de dormir.

¼ e o mundo foi feito com a técnica de stop-motion, buscando revelar no vídeo o seu próprio processo de criação. O  movimento de imagens  conta uma história e mostra como ela é contada. Com isso, Sheila quis que os espectadores soubessem que é trabalhoso, mas que todo mundo pode fazer um vídeo.

Sempre ligada, de alguma forma, ao tema da infância,ela começou a fazer teatro aos 12 anos e nunca deixou de trabalhar em peças e performances com e para crianças. “Acredito que é meu dever, como artista e cidadã, pensar no futuro e em quem fará parte dele.”

O que a motivou a participar do Infâncias plurais foi a possibilidade de troca com pessoas tão diversas e de trabalhar com a linguagem do audiovisual tendo o apoio e o retorno de especialistas na área. Em suas palavras, o objetivo era “me aventurar e aprender”.

Com ¼ e o mundo, Sheila espera incentivar os espectadores a se entregarem às suas reflexões e aos seus sonhos, descobrindo que “a imaginação é o que cria nosso tamanho no mundo”.

https://bit.ly/infancias-plurais-infancia-como-tema-um-quarto-e-o-mundo

Dois pais

Tauã Barbosa Delmiro Silva - Rio de Janeiro/RJ

Dois pais conta a história do encontro entre Márcio, Lucas e um garoto que viria a ser o filho do casal, abordando de forma leve e poética temas como adoção e vivências LGBTQIA+.

Tauã Barbosa Delmiro Silva, autor e protagonista do vídeo, começou a se interessar pelas artes cedo, com aulas de dança e teatro antes dos 10 anos de idade. Na maioria dos espetáculos de que participava, no entanto, ele não se via representado, pois as histórias contadas não dialogavam com as suas experiências pessoais. Esses sentimentos de inadequação e insatisfação o acompanharam até a licenciatura em teatro, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), quando conseguiu racionalizar seu incômodo e começar a produzir espetáculos que contemplassem temas caros a ele e pouco abordados, sobretudo na dramaturgia infantojuvenil.

Com as filmagens acontecendo dentro de sua própria casa, uma trilha sonora desenvolvida a partir do texto e a direção acompanhando todo o processo de forma remota, os maiores desafios de Tauã foram resumir a narrativa para caber no tempo proposto para o vídeo e pensar em como os elementos do seu cotidiano poderiam compor de maneira poética uma obra audiovisual do tipo que ele gostaria de ter visto quando era criança. Nesse sentido, foi fundamental sua participação no Infâncias plurais, uma vez que pôde aprender com as experiências de pessoas de diversas áreas.

Ele espera que o resultado tenha sido uma obra que contribui para desmistificar temas relacionados ao universo LGBTQIA+ e para fortalecer a construção de narrativas plurais para crianças e jovens, promovendo a formação de um futuro muito mais afetuoso e empático.

https://bit.ly/infancias-plurais-infancia-como-tema-dois-pais

Eu não confio nas janelas laterais

Ana Beatriz Marques Penna - Juiz de Fora/MG

Uma garotinha viaja de carro no banco de trás e tenta lidar com o tédio. Ela fica intrigada com os automóveis passando: alguns parecem estar parados e outros até dando ré! Investigando o fenômeno por todas as janelas do carro, ela chega a uma difícil conclusão.

Eu não confio nas janelas laterais, produzido por Ana Beatriz Marques Penna, foi inspirado em suas próprias lembranças. “Essa deve ter sido minha primeira experiência prática com a teoria da relatividade, e me divertia muito inventando explicações para o que acontecia. Com o projeto, tentei não somente revisitar essa história, mas lembrar que as coisas são mais interessantes quando explicadas por crianças”, esclarece.

A animação mistura desenhos feitos em papel com filmagens reais. Ana conta que a ideia foi chamar a atenção para o fato de que qualquer pessoa atenta e disponível pode olhar o mundo e estranhá-lo como uma criança: “Apesar de a narrativa partir da perspectiva infantil, quem preenche de sentido seu espanto é o espectador. É, portanto, um convite a desacostumar o olhar”.

Para a artista e educadora é recorrente suas memórias de infância se tornarem inspiração para seus projetos. O contato direto com o público infantil e adolescente em escolas, museus e galerias fez com que, pouco a pouco, ela percebesse a infância como um lugar potente de investigação e significação do mundo.

https://bit.ly/infancias-plurais-infancia-como-tema-eu-nao-confio-nas-janelas-laterais

Move game

Jackeline Mourão Nunes, Kelly Queiroz dos Santos e Livia Lopes Correa - Campo Grande/MS

Em Move game, o personagem é um garoto, mas os obstáculos são próprios dos jogos de videogame. Na simulação, os jogos são ressignificados e reinventados tendo a criança como protagonista. Mesclando corpo e tecnologia, o jogador e dançarino se conecta, se encaixa, constrói e cria consciência do seu próprio corpo no espaço. É no brincar dançante que a criança explora diferentes formas de criar”, comenta Livia Lopes Correa, idealizadora do vídeo ao lado de Kelly Queiroz dos Santos e Jackeline Mourão Nunes.

A gravação do vídeo ocorreu na sala do apartamento de uma pessoa do grupo e contou com tecido e linóleo emprestados para a criação da caixa cênica totalmente preta. O jogador e dançarino, Victor, foi provocado a imaginar o jogo e pensar na movimentação do corpo no espaço para que, na edição, fosse feita a montagem de cada parte do vídeo.

Livia, Kelly e Jackeline já haviam trabalhado juntas no processo de criação de R.U.I.A – realidade ultrassônica de invasão aleatória, de 2019. O espetáculo funcionou como escola para que o trio criasse Move game, mas foi com o Infâncias plurais que elas consolidaram a ideia do novo projeto. “Durante o curso e a produção do vídeo, percebemos o quanto é necessário dialogar e compreender o tempo de aprendizagem de cada criança e como ela enxerga o mundo.”

Elas contam, sobre a participação no Infâncias plurais, que foi importante buscar mais conhecimento em relação aos fazeres como brincantes, professoras e pensantes em dança. 

https://bit.ly/infancias-plurais-infancia-como-tema-move-game

O pior filho do mundo

Pamella Doria de Souza Martins - Osasco/SP

Esquecer da reunião de pais na escola, mentir que a sobremesa já acabou, fazer hora extra todos os dias por uma semana inteira. Alguém precisa colocar um limite nisso! Em O pior filho do mundo, produção de Pamella Doria de Souza Martins, é apresentada uma inversão divertida dos papéis de pais, mães e filhos. Ou será que nem tanto?

O vídeo partiu de uma pesquisa via formulário digital realizada pela autora com crianças. Elas deveriam responder quais eram, na sua opinião, as vantagens e os desafios de ser criança e de ser adulto. Pamella construiu o roteiro a partir dessas respostas e escolheu a técnica de stop-motion para a gravação, contando com a ajuda de seu marido, e com as vozes de um casal de amigos e do filho de uma amiga. O prazo de produção e a falta de experiência com a técnica foram seus principais obstáculos a superar, diz.

Ao longo de mais de uma década trabalhando com educação, ela nota uma séria tensão entre o que está no imaginário social e a realidade de ser criança. A autora se pergunta como o público infantil vai reagir diante do filho que põe os pais de castigo, se vai se sentir representado ou incomodado. Será que muitos dos espectadores, ao serem contrariados de forma enfática pelos pais, já se viram gritando um dramático “eu tenho os piores pais do mundo!”?

Além de entreter, a intenção de Pamella é gerar uma curiosidade e um debate sobre as relações intergeracionais entre adultos e crianças e sobre a diversidade de formas de viver e de conceber a infância, questões que também a guiam em sua profissão. Como educadora, seu objetivo é a construção de um espaço de pluralidade, que acolha a todos e que não admita retrocessos: “Pelas crianças, precisamos continuar avançando”.

Foi nesse intuito que se deu sua participação no Infâncias plurais. Segundo ela, o projeto veio como uma ferramenta de ampliação de sua leitura de mundo que vai reverberar na sua prática pedagógica e na vida das crianças que passam por sua vida.

https://bit.ly/infancias-plurais-infancia-como-tema-o-pior-filho-do-mundo

Saci pensador

Elaine Buzato Leme - Sorocaba/SP

Saci pensador mostra fragmentos de pensamentos e memórias de um saci que habita um museu de arte. Elaine Buzato Leme, idealizadora da produção, conta que é uma brincadeira poética: “Há um tempo, eu tinha feito uma escultura em cerâmica que era um saci na mesma posição da escultura O pensador, de Rodin. No que ele estaria pensando? Teria saudades de sua infância? Teria sonhos esquecidos? Que lembranças ou desejos fariam seu coração voltar a bater?”.

Ela escolheu esse tema porque acha importante e necessário olharmos para a criança que existe em nós, adultos, para ter mais habilidade e sensibilidade para escutar as crianças de hoje.

Todos os bonecos do curta-metragem foram feitos artesanalmente, de barro e massinha de biscuit. Já os cenários foram construídos principalmente com papelão e tecidos variados. Depois, chegou a hora de gravar: tudo feito com o celular e editado com aplicativos. A trilha sonora foi composta especialmente para o vídeo; o som da viola caipira guia e compõe a narrativa.

O tema da infância entrou na vida de Elaine quando cursava o magistério: “Eu me encontrei com o estudo e o universo da infância e senti que seria o meu caminho. Sempre sonhei em mudar o mundo, diziam que isso era coisa da juventude, mas é esse sonho que me move até hoje. E acredito que é pela arte e pela educação que essa mudança acontece”, explica. Formada em design, foi no teatro que encontrou seu lugar e fundou, em 2001, com seu parceiro Valter Silva, a Cia. Tempo de Brincar, que desenvolve trabalhos de pesquisa e criação dedicados às infâncias e às culturas populares.

https://bit.ly/infancias-plurais-infancia-como-tema-saci-pensador

Tererê & Pipoca em: proibido jogar bola na praça

Flávio Henrique Ferreira e João Gabriel Rabello Silva - Santos Dumont/MG

A bola de futebol furou. E agora? Errou aquele que pensou que acabaria a diversão de Pipoca e Tererê! Num jogo eletrizante, os palhaços revelam com muito humor e fantasia a importância do brincar. Tererê & Pipoca em: proibido jogar bola na praça, criado pela dupla Flávio Henrique Ferreira e João Gabriel Rabello Silva, tem inspiração em um acontecimento real.

João conta que na cidade de Santos Dumont, interior de Minas Gerais, onde ele Flávio moram, um pastor realizou muitas benfeitorias numa praça e por isso não permitia mais que as crianças jogassem bola no centro dela.

Motivada pelo fato, a dupla criou a esquete da qual participam como palhaços Flávio e seu filho Henrique, de 11 anos. “Levamos os dois para o centro da praça para jogarem uma partida de tênis sem bola, como um gesto silencioso pelo direito das crianças de ocuparem os espaços públicos livremente”, conta João. “É importante celebrarmos o direito de brincar, de fantasiar, seja no sentido mais palpável, de vestir a roupa e o nariz palhaço, seja no sentido mais abstrato, de fantasiar a vida.”

Os parceiros, apesar de trabalharem em períodos diferentes, arranjaram um tempinho para se encontrar e gravar na praça. Foram, ao todo, 3 horas dedicadas ao vídeo e à arte do cinema e da palhaçaria. João, que é cineasta e apaixonado pelo cinema feito antigamente, revela: “Uma das percepções mais felizes que tive foi o cinema silencioso em seu potencial inclusivo; as histórias que se contam só por gestos e ações alcançam infâncias mais plurais”.

https://bit.ly/infancias-plurais-infancia-como-tema-terere-e-pipoca

Zaíta figurinha-flor

Sueliton Edson Martins - São Paulo/SP

Zaíta tem uma figurinha de estimação e a guarda com muito cuidado. Ao perceber que a figurinha-flor sumiu, aproveita a distração da sua mãe e, sozinha, vai para a rua à procura. Enquanto Zaíta corre perigo, Naíta, sua irmã, tenta encontrá-la na favela.

Inspirado no conto “Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos”, de Conceição Evaristo, e no livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, Zaíta figurinha-flor foi realizado com a técnica de stop-motion e seus cenários foram feitos apenas com papelão, para transmitir a ideia da precariedade a que estão sujeitas crianças negras e periféricas abandonadas pelo Estado.

Sueliton Edson Martins, autor do vídeo, conta que o trabalho foi motivado também por sua indignação com o número de crianças vítimas de balas perdidas todos os anos no Brasil. As personagens – três bonecas negras feitas artesanalmente – estão num contexto de violência, escassez, instabilidade e negligência que aponta para a realidade de muitas crianças neste país, privadas do seu direito à infância.

Seu maior desafio foi construir uma narrativa sem usar palavras, apenas sons. A participação na jornada Infâncias plurais foi uma oportunidade de se aprofundar no tema da infância e também de explorar linguagens para a realização de um trabalho voltado para as crianças, diz. Ooutras experiências de Sueliton  envolvem a mediação cultural e a produção de cenários, figurinos e bonecos para peças de teatro infantis.